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Tales Torraga

REPORTAGEM

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O dia em que Sampaoli e Maradona brigaram por um motivo surreal

Jorge Sampaoli esbraveja no comando do Olympique de Marselha contra a Lazio - AFP
Jorge Sampaoli esbraveja no comando do Olympique de Marselha contra a Lazio Imagem: AFP

Colunista do UOL

03/09/2022 08h56

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Explosivos e extremamente sinceros, Diego Armando Maradona e Jorge Sampaoli jamais foram amigos. Mas eram colegas de trabalho cordais até 2016, quando houve o episódio que quebrou a relação e fez Maradona passar a chamar Sampaoli de ''traidor''.

O blog" Patadas y Gambetas", do UOL Esporte, apurou em fevereiro de 2018 que Maradona e Sampaoli estiveram perto de trabalhar juntos no Sevilla em 2016 — Jorge era técnico do time e deu o seu aval para Diego, então desempregado, ser embaixador do clube em ocasiões específicas.

Maradona não aceitou, argumentando que tinha interesse em falar de trabalho apenas se o vínculo cogitasse também uma participação na organização técnica da equipe.

Diego, em entrevista ao jornal portenho ''Diario Popular'' no começo de 2018, reforçou que o incômodo entre ele e o "Pelado Sampa", como Sampaoli é chamado em Buenos Aires até hoje, virou rompimento em novembro de 2016, quando Maradona foi à Croácia para torcer pela Argentina na decisão da Copa Davis.

Na ocasião, Maradona recebeu uma ligação de Sampaoli insistindo na proposta do Sevilla e propondo que os dois se juntassem para uma sessão de fotos porque o clube queria homenageá-lo - Diego, afinal, fez 25 jogos e 14 gols pelo Sevilla em 1992.

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Diego Armando Maradona em 2018
Imagem: Shutterstock

'Traidor'

Diego interpretou este pedido de maneira bastante diferente.

Ele entendeu que Sampaoli já estava acertado com a AFA para ser o técnico da seleção argentina - que era então comandada por "Patón" Bauza, como seria pelos seis meses seguintes -, e que o chamado de Jorge na verdade era para que os dois aparecessem juntos em fotos como uma maneira de Sampaoli começar a criar vínculos com a torcida argentina, que até então não dava muita bola para ele.

A esquizofrênica ideia de Maradona gerou o distanciamento repentino.

E, pior que isso, detonou uma guerra verbal por parte de Diego. Até uma guerra de verdade, a das Malvinas, era citada por Maradona para atacar Sampaoli, questionando seus anos à frente da seleção do Chile.

Em uma tortuosa lógica própria, os chilenos são vistos com desconfiança por parte da Argentina pela ajuda à Inglaterra no conflito de 36 anos atrás. Vem daí também a insistência de Maradona em atrelar a figura de Sampaoli a um ''traidor'', que é a maneira depreciativa que muitos portenhos usam para falar - e como falam… - dos chilenos e do respectivo papel nas Malvinas.

Sampaoli, necessário ressaltar, jamais entrou na troca de farpas.

Sempre preferiu enfatizar o que Maradona fez em campo, mas não sem antes falar também que considera Messi superior. ''Lionel é melhor que Maradona, Pelé ou qualquer outro'', costuma repetir, certamente alimentando a ira de um Diego que, mesmo em seus momentos finais, parecia precisar ser bajulado - e se autodenominar - como o maior de todos os tempos com uma bola nos pés.