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Tales Torraga

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Quem é o 'Pelé branco' argentino que só fez quatro gols pela seleção

Beto Alonso, o "Pelé branco", ergue a Libertadores de 1986 pelo River Plate - Reprodução River Plate
Beto Alonso, o "Pelé branco", ergue a Libertadores de 1986 pelo River Plate Imagem: Reprodução River Plate

Colunista do UOL

31/12/2022 09h23

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Não foi só o Brasil que procurou um herdeiro para Pelé, morto anteontem (29).

Na Argentina, há até hoje um ex-jogador chamado de "Pelé branco", mesmo 36 anos depois de pendurar as chuteiras. Estamos falando de Norberto Alonso, "El Beto", um dos principais idolos da história do River Plate.

Alonso nasceu em 1953 e foi revelado no River em 1971 pelo técnico Didi —companheiro do Pelé original no Brasil de 1958. E foi o próprio Didi quem primeiro chamou Alonso de ''Pelé branco''. Beto era excepcional no cabeceio, com a esquerda e com a direita —mas havia, claro, enorme diferença para o Pelé legítimo.

O apelido rompeu as fronteiras do Monumental em 1972. Foi quando Alonso fez, contra o Independiente, o gol que Pelé errou contra o Uruguai na Copa de 1970. O Beto deu um drible da vaca no goleiro só com o corpo e empurrou suave para as redes.

No dia seguinte, saiu no ''Clarín'', e Alonso virou o ''Pelé branco'' para sempre —e pobre, pobre mesmo, de quem se arriscar a contrariar um portenho mais antigo e mais amargo.

A grande incoerência do apelido é a evidente diferença de currículo.

Pelé ganhou três Copas e fez 95 gols pela seleção brasileira. Já Alonso foi campeão do Mundial de 1978 como reserva —e imposto pelos militares, dizem até hoje. Marcou só quatro gols em suas míseras 19 partidas pela seleção argentina.

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Beto Alonso, o "Pelé branco", agrediu torcedor do Chacarita que invadiu campo
Imagem: Reprodução web

Esquentado demais

Uma das razões que o limitou na seleção foi justamente aquilo que o torna ainda maior aos olhos argentinos: o temperamento.

Beto foi esquentado como poucos, e seus atritos com o técnico Cesar Luis Menotti o fizeram passar bem longe do selecionado argentino entre 1974 e 1982, quando viveu seu auge.

Em 1983, quando assumiu Carlos Bilardo, Alonso voltou imediatamente à seleção, mas tinha 30 anos e já havia perdido espaço para a geração de Maradona.

A bravura de Alonso era uma delícia para a torcida. Ele revidava o jogo sujo e as agressões do adversário jamais chorando os pontapés. Fazia bem diferente: no lance seguinte, já levava a bola para perto do rival para enfrentá-lo e forçar sua expulsão.

E sabia usar os punhos, também. Certa vez, em 1984, pelo River, socou a cara de um torcedor do Chacarita que invadiu o campo para lhe provocar.

Alonso foi Pelé, de verdade, nas decisões.

Ele era a estrela do River que saiu, em 1975, da fila de 18 anos sem títulos. Foi com dois gols seus que o River venceu o Boca e deu a volta olímpica em plena Bombonera em 1986.

"Poderiam me matar que eu daria a volta olímpica morto mesmo'', comentou anos depois, sobre a chuva de pedras, latas e cadeados que ele e os colegas enfrentaram naquela tarde.

Foi com ele que o River ganhou a Libertadores e o Mundial de 1986, no ato final de sua brilhante carreira, se aposentando aos 33 anos, ''ganhando tudo o que poderia ganhar'', como ele mesmo diz, e ao olhar sua cara de emoção na noite da Libertadores em Núñez não havia mesmo nada mais a acrescentar à sua trajetória.

Tão amado na Argentina vermelha e branca, Alonso inspirou também duas músicas que seguem fazendo grande sucesso ainda hoje.

Uma é ''El anillo del Capitán Beto'', ''O anel do capitão Beto'', lindo rock do gênio Luis Alberto Spinetta.

Outra canção bastante conhecida é ''Beto'', de Ignacio Copani, cantando que ''depois de Deus, eu acredito é em Alonso''.

Bem mais incorreta, a torcida do River fica louca de verdade com um "cântico" que diz que ''Maradona se drogou, não foi como o Beto Alonso, que se aposentou campeão".

Loucuras argentinas neste 2022 cheio delas.

* Post publicado originalmente no blog "Patadas y Gambetas", do UOL, em 11 de maio de 2017