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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Entenda a briga que matou um torcedor no jogo do Boca ontem em La Plata

Confusão em jogo entre Gimnasia La Plata e Boca Juniors pelo Campeonato Argentino - ALEJANDRO PAGNI / AFP
Confusão em jogo entre Gimnasia La Plata e Boca Juniors pelo Campeonato Argentino Imagem: ALEJANDRO PAGNI / AFP

Colunista do UOL

07/10/2022 08h36Atualizada em 07/10/2022 13h42

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A Argentina está de luto. Um torcedor de 57 anos morreu ontem (6) à noite, depois do confronto com a polícia no Estádio Juan Carmelo Zerillo, em La Plata, onde o jogo entre Gimnasia y Esgrima e Boca Juniors foi suspenso.

Mergulhada no país vizinho, a coluna resume agora a triste jornada definida na Argentina como um novo "assassinato" no futebol local.

A briga

Eram 21h32 (de Brasília) no "Bosque" (como o estádio é conhecido), em La Plata, quando o árbitro Hernán Mastrángelo apitou o começo de Gimnasia x Boca, principal jogo da 23ª rodada do Campeonato Argentino.

Ambos os clubes brigavam pelo título, com cada time tendo só mais quatro jogos para o final da competição. O Boca entrava em campo na segunda colocação (atrás do Atlético Tucumán), enquanto o Gimnasia aparecia em sexto, classificado à Libertadores.

Os jogadores iniciavam a partida, e era possível ver as arquibancadas completamente lotadas no estádio com capacidade oficial de 21.500 pessoas, segundo o Gimnasia.

Até aí, nada de novo no país. O triste eram as explosões, os sons de tiros e o gás lacrimogêneo que vinham de fora.

Era uma feroz briga entre os torcedores e a polícia. De acordo com a estimativa levada ao ar na Rádio Mitre, a mais importante de Buenos Aires, cerca de três mil pessoas tentavam entrar no estádio, que já estava superlotado.

La Plata, a "cidade das diagonais", fica a 52 quilômetros de Buenos Aires.

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Jornal argentino "Olé" tratou morte como assassinato
Imagem: Reprodução

A suspensão

Logo aos 9 minutos do primeiro tempo, o jogo foi suspenso, com o 0 a 0 e total caos nas arquibancadas e nas ruas ao redor do estádio. No próprio gramado, os atletas tinham dificuldade para respirar, devido ao gás lacrimogêneo.

Muitos jogadores logo deixaram o gramado para conferir como estavam os parentes nas tribunas do estádio. Franco Soldano, atacante do Gimnasia, deu uma entrevista desesperada à ESPN por não encontrar a esposa, grávida.

A repressão violenta da polícia desatou a barbárie. "Idosos massacrados, crianças perdidas, um verdadeiro caos", descreve hoje (7) o jornal "La Nación".

"Uma cena que parecia das décadas passadas voltava a mostrar a pior face do nosso futebol."

Às 23h48, mais de duas horas depois do início da partida, o sistema de som do estádio anunciava o nome de pais e crianças perdidas que tentavam se encontrar.

Os visitantes estão proibidos nos estádios da Argentina desde 2013. Não era uma briga entre torcedores do Boca e do Gimnasia, e sim entre os fãs do Gimnasia que tentavam entrar no estádio, com o ingresso em mãos, e eram impedidos pela polícia que "em vez de controlar, se descontrolou", descreve o jornal "Crónica".

A morte

César "Lolo" Regueiro, de 57 anos, morreu na ambulância. Sofreu uma parada cardíaca enquanto era levado ao Hospital San Martín, meia hora depois da suspensão da partida, por volta das 22h30 (de Brasília).

O jornal "Clarín" de hoje traz que ele jogou futebol nas divisões de base e trabalhava em um setor da prefeitura na cidade de La Plata. Estava com uma filha, que o acompanhou na ambulância e informou a morte do pai nas redes sociais. César era torcedor do Gimnasia.

Ele estava dentro do estádio quando tentou sair, para escapar do ambiente superlotado, com portões fechados e repressão policial. Passou mal e foi atendido em meio ao caos, mas não resistiu. Estava com a filha e dois netos.

Há três internados em estado grave, informa o canal de TV TyC Sports. A emissora teve um cinegrafista ferido por uma bala de borracha que impactou seu braço.

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Cesar Regueiro, torcedor morto na Argentina no Gimnasia x Boca
Imagem: Reprodução Clarín

Os responsáveis

A Polícia da Província de Buenos Aires é apontada como a principal causadora da tragédia, sendo exigida a dar explicações.

Os dirigentes do Gimnasia também. Ontem, na transmissão da Rádio La Red, a versão que circulava é que venderam entre 2.000 e 5.000 ingressos a mais, e que quando lotou o estádio, com quase 25.000 lugares ocupados, simplesmente fecharam as portas sem se preocupar com quem estava fora.

Outros órgãos que precisam dar as explicações pela morte e pela noite de caos em La Plata são a AFA, como entidade responsável pelo futebol no país, e a Aprevide (o Ministério de Segurança de Buenos Aires).

Axel Kicillof, governador da província, Julio Garro, prefeito de La Plata, e Gabriel Pellegrino, presidente do Gimnasia, também recebem fortes críticas.

Na madrugada, ao canal de TV C5N, Pellegrino se defendeu:

"É mentira que vendemos mais entradas que o permitido. Temos a planilha de tudo, todos os documentos. A polícia fechou os portões e agiu da maneira que agiu, não demos ordem nenhuma".

"Retrocedemos 20 anos", completou ele à ESPN agora na hora do almoço. "É tudo muito pesado. O futebol, desta maneira, não faz sentido."