Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Há dois anos, morria Maradona, o 'ausente mais presente das nossas vidas'
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"A bola só foi bola quando a chutei."
A frase descreve de corpo e alma quem foi Diego Armando Maradona Franco. Genial e pretensioso, irreverente, autodestrutivo, heroico e bufão. Hoje, 25 de novembro, faz dois anos que ele deixou o mundo mais triste, criando um vazio na história do futebol e nos corações de argentinos e fãs que tiveram o privilégio de vê-lo brilhar.
Na certeira definição do ex-atacante Jorge Valdano, seu célebre parceiro de ataque, Maradona é, e seguirá sendo por muito tempo, o "ausente mais presente na vida dos argentinos".
Basta ver toda a devoção que seus súditos lhe dedicam em pleno Mundial do Qatar, com inúmeras faixas, bandeiras e tatuagens.
O fim de Maradona foi repleto de dor e drama, como relembramos aqui no UOL neste especial publicado há exatamente dois anos.
No início daquele novembro, ele passou por uma cirurgia cerebral. Voltou para casa e, 20 dias depois, sofreu parada cardiorrespiratória.
Maradona morreu aos 60 anos na Buenos Aires onde nasceu e dançou os tangos mais tristes. Suas maiores alegrias foram vividas bem longe dali, na Itália ou no México, onde o "Diez" deixou uma inesquecível marca nas Copas do Mundo.
Longe dos gramados, sempre foi uma figura polêmica.
Foi pego no exame antidoping na Copa do Mundo de 1994, viveu parte da vida em meio ao vício em cocaína e passou por diversas clínicas de reabilitação. Nos últimos anos, o corpo cobrava as dívidas pela vida de excessos. Até que o tempo fez o que muitos defensores não conseguiram: o parou.
O que falta saber para entendê-lo
Há exatos dois anos, quando o coração de Maradona parou de bater, milhões de pessoas no mundo começaram a bater cabeça para tentar entender por que este homem tão errático foi tão reverenciado.
Como disse o uruguaio Ernesto Cherquis Bialo, um de seus biógrafos, o "planeta foi paralisado pela morte do menino da Villa Fiorito", bairro pobre de Buenos Aires onde o craque nasceu.
Diego jogou entre 1976 e 1997, e sua última Copa foi a de 1994. Só quem tem mais de 40 anos viveu seu auge com a bola nos pés.
O legado nos gramados, porém, é apenas uma parte da esfinge Maradona, como detalhamos em outro especial.
O Diego dos últimos anos, brigão e pacífico, gordo e magro, abusivo e abusado, se distanciou das glórias e deu lugar a uma rotina solitária e dolorosa.
Naquele que talvez seja seu conto mais famoso, Jorge Luis Borges, o maior escritor argentino de todos os tempos (há quem prefira Julio Cortázar), narra em "Funes, o memorioso" a história de um rapaz de vasta memória e escassa compreensão. A memória de Maradona cresce a cada instante. E ajudar a interpretá-la em dez perguntas no especial acima.
'Mataram Diego lentamente'
25 de novembro de 2020. Buenos Aires vivia a tarde "em que apagaram a luz", metáfora que une a morte de Diego Armando Maradona a uma famosa canção de Charly García, o papa do rock argentino. Depois das maiores glórias e dos mais pesados dramas, Maradona respirou pela última vez em um quarto improvisado, em uma casa alugada por temporada, às margens do idílico rio Tigre, nas cercanias da capital portenha, como contou o UOL neste chocante especial.
Acostumada a viver amores com a mesma intensidade com a qual castiga seus pecadores, a Argentina assistiu horrorizada às novidades que jogam luz sobre sua morte. A perplexidade atingiu o auge no começo de 2021 com o lançamento do documentário "La muerte de Maradona: sus últimos días".
A produção do Infobae, um dos principais portais de notícias da Argentina, revelou áudios e textos da investigação indicando que Diego era obrigado a trabalhar mesmo sem condições. Seu "entorno" só se preocuparia com o saldo bancário.
O documentário traz à tona áudios que mostram que o médico Leopoldo Luque e o advogado Matías Morla sabiam dos excessos do craque, mas não fizeram muita coisa para ajudá-lo. O vídeo, de 34 minutos e disponível no Youtube, termina com uma contundente acusação de Verónica Ojeda, mãe de Dieguito Fernando, filho caçula do astro: "Mataram Maradona lentamente. Assumo o que digo."
Legado de êxtase e agonia
"Do êxtase à agonia/Oscila nossa história".
O trecho está no rock "La argentinidad al palo", hino nacional informal entoado por toda a Argentina na canção da banda Bersuit Vergarabat. Êxtase e agonia são descrições precisas para a vida e obra de Diego Armando Maradona.
Expoente sem igual da "argentinidade ao máximo", sua recente desaparição gera uma catarse melancólica digna do mais amargo tango.
Acostumados a tratar Maradona como um parente querido - e em alguns casos muito mais que isso -, os argentinos prestam muitas homenagens a Diego.
Desde missas da Igreja Maradoniana a shows de música, passando pelos jogos de futebol beneficentes e profissionais. Mas quem imagina um consenso pró-Diego desconhece o cotidiano argentino, onde o consenso é impossível. Parte da população do país boicota e hostiliza as homenagens pela revelação dos seus últimos e mais pesados escândalos, tema de outro especial do UOL.
Êxtase, pelas glórias de Maradona em campo. Agonia, pelos graves atos fora dele.
"La argentinidad al palo".
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