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Como o chute de um torcedor quase tirou Diego Maradona da Copa de 1986
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Parece mais um episódio do folclore do futebol, mas a história a seguir foi narrada pelo próprio Diego Armando Maradona na autobiografia "Yo soy el Diego de la gente", publicada em 2001.
Argentina e Venezuela abririam as Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 1986 com os favoritos jogando fora de casa, em San Cristóbal. Era a primeira competição importante de Maradona como capitão.
Maradona ainda não era considerado o melhor do mundo: trocara o Barcelona pelo Napoli em 1984 e levaria um certo tempo para fazer o nanico clube do Sul da Bota decolar.
No cenário sul-americano, entretanto, era respeitado como um craque de primeiro escalão, ao lado de Zico e do uruguaio Enzo Francescoli —o que colocava um alvo sobre suas costas nas visitas às equipes desprovidas de recursos técnicos.
"As Eliminatórias começaram na Venezuela. Fácil? Fácil o caralho, para a gente não tinha nada fácil", relembrava Diego em seu livro.
"Podia ser que o rival fosse fraco, mas daquela vez não jogaram só os onze adversários contra a gente, jogaram mais! Armaram uma confusão bárbara no aeroporto. E a coisa toda seguiu de uma maneira que um louco veio para cima de mim e me meteu um chute no joelho que nem o Gentile faria melhor."
"Me matou. Me ma-tou! Entrei mancando no hotel, com o doutor Raúl Madero correndo atrás e todo mundo assustado. O filho da puta havia arruinado o meu menisco."
A lesão originada pelo insano torcedor venezuelano acompanhou Diego durante toda a trajetória argentina nas Eliminatórias, mas aquela tinha sido apenas a primeira de muitas pancadas.
Maradona, manco e sendo presa fácil a marcadores igualmente maldosos, pouco fez naquela competição. No fim, quem brilhou foi o zagueiro Daniel Passarella, grande destaque da dramática classificação argentina para aquela Copa, no sofrido 2 a 2 contra o Peru no Monumental de Núñez lotado de gente e de tensão.
Sabendo-se hoje de tudo o que Maradona faria nos gramados do México, é surreal imaginar que um pontapé desferido num saguão de aeroporto quase deixou o astro fora das Eliminatórias —e, mais que isso, o deixou fora da própria Copa do Mundo.
Já no México...
Cerca de 30 milhões de argentinos se esgoelaram diante da TV e comemoraram os dois gols do craque contra a Inglaterra como se fossem o nascimento de um filho, uma formatura e um casamento, tudo ao mesmo tempo.
Com as memórias das Malvinas ainda vivíssimas, argentinos e ingleses se observavam desde o sorteio dos grupos. Já imaginavam que poderiam se encontrar nas quartas de final. Se em 1982 o "English Team" cogitava até sair de cena em caso de cruzamento com os argentinos, em 1986 o confronto em campo não seria evitado.
Maradona jogou no sacrifício — estava com as costas arrebentadas — e mesmo assim destruiu a Inglaterra no segundo tempo. Seu papel naquela partida é visto como a mais emblemática atuação de um jogador argentino em todos os tempos.
A começar pelo gol que inaugurou o marcador. Aos 5 minutos da etapa final, Diego saltou na dividida com o goleiro Peter Shilton e escorou com a mão esquerda, para desespero dos ingleses.
"La Mano de Dios". O gol de punho, sem dúvida, um dos lances mais famosos da história do futebol, segue sendo tão discutido quanto o segundo tento de Maradona na partida, marcado apenas quatro minutos depois. Foram 55 metros percorridos com a bola grudada ao pé esquerdo, enfileirando ingleses como soldados caídos das Malvinas.
Para os argentinos, não há o que discutir: é mesmo o "gol do século", aquele que "valeu por dois" — e compensou, portanto, o anterior, marcado com a mão, garantem eles.
O segundo título mundial da Argentina veio após as vitórias contra a Bélgica, com Maradona fazendo dois gols, e contra a Alemanha Ocidental.
Na final, bem marcado por Lothar Matthäus, o astro não balançou as redes, mas, faltando cinco minutos para o fim do jogo, deu um passe genial para Jorge Burruchaga desempatar. Resultado: 3 a 2 para os argentinos.
A polêmica com o gol de mão não foi a única de Maradona no México. A ele é atribuída até hoje uma participação direta no afastamento do zagueiro Passarella daquela seleção. Campeão mundial de 1978, Passarella insinua que foi envenenado para abrir espaço ao novo capitão —o próprio Maradona— e que tal armação sórdida contou também com a mão do técnico Carlos Bilardo.
As histórias acima fazem parte do livro "Copa Loca - As inacreditáveis histórias da Argentina nos Mundiais", lançado no Brasil em 2018 pela editora Garoa Livros.
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