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Quem é o craque que venceu a depressão para virar lenda na Libertadores
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Reconhecido até hoje como um dos maiores astros do futebol argentino, um verdadeiro Diego Maradona e Lionel Messi dos seus tempos, Ricardo Enrique Bochini teve uma carreira das mais brilhantes.
Mas ela esteve longe de iluminar a sua escuridão interna.
Maior ídolo da história do Independiente, "El Bocha", como é chamado, empresta hoje o nome oficial ao estádio do clube, conhecido mundialmente como Libertadores da América.
Ganhou, com a equipe vermelha de Avellaneda, dois Mundiais (1973 e 1984) e cinco Libertadores (1972, 1973, 1974, 1975 e 1984).
Maestro da camisa 10, conquistou, sozinho, mais Libertadores que qualquer time do Brasil (São Paulo, Santos, Palmeiras, Flamengo e Grêmio, com três, são os recordistas do país).
A carreira de Bochini seria espantosa pelas conquistas só. Mas teve mais. Suas glórias foram amealhadas em meio a distúrbios que estiveram perto de matá-lo.
''Ele sempre teve baixas. Tudo psicológico'', contou o amigo e companheiro de Independiente Daniel Bertoni ao blog "Patadas y Gambetas", do UOL, em 2016.
''Em um tempo, achava que tinha câncer. Corríamos mais atrás dele na concentração que atrás dos adversários em campo.''
Médicos do clube relatavam depressão e ataques de pânico —no exterior, piorava.
Os maiores troféus não aplacaram o olhar distante de Bocha, homem de um time só, o Independiente.
A vida de Bocha ficou ainda mais complicada depois de ser rejeitado pelos militares para a Copa do Mundo de 1978, conquistada pela Argentina em casa. Seus cabelos despencaram.
Mesmo debilitado, jogou em grande nível até os 37 anos. Aos 32, conquistou a Copa do Mundo de 1986 no México com o pupilo e fã confesso Diego Maradona.
Homem de paz, Bocha foi venerado por fanáticos de outros clubes que iam ao Independiente só para vê-lo. Sua entrada na Copa emocionou toda a Argentina.
A idolatria por Bocha é tamanha que ainda hoje, três décadas depois de parar de jogar, inspira músicas de grupos famosos de rock na Argentina como o Bersuit Vergarabat.
Bochini hoje está com 69 anos e percorre a Argentina falando com jovens. Quando cita dificuldades, instrui e apoia, jamais lamenta.
Raramente menciona seus tratamentos. Contem os seus, pede. Em campo já era assim: preferia servir o amigo, não fazer o gol.
''O que importa na vida e no esporte são a abertura e o carinho. As Copas que conquistamos foram importantes, mas essencial mesmo é desenvolver boas relações. É ouvir, respeitar, entender que todos têm dificuldades'', repete em suas palestras.
País da psicologia
Escancarar a depressão é comum na Argentina, país de maior proporção de psicólogos por habitante em todo o mundo. São 106 profissionais para cada 100 mil pessoas, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde).
Fazer terapia é algo muito habitual. Perguntar a uma criança abastada de Buenos Aires o que ela quer quando crescer é ouvir respostas como ''não sei, mas tenho que fazer terapia''.
Livros, filmes, novelas e seriados suspendem o país desenvolvendo a relação sociedade e profissionais da mente.
Tal atenção se vê também no esporte.
Conscientes que são referência para quem sofre, jogadores e técnicos tratam seus problemas com naturalidade. Ex-jogador e ex-técnico do River Plate, Matías Almeyda levantou esta bandeira em 2011.
Dedicou longo capítulo de sua autobiografia aos problemas psicológicos e com o álcool. Narrou transtornos de pânico e cenas chocantes como um ataque sofrido por um boi no meio do mato ou quando parou no acostamento e rastejou pela estrada.
A espontaneidade é ouvida também na música.
Canções de muito sucesso cantam rasgadamente a depressão, como ''Não quero ficar tão louco'', de Charly García.
A saúde mental argentina é um tema que atravessa gerações no futebol.
Um dos grandes heróis do tri, conquistado há dois meses no Qatar, o goleiro "Dibu" Martínez sempre aproveita as suas entrevistas para enfatizar como a terapia mudou sua vida, como o UOL Esporte contou durante a Copa do Mundo.
Apesar da ênfase, a seleção argentina não tem um psicólogo especializado em sua comissão, o que gera muitas críticas dos profissionais da área no país.
Procure ajuda
Caso você precise, procure ajuda especializada em órgãos como o CVV e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade.
O CVV (https://www.cvv.org.br/) funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
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