Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Como a Bombonera reagiu a mais um pênalti perdido por Benedetto
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Parecia cena de filme. Daqueles bem tragicômicos, de Ricardo Darín, Diego Peretti ou Guillermo Francella —três dos atores argentinos mais conhecidos no Brasil. O Boca Juniors recebia o Talleres na Bombonera cheia no sábado (16) à noite, e logo aos 6 minutos do primeiro tempo, pênalti para o Boca.
E justamente no gol em frente à "Doce", como é chamada a mais violenta torcida organizada do clube.
Darío Benedetto, que vinha das já históricas falhas diante do Corinthians na Libertadores, chamou a responsabilidade para si e bateu outra vez. E voltou a errar, desta vez chutando no travessão e murchando a euforia da torcida que, vale ressaltar, empurrou o time os 90 minutos e deu um verdadeiro espetáculo mesmo com a sensação térmica de sete graus.
O curioso é que Benedetto foi um dos mais aplaudidos quando entrou em campo, não restando entre os fanáticos nenhum resquício da sua rixa com Juan Román Riquelme, vice-presidente de futebol do Boca, pelas premiações antes da derrota para o Corinthians.
Apesar de não haver xingamentos ou vaias, a Bombonera rapidamente mudou de clima com o terceiro pênalti seguido perdido por Benedetto —que, além do coração do torcedor, precisa prestar contas à diretoria, pois é dele o maior salário do elenco, recebendo cerca de R$ 1 milhão por mês (numa análise mais direta ele é pago, afinal, para fazer gols).
A sensação de "chega, já deu" predominou nas arquibancadas no primeiro tempo, encerrado com o 0 a 0.
Na segunda metade, a torcida voltou a empurrar com ainda mais entusiasmo, e o Boca chegou ao gol da vitória —extrema ironia, em um novo pênalti, desta vez convertido pelo zagueiro Marcos Rojo.
Benedetto vinha sentindo muitas dores por conta de um pisão no tornozelo, e deixou o colega livre para executar sua cobrança.
O gol saiu aos 35 minutos do segundo tempo. Daí para o fim, a Bombonera explodiu e comemorou mais que a vitória em si —e também a sensação de que algo muito ruim ficou para trás.
'Famosos como a carne argentina'
A empolgação da torcida chamou a atenção em todas as coberturas da partida. A coluna conversou com dois fanáticos pelo Boca que estiveram na Bombonera no sábado à noite.
"É claro que ninguém gosta de ver seu artilheiro falhar tanto assim, mas queremos mostrar para as outras torcidas que somos mais fieis e mais fanáticos que todos", resumiu o vendedor Bryan Solari, de 45 anos, sócio do Boca desde que nasceu, e frequentador da Bombonera desde 1992.
"A Argentina é conhecida mundialmente pelo sabor da sua carne e pela paixão da torcida do Boca. Muitos querem nos imitar, mas ninguém pode nos copiar. É amor verdadeiro."
Eugenia Laso, arquiteta de 37 anos, moradora do próprio bairro de La Boca, aproveitou a noite de fervor na Bombonera para provocar a torcida do River:
"Por muito menos [que os erros do Benedetto], eles [do River] atiraram fraldas nos jogadores".
"Somos torcedores do clube mais popular da Argentina, somos a metade do país, e isso incomoda muita gente. O que importa é que hoje sacamos la mufa [gíria argentina equivalente a 'tirar a zica'] e mostramos que nosso apoio faz escola no mundo todo."
Benedetto foi substituído por conta do pisão no tornozelo, sendo muito aplaudido ao deixar o gramado.
Importante ressaltar: antes destes três erros, ele havia acertado 13 dos 14 pênaltis batidos com a camisa do Boca.
Um tal Maradona
As falhas seguidas de Benedetto na Argentina geraram comentários e comparações com um tal Diego Armando Maradona.
Primeiro, o comentário, de Diego Latorre, hoje o comentarista de futebol mais importante da TV argentina.
Meia-atacante do Boca nos anos 1980 e 1990, ele citou uma ocasião em que errou um pênalti nas mesmas traves que Benedetto e pediu para não bater o segundo —assinalado na mesma partida.
"Decidi não cobrar, eu estava me sentindo mal e decidi deixar a outro companheiro que confiava mais", citou.
O segundo pênalti foi errado pelo zagueiro Matellán e também defendido pelo goleiro Castellanos. No final, houve empate por 0 a 0 entre Boca e Gimnasia de Jujuy, pelo Clausura de 1998.
A lembrança por Maradona vem de uma sequência ainda mais ampla, ocorrida em 1996.
Já com 35 anos e em fim de carreira, Diego, histórico cobrador oficial de pênaltis até da seleção, falhou nada menos que cinco seguidos, contra Newell's Old Boys, Rosario Central, Belgrano, River Plate e Racing. Todos pelo Torneio Clausura de 1996 e em intervalo de 116 dias.
A sequência foi quebrada contra o Argentinos Juniors, quando o astro converteu o seu na primeira rodada do Torneio Apertura de 1997.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.