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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Mordido por Sheik, ex-zagueiro Caruzzo hoje tenta reerguer time do papa

Emerson Sheik morde a mão do zagueiro Matías Caruzzo, do Boca - Reprodução TV
Emerson Sheik morde a mão do zagueiro Matías Caruzzo, do Boca Imagem: Reprodução TV

Colunista do UOL

04/07/2022 12h01

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O lance que poderia desatar uma batalha campal, quem diria, deu origem a uma amizade entre o atacante Emerson Sheik e o zagueiro argentino Matías Caruzzo.

Na final da Libertadores 2012, entre Corinthians e Boca, ambos viviam disputa desigual.

Sheik havia feito os dois gols do título corintiano. Ele e Caruzzo trocavam ofensas, ironias, pontapés e cusparadas desde o minuto zero na Bombonera.

No Pacaembu, fim de jogo, 2 a 0 Corinthians, Caruzzo colocou a mão na sua boca —e Sheik revidou com uma violenta mordida.

Ficou por isso mesmo. Muito por conta do temperamento tranquilo do então zagueiro, que hoje tem um cargo pesado no futebol argentino. Ele é o coordenador de futebol do San Lorenzo, onde jogou entre 2015 e 2018.

Aposentado como atleta desde 2019, quando jogava no Rosario Central, Caruzzo está com 37 anos e foi chamado pelo time que tem o papa Francisco como torcedor para fazer uma reestruturação na equipe que hoje amarga campanhas complicadas na Argentina.

No atual campeonato, por exemplo, o San Lorenzo depois de seis rodadas ocupa apenas a 14ª colocação de um total de 28 times.

O ex-zagueiro desempenha, no San Lorenzo, a função que Juan Román Riquelme desenvolve no Boca: define o elenco e serve de nexo entre o treinador e a presidência da instituição.

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Ex-zagueiro Matías Caruzzo hoje é coordenador de futebol do San Lorenzo
Imagem: Divulgação CASLA

Mordida e amizade

Nem Caruzzo nem qualquer outro jogador do Boca acertou as contas com Emerson por conta da violenta mordida de dez anos atrás.

O blog "Patadas y Gambetas", do UOL Esporte, em 2016 ouviu Caruzzo sobre aquele 4 de julho.

''É claro que eu queria matar o Emerson'', disse, tranquilo e com leve ironia. ''Mas não fazia sentido reagir. Eu iria me arrepender para sempre. Poderia sair um gol, o Boca buscar empate, e eu ser expulso e deixar o time com dez. Precisava me controlar e não dar vantagens.''

''O futebol é jogado com o pé e com a mente. O Emerson foi muito bem.''

''Ele me mordeu forte feito um cachorro'', riu. ''A marca da mordida ficou. Normal, não sou criança para ficar chorando, o futebol argentino é ríspido, isso não era nada. Quando terminou o jogo, o Emerson olhava para o Erviti e fazia sinal para conversar e pedir desculpas. Eu aceitei, claro, lhe dei os parabéns, eles ganharam bem, assim é o futebol, foi um bom gesto dele. Estava na sua noite de glória, ele poderia ter outra atitude menos simpática'', seguiu Caruzzo.

Caruzzo e Emerson voltaram a se encontrar no ano seguinte, em um novo Boca x Corinthians, desta vez válido pelas oitavas de final da Libertadores de 2013.

''Conversamos tranquilo, desta vez ele não me cuspiu'', falou Sheik na ocasião. ''Combinamos de tentar passar uma boa imagem a quem estava vendo a partida. Vingança pelo placar? Nada a ver, cada jogo é um'', recordou Caruzzo.

Ele e Sheik mantiveram o tom amistoso na Libertadores de 2015, quando Corinthians e San Lorenzo se enfrentaram na fase de grupos em São Paulo.

''O Caruzzo me tratou bem, conversamos na saída de campo e na entrada do túnel, nos lembramos das coisas de 2012 e falamos do respeito que cada um tem pelo outro. Ele me surpreendeu pelo carinho'', disse Sheik.

Em vez de agressões, ambos trocaram afagos. Emerson postou em seu Instagram uma foto destacando a nova fase com Caruzzo e pedindo tolerância.

O argentino ponderou: ''Se a gente olhar a dificuldade do futebol, e ver como é complicado chegar a uma final de Libertadores, logo vai perceber que tem muito mais para agradecer que para lamentar. Hoje, posso dizer que tenho o Emerson como um amigo, ele não é um estranho no mundo para mim. A vida vai muito além dos pontapés, das mordidas ou dos campeonatos. Eu e o Emerson vivemos juntos uma experiência muito forte, importante considerar sempre isso'', concluiu.

A libertação corintiana

Dez anos depois do primeiro título do Corinthians na Copa Libertadores, o UOL lança "A libertação corintiana", um documentário que reúne as histórias nunca contadas daquela partida. Produzido por MOV, a produtora audiovisual do UOL, o filme está disponível para assinantes do UOL Play.