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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Ex-técnico do SPFC doente: Patón Bauza perdeu a fala, revela auxiliar

Edgardo Bauza no hotel do São Paulo em Belo Horizonte - Thiago Fernandes/UOL Esporte
Edgardo Bauza no hotel do São Paulo em Belo Horizonte Imagem: Thiago Fernandes/UOL Esporte

Colunista do UOL

24/08/2022 07h45

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Eles foram parceiros de trabalho por 24 anos. Inclusive no São Paulo, na temporada 2016. Histórico assistente do ex-técnico Edgardo "Patón" Bauza, José di Leo quase chorou ao falar do amigo em entrevista ontem (23) ao programa Super Deportivo, da rádio argentina Villa Trinidad.

Bauza, de 64 anos, está com uma doença degenerativa e hoje apenas balbucia, segundo Di Leo. Para o ex-treinador expressar alguma coisa, é preciso "forçá-lo", o que deixa o antigo auxiliar "cheio de angústia".

"São etapas muito diferentes e duras. Houve uma etapa na qual ele ainda podia falar. Agora estamos em uma etapa em que é necessário forçá-lo a dizer alguma coisa, lembrando ou não, e ele então emite alguns sons. Quando estou com ele, eu acabo me machucando. Acabamos forçando tudo e não tem sentido. É muito difícil vê-lo e ouvi-lo assim", contou José.

Ele trouxe detalhes inéditos sobre o estado de saúde do amigo. "Já superei essa etapa na qual ele me reconhece ou não. Apenas quero que esteja tranquilo. Tudo surgiu quando parou de trabalhar. Ele começou a cair quando deixou o Rosario Central. Na parte técnica, estava intacto", seguiu, com a Rádio Villa Trinidad.

"Sempre me perguntava: fizemos tudo tão bem...por que merecemos o que temos hoje? Em janeiro ou fevereiro, vou para o Equador [onde Bauza vive]. Quero vê-lo e não importa se me reconhece ou não. Quero vê-lo como está. Todos os dias penso que isso é uma mentira, vivo com esperança de que volte a ser ele. Cada vez que falo, fico mal."

O testemunho do parceiro de Bauza é cortante. Di Leo tem 61 anos, três a menos que o amigo.

"Me dá muita pena. Lembro que Bauza dizia que ia trabalhar até os 68 anos. Ele me falava: 'o único que quero é ter uma casinha, uma piscina e uma churrasqueira para comer com os amigos'. Me dá muita angústia. Eu posso aproveitar e ele, não. Isso me faz mal, mal. Ele não sabe o que está acontecendo e vive outra realidade. Que injustiça, que pena."

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Busto em homenagem ao ex-técnico e jogador Edgardo Patón Bauza
Imagem: Divulgação Rosario Central

Histórico ex-jogador e treinador do Rosario Central, Bauza foi homenageado no último fim de semana com a inauguração de um busto seu no espaço onde o clube treina.

"Quando vi o busto do Patón, fiquei mal, porque ele não pode curtir e valorizar o que estão fazendo. Adoraria que ele estivesse, mas com seu problema ele tem que ficar tranquilo na sua casa. Foi um dia de muita angústia e tristeza. Misturaram-se muitas coisas. Fomos e somos irmãos, tudo me dói muito."

"Assim que soube da sua doença, não quis trabalhar mais. Me pegou tão forte que não queria saber mais nada, porque tudo o que fazia como técnico, pensava nele. Me custa muito não compartilhar tudo isso com ele."

"Ninguém nunca está preparado para isto. Me dói saber que conquistamos muitas coisas e que agora não podemos aproveitar juntos. Sempre falamos de nos aposentarmos juntos e viajar para ir às Copas do Mundo."

A conversa terminou com uma frase forte por parte do ex-auxiliar de Bauza.

"Preferia não ganhar nada do que ganhamos, e estarmos agora na Quarta Divisão, sem água e com necessidades, porém com ele saudável e feliz."

Bauza e Di Leo ganharam duas Libertadores, e por times que nunca conquistaram a Copa, a LDU (em 2008) e o San Lorenzo (em 2014). A dupla treinou também a seleção argentina.

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Patón Bauza e José di Leo no banco da seleção argentina
Imagem: Arquivo pessoal Di Leo

Mistério revelado

A coluna trouxe em setembro do ano passado a informação de que Bauza havia se aposentado do futebol no mais absoluto sigilo. Na época, a versão da doença degenerativa já circulava na Argentina. Seu último trabalho, no Rosario Central, terminara em fevereiro de 2019.

A passagem do argentino pelo São Paulo em 2016 durou 48 partidas. Foram 18 vitórias, 13 empates e 17 derrotas, um aproveitamento de 46,5%. Ele saiu do São Paulo para comandar a seleção de seu país em 1º de agosto daquele ano. Deixou o time na 10ª colocação no Campeonato Brasileiro, com 23 pontos em 17 rodadas, aproveitamento de 45% dos pontos.

Bauza ganhou a confiança da torcida durante a Copa Libertadores, quando levou o time do Morumbi às semifinais. No Campeonato Paulista, o São Paulo perdeu para o Audax Osasco nas quartas de final.

Na seleção argentina, durou apenas 8 jogos (3 vitórias, 2 empates e 3 derrotas), em meio ao caos em campo e fora dele com uma AFA em chamas.

Em maio, o jornal argentino "Olé" publicou que o ex-técnico tinha o diagnóstico de um Alzheimer em estágio avançado. A revelação partiu de outro amigo de longa data de Bauza, o narrador argentino Bambino Pons, que mais tarde se desculpou com a família pela indiscrição.