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Torcida do Boca Juniors pede contratação de Tite para Libertadores
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Campeã do mundo e sempre orgulhosa da capacidade dos seus técnicos de futebol, a Argentina, quem diria, hoje vê o clube mais popular do país pedir pela contratação de um treinador brasileiro.
Atualmente comandado pelo ex-lateral Hugo Ibarra, o Boca atravessa uma crise técnica das mais sérias, vindo de derrotas na liga local para nanicos como o Banfield e o Instituto. A fase é tão ruim que só um milagre salva Ibarra no comando da equipe às vésperas da Libertadores.
E a torcida do Boca, sempre estimada como a maior da Argentina, com 40% da população de 45 milhões de pessoas, já escolheu o substituto: Tite, que está sem trabalhar desde a saída da seleção brasileira na Copa do Mundo do Qatar.
O nome do treinador de 61 anos ocupou o topo do Twitter anteontem (20) com #TiteABoca, com referências nas TVs e nas rádios também por seu positivo retrospecto contra o clube xeneize.
Tite enfrentou o Boca seis vezes, somando Internacional e Corinthians, ganhando quatro, empatando uma e perdendo outra, o jogo de ida que custou a eliminação do Alvinegro nas oitavas de final da Libertadores de 2013, exatos dez anos atrás, lembrada até hoje pela confusa arbitragem do paraguaio Carlos Amarilla.
A presença do ex-técnico da seleção brasileira ganhou força no Boca também ontem (21) com o acerto de Sebastián Beccacece com o Elche, da Espanha.
Praticamente acertado com a seleção do Equador, como a coluna informou há duas semanas, Beccacece preferiu ir para a Europa porque não sentiu firmeza nos dirigentes equatorianos, que carregam uma volumosa dívida com Gustavo Alfaro, técnico da equipe na Copa do Mundo do Qatar.
Beccacece também era cotado a assumir o Boca, algo que deixou de existir com o acerto com o Elche.
As raízes argentinas de Tite
Estudioso aplicado do futebol argentino, Tite certamente recebe com orgulho o afago do clube mais popular do país que teve forte influência em sua formação.
Tite assumiu a seleção brasileira em 2016. Em 2014, já campeão da Libertadores e do Mundial com o Corinthians, ele reservou na agenda um período de cinco dias em Buenos Aires para percorrer livrarias e conhecer treinamentos em busca de novas ideias de trabalho.
Em um desses encontros, almoçou e conversou por quatro horas com o "Mister Libertadores" Carlos Bianchi, então treinador do Boca Juniors, de quem é fã declarado e com quem mantém contato até hoje.
Nesta mesma viagem, viu de perto o San Lorenzo de "Patón" Bauza ganhar a primeira Libertadores. Enquanto mais de 50.000 fanáticos enlouqueciam no Nuevo Gasómetro, Tite, caderno em mão, espremido, anotava tudo o que podia.
Tempo e espaço
A influência argentina no trabalho de Tite tem duas razões. A primeira é a proximidade geográfica e cultural do seu Rio Grande do Sul natal com o país vizinho.
Segundo: a linha do tempo. Tite foi jogador profissional de 1978 a 1989, época dourada do futebol argentino com os títulos das Copas do Mundo de 1978 e 1986 — e o vice sairia na Copa seguinte, em 1990, no Mundial da Itália.
Tite foi contemporâneo e bebeu das melhores fontes de pensamento do futebol argentino, o "menottismo" e o "bilardismo", pelas obras de César Luis Menotti, técnico da Argentina em 1978 e 1982, e Carlos Salvador Bilardo, em 1986 e 1990. Revirar o arquivo de entrevistas de Tite é encontrar elogios à Argentina e a Menotti.
Em 2011, o treinador se declarou um "menottista", um defensor de um futebol mais equilibrado no qual o resultado é consequência, não a razão principal.
Carrasco em clubes
Dos três títulos sul-americanos de Tite em seu currículo por clubes, dois foram levantados em cima de times argentinos de camisas pesadas: o Estudiantes de La Plata (Sul-Americana 2008, pelo Inter) e o Boca Juniors (Libertadores 2012, com o invicto Corinthians).
Curioso: sua relação com atletas do país não fluiu. Jamais teve empatia com Tevez, D'Alessandro ou "Burrito" Martínez, para ficar só em três de seus comandados.
Muitos dos seus jogadores de então dizem que foi Guiñazú, o volante do Inter, o argentino com quem se deu melhor.
Por fim, a ligação de Tite com Buenos Aires é bem mais profunda que o futebol. Quando está na capital portenha, ele obrigatoriamente passa pela igreja Nossa Senhora do Pilar, no bairro da Recoleta, como conta sua biografia, escrita pela jornalista Camila Mattoso.
Bielsa, Sampaoli e Crespo
A admiração de Tite pelos colegas argentinos é bastante destacada no país vizinho. Para os argentinos, "Tité" (como grafam com erro até hoje), de tão cordial, é um excelente exemplo de como as duas potências podem unir forças em vez de alimentar uma rivalidade exagerada que muitas vezes deixa de ter sentido.
Tite já foi fotografado em animadas conversas com Jorge Sampaoli e "Loco" Bielsa em eventos da CBF no Rio de Janeiro. E em 2021, quando a seleção treinou no CT do São Paulo, reservou um tempo para conversar com Hernán Crespo.
O resultado da última Copa do Mundo não interferiu na avaliação sempre exigente do público e da imprensa argentina: para todos, Tite é um técnico à altura do histórico "scratch", como ainda se referem à equipe nacional brasileira.
O mesmo olhar não era destinado a antecessores recentes como Dunga, Mano Menezes e Luis Felipe Scolari.
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