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Pelé e Maradona bateram bola na TV argentina; quem esteve lá conta como foi
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Era 15 de agosto de 2005, noite de segunda-feira.
Os estúdios do Canal 13, no bairro de Constitución, em Buenos Aires, foram palco de algo que nenhum templo do futebol conseguiu: ter Pelé e Maradona batendo bola juntos em público.
O encontro foi histórico, "marcado pela espontaneidade e por elogios de parte a parte", como registrou a "Folha de S.Paulo" do dia seguinte.
"Maradona, 44, e Pelé, 64, conversaram, cantaram e bateram bola por quase meia hora, na estreia do programa de TV 'La Noche del Diez (A Noite do Dez)', espécie de talk show do ex-jogador argentino, pelo Canal 13", resumiu o jornal.
A cena que hoje povoa a memória dos apaixonados por futebol esteve perto de não acontecer.
"Pelé tinha medo de ser hostilizado, ele só se desarmou quando recebeu uma ligação do próprio Maradona com o convite oficial. Era duplamente complicado. Era a estreia do programa, nem Pelé e nem ninguém sabia o que viria da atração", contou à coluna, em 2020, Coco Fernández, um dos produtores gerais daquele programa.
"E todo mundo que conheceu Maradona sabe que quando ele queria algo, usando todo seu carisma, esse algo dificilmente deixava de ocorrer."
"Maradona estava bárbaro, em um grande momento de corpo e alma", seguiu. "E posso dizer que o entorno de Pelé foi igualmente magnífico."
"Os dois se trataram muito bem nos camarins, aquilo que foi visto no ar, com os dois batendo bola, refletiu a sintonia fora das câmeras. Batendo bola como duas crianças, como nunca deixaram de ser", finalizou Fernández.
"A produção tinha uma série de restrições institucionais em como tratar e não tratar Diego, mas ele, com sua humildade, rasgou todos os manuais", afirmou à coluna Adrián Suar, então gerente do Canal 13, também em 2020, na semana seguinte à morte de Maradona.
"Daquela primeira semana e daquele programa com Pelé lembro que Diego conquistou o coração da equipe de TV jogando futebol com todos no próprio estúdio. Jogava para ganhar, dando carrinho e batendo, como se fosse a final da Copa do Mundo, e ninguém entendia nada", disse à coluna Emilio Dei-Cas, um dos produtores do "La Noche del Diez".
Pelé: 'Você é um exemplo, Maradona'
Na entrevista, as duas lendas do futebol nem pareciam ex-desafetos. O relato de Maeli Prado na "Folha de S.Paulo" de 16 de agosto de 2005 seguiu:
"Em duas ocasiões, Pelé disse a Maradona, conhecido por seu histórico com drogas, que o considerava um exemplo. Primeiro, ao justificar porque aceitou o convite do colega. Depois, quando o argentino o questionou sobre a situação do filho Edinho, preso acusado de envolvimento com o tráfico de drogas. 'Tu és um exemplo para ele', falou Pelé".
"Antes, dissera: 'Respondi que vou [ao programa] porque você é um vencedor, é um exemplo. É um orgulho estar aqui'."
"Durante 27 minutos, Maradona entrevistou o Rei do Futebol, que também fez perguntas ao argentino —o questionou sobre quem foi que colocou sonífero na água que o lateral Branco bebeu no jogo em que o Brasil foi eliminado pela Argentina nas oitavas de final da Copa de 1990. Maradona, que chegou a tratar Pelé por 'Rei', desconversou."
"Depois, o argentino pediu para uma assistente trazer um violão para Pelé tocar e cantar. Maradona então desafiou Pelé a bater bola de cabeça. Foram 26 toques (13 para cada um), até que Maradona abraçou Pelé."
'Não teve nada comercial'
O encontro entre Pelé e Maradona seguiu rendendo no Brasil mesmo dois dias depois.
Também na "Folha de S.Paulo", Rodrigo Bueno trouxe uma entrevista em 17 de agosto de 2005 com Guillermo Bassignani, representante de Pelé na Argentina, contando como tudo ocorreu.
"Sou muito amigo de Diego [Maradona]. Ele que me ligou querendo que eu convidasse Pelé para o programa. Liguei, e o Pelé logo aceitou. Mandamos as passagens, e tudo aconteceu muito rápido. Agora, eles querem viajar juntos em campanhas pelas crianças, pela saúde, essas coisas", disse Bassignani à "Folha".
"No camarim, Pelé me disse que eu poderia perguntar o que quisesse. Isso me tocou no coração", afirmou Maradona, segundo a "Folha", que continuou desta maneira:
"Segundo Bassignani, Pelé não recebeu cachê pela sua participação. Ele também negou que o encontro tenha sido costurado pela Mastercard, de quem Pelé é garoto-propaganda e cujo logotipo estampava camisa de Maradona".
"Não teve nada comercial. O Pelé não sabia de nada do que aconteceria no programa. Foi tudo de improviso mesmo, a música, o bate-bola", finalizou Bassignani.
Pelé morreu ontem (29), aos 82 anos, pela falência de múltiplos órgãos.
Maradona morreu em 25 de novembro de 2020, aos 60 anos, por uma parada cardiorrespiratória.
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