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Tales Torraga

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

No estádio Mario Kempes, São Paulo vai precisar evocar espírito de Chicão

Chicão afasta Mario Kempes no Brasil x Argentina de 1978 - Reprodução web
Chicão afasta Mario Kempes no Brasil x Argentina de 1978 Imagem: Reprodução web

Colunista do UOL

01/10/2022 04h00

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Quem conhece o futebol dos anos 1970 certamente entendeu a analogia do título. Para os mais jovens, a coluna conta agora por que faria bem ao São Paulo suar a camisa hoje (1º) na final da Copa Sul-Americana, contra o Independiente de Valle, no Estádio Mario Kempes, em Córdoba (Argentina), como o seu histórico volante fazia.

Copa do Mundo de 1978, Argentina. O cruzamento das chaves do triangular da segunda fase determinou que Argentina, Brasil, Polônia e Peru decidiriam um lugar na finalíssima, com óbvio favoritismo para os azuis e brancos.

Ambos começaram bem: o Brasil fez 3 a 0 no Peru e a Argentina bateu a Polônia por 2 a 0, partida em que a estrela de Mario Kempes começou a brilhar no Mundial (os dois gols foram dele). A segunda rodada da fase semifinal colocou Argentina e Brasil frente a frente no gramado do Gigante de Arroyito, em partida que ficaria conhecida com o inevitável apelido de "Batalha de Rosário".

Disputado na gelada noite de 18 de junho de 1978, o clássico foi, de fato, um festival de pontapés —ainda que alguns de seus personagens se recordem do duelo como um típico Argentina x Brasil, e nada muito além disso. "Um jogo desses sempre vai ser pegado", diz Pato Fillol. "A partida foi muito dura, mas não aconteceu nada de anormal ou chocante."

Do outro extremo do campo, Leão viu mais ou menos a mesma coisa: "Um jogo duro entre dois grandes rivais, mas não uma batalha", resume o arqueiro do Brasil. "Comparado ao que se já se viu em outras partidas, aquilo foi um Xangri-Lá."

Só tipos duros como Fillol e Leão seriam capazes de minimizar a rispidez das divididas daquele embate. A escalação do volante Chicão pelo técnico Cláudio Coutinho costuma ser citada como um sinal mais do que evidente do que se esperava no clássico.

Um dos jogadores mais temidos de uma década marcada por um futebol muito mais bruto que o atual, o bigodudo do São Paulo era capaz de colocar até o capeta para correr. O xerife de Piracicaba grudou em Kempes e anulou o artilheiro da Copa.

Outro duelo particular foi travado por Luque e Oscar. O argentino desferiu uma cotovelada no zagueiro brasileiro quando a partida mal havia começado. Oscar retribuiu na mesma moeda e avisou: "Se der mais uma, te quebro".

Com exceção do variado cardápio de pancadas, o jogo pouco ofereceu à torcida que lotou o estádio do Rosario Central. Roberto Dinamite teve uma chance de ouro para marcar, mas parou em Fillol; Ortiz também desperdiçou bela oportunidade para os argentinos, e foi só.

O empate sem gols deixava os rivais empatados na tabela e adiava a definição da vaga na final para a rodada derradeira daquela fase. O Brasil, ainda invicto, pegaria a Polônia em Mendoza, enquanto a Argentina permaneceria em Rosário para encarar o Peru. E o general Videla não se limitaria a torcer da tribuna.

Este foi um trecho do livro "Copa Loca", que escrevi com os amigos Giancarlo Lepiani e Celso de Campos Jr. A obra narra em detalhes as participações da Argentina nos Mundiais e foi lançada no Brasil pela editora Garoa Livros.

Sobre a final de hoje, interessante ver se o São Paulo vai manter a tradição de se dar bem em decisões em jogo único (como no tri mundial contra Barcelona, Milan e Liverpool).

E também no Brasileirão de 1977, contra o Atlético-MG, estrelando...

...Chicão.