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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Roberto Dinamite 'explodia' mesmo ao falar da Copa de 1978: 'Uma vergonha'

Roberto Dinamite enfrenta Argentina na "Batalha de Rosário" na Copa de 1978 - Reprodução Fifa
Roberto Dinamite enfrenta Argentina na "Batalha de Rosário" na Copa de 1978 Imagem: Reprodução Fifa

Colunista do UOL

09/01/2023 09h00

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Um dos maiores atacantes brasileiros da história, Roberto Dinamite, morto ontem (8), disputou as Copas do Mundo de 1978, na Argentina, e 1982, na Espanha.

No Mundial de 1978, ele fez três gols —um contra a Áustria, na primeira fase, e dois contra a Polônia, no quadrangular da segunda fase.

Conhecido por todos no futebol como um jogador de muitas amizades e de fácil trato, Roberto costumava "explodir" mesmo nas conversas sobre aquela Copa, que terminou com título da Argentina e terceiro lugar para o Brasil, "campeão moral" com o técnico Cláudio Coutinho.

Em 2020, no programa "Os Canalhas", com os jornalistas João Carlos Albuquerque e Rodrigo Viana no UOL, o ídolo vascaíno deu detalhes daquela competição que está até hoje entre as mais controversas da história do futebol.

Ao ser perguntado se a lembrança daquela Copa gerava alegria ou raiva, Dinamite respondeu: "A raiva ficou mais para depois de ficar sabendo das coisas. Aquilo ali foi bravo", disse.

"Acho que ficou claro para todo mundo, o jogo da Argentina e Peru foi, desculpe usar esse termo, uma vergonha."

"O jogo da Argentina foi decisivo, porque nós empatamos [0 a 0 entre Brasil e Argentina na "Batalha de Rosário"]", seguiu Roberto. "Depois, você vai para o terceiro jogo da competição e a gente consegue um resultado muito bom, tem um saldo [3 a 1 na Polônia]. E aí você vai com um saldo positivo. Houve a troca do horário dos jogos. Estava marcado para o mesmo horário. E a Argentina jogou já sabendo do resultado do Brasil", relembrou Dinamite aos "Canalhas".

"Nós vínhamos de uma vitória e os argentinos também, e depois houve o empate entre a gente. Então esse terceiro jogo seria decisivo. Eu lembro que nós estávamos voltando, em razão de o jogo ter terminado. E o deles [argentinos] estava começando. Eu lembro que o Cubillas meteu uma bola na trave e tal, mas depois deslanchou. Quando chegamos à concentração, o resultado já estava mais ou menos definido", completou Dinamite.

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Capitão argentino, Daniel Passarella cumprimenta Héctor Chumpitáz antes da partida
Imagem: Reprodução TV

Dá para cravar?

Quem lê a coluna costuma sempre acompanhar muitas referências à Copa do Mundo de 1978, organizada então pela Argentina dos militares. Na abertura do Mundial do Qatar, por exemplo, lembrávamos que a Copa que estava começando era a mais controversa fora das quatro linhas justamente desde o Mundial de 1978.

Em 2021, às vésperas do Argentina x Peru das Eliminatórias, trouxemos também um extenso texto contando às novas gerações como havia sido o jogo definido por Roberto Dinamite como "vergonhoso".

Segundo o livro "Copa Loca - As inacreditáveis histórias da Argentina nos Mundiais", publicado no Brasil em 2018 pela editora Garoa Livros, a mão pesada da ditadura foi sentida em 1978 não apenas fora de campo, com a brutalidade do regime deixando o clima carregado nas sedes e nos estádios, mas também dentro das quatro linhas, com a soturna influência dos generais entrando em ação em momento decisivo do torneio.

Trata-se de assunto dos mais espinhosos, daqueles que jamais serão esgotados, mesmo depois de inúmeros depoimentos de quem participou, de um jeito ou de outro, daquela nebulosa passagem. Resta uma única certeza: a de que uma sombra permanente acompanha as memórias dos 6 a 0 da Argentina sobre o Peru em Rosário.

A decisão dos finalistas do Mundial aconteceu em 21 de junho de 1978. Todas as partidas estavam previstas para acontecer no mesmo horário, no início da tarde, para que nenhum time fosse beneficiado. No Grupo A, a Holanda bateu a Itália por 2 a 1 e se garantiu na final. Já no Grupo B, de Brasil e Argentina, a tabela sofreu uma inexplicável alteração: Brasil x Polônia às 16h45
e Argentina x Peru às 19h15.

Convenientemente, portanto, os donos da casa entrariam em campo sabendo do resultado de que precisariam para avançar.

A seleção de Cláudio Coutinho venceu de forma indiscutível, 3 a 1. Para eliminar os brasileiros, a Argentina precisaria golear o Peru, que na primeira fase empatara com a Holanda em 0 a 0 e terminara em primeiro lugar de sua chave, por pelo menos quatro gols de diferença.

Acabaria fazendo seis - dois de Kempes, dois de Luque, um de Tarantini e um do "Loco" Houseman —ante um rival irreconhecível, vacilante e letárgico.