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O que a histórica festa da Argentina hoje em Buenos Aires ensina ao Brasil
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A seleção campeã do mundo volta a campo às 20h30 (de Brasília) de hoje (23). Com todos os 11 titulares que bateram a França no Qatar confirmados, a Argentina se prepara para uma festa histórica, inesquecível mesmo, que seus orgulhosos torcedores definem como "um antes e depois na história do futebol mundial".
Há motivos para imaginar tal catarse com a peculiar paixão argentina, e eles não passam necessariamente pelo adversário, o inexpressivo Panamá, apenas o número 61 no ranking da Fifa.
A AFA (Associação de Futebol Argentino) informou que nada menos que 1,5 milhão de pessoas tentaram comprar os ingressos para este amistoso, que contará com a lotação total do novíssimo Monumental de Núñez, agora o maior estádio da América do Sul, com 83.198 torcedores.
A atual loucura pela seleção argentina é tamanha que ainda ontem (22) o trânsito nas imediações do estádio foi fechado, e os jogadores vão chegar por conta própria justamente para não repetir as cenas de dezembro do ano passado, quando os fanáticos bloquearam as ruas, se atiraram de pontes e impediram a caravana dos campeões mundiais.
Mergulhada na rotina argentina, a coluna traz agora quatro pontos que o futebol brasileiro deveria refletir para voltar aos tempos de glória e recuperar o protagonismo que hoje os vizinhos merecidamente comemoram.
Um Monumental de verdade
Palco do título da Argentina na Copa do Mundo de 1978, o Monumental de Núñez desbancou o Maracanã, o Mineirão e o Monumental de Lima para ser agora o maior estádio da América do Sul.
É realmente emblemático que a seleção campeã do mundo volte ao país justamente neste palco. E é difícil entender que tal primazia não seja do Brasil, o futebol mais forte economicamente do continente e com o país mais populoso.
O Brasil hoje tem 208 milhões de habitantes, segundo prévia do Censo; a Argentina beira os 46 milhões.
O Monumental foi remodelado e ampliado com a retirada da pista de atletismo, e a reforma foi comemorada na Argentina como um golpe de mestre, pois o River Plate aproveitou o fechamento dos estádios na pandemia justamente para levar adiante o seu projeto.
A coluna explicou tudo em detalhes na reinauguração, e o texto pode ser lido aqui.
Paciência
De contrato renovado, o técnico Lionel Scaloni passou de inexperiente a consagrado, e de extremamente questionado para um profissional idolatrado, a ponto de ganhar o apelido de "Scaloneta" repetido por todo argentino que cruza com ele, em analogia a um veículo de sucesso e campeão.
Que a Argentina tem uma escola de técnicos candidata a ser a melhor do mundo, ninguém discute, mas o sucesso da aposta em Scaloni só se concretizou porque a AFA, quem diria, teve paciência e bancou o seu início turbulento, com pesadas críticas de ex-técnicos, jogadores e jornalistas pela escolha em detrimento de nomes mais pesados como Marcelo Gallardo e Diego Simeone.
Uma vez garantido no cargo, Scaloni e sua comissão técnica prezaram pela máxima entrega.
Como revelou Pablo Aimar, um de seus assistentes, eles fizeram um pacto entre si, depois da derrota para a Arábia Saudita, de só sair dos escritórios no Qatar para comer e dormir.
Os jogadores entenderam o recado e se aplicaram igualmente.
Resistência
Os gols da Argentina na final contra a França foram marcados por Lionel Messi (dois) e Ángel Di María —na opinião da coluna, os jogadores mais questionados de todos os tempos no país.
Hoje é tudo festa, com inegável dose de oportunismo, mas vale lembrar que Messi já foi agredido em Rosário, levou cusparada em aeroporto e teve suas estátuas depredadas.
E Di María era chamado abertamente de "cagão" nas rádios e TVs pelo seu histórico de lesões pela equipe, lutando até mesmo contra uma depressão por tamanha hostilidade.
A saída de ambos da seleção foi pedida na TV com minutos de silêncio e apresentador suplicando ajoelhado, mas os dois craques mostraram que não são gênios apenas pelo talento, mas também pela persistência que reverteu opiniões tão taxativas e negativas para um presente tão positivo.
Laços com o povo
A seleção argentina tem um elaborado plano de marketing para lucrar com o público dos Estados Unidos e do Oriente Médio, mas a AFA não deixa os fanáticos locais de fora, como comprova a escolha por Buenos Aires para o amistoso de hoje (haverá um outro, contra Curaçao, na terça que vem, em Santiago del Estero, no interior).
Mesmo com a logística "europeia" de seus jogadores e a possibilidade de faturar em outras praças de moedas mais fortes, este será o quarto amistoso de Scaloni em território argentino, algo que valoriza demais a presença dos fanáticos da região, vide a insana festa pós-tricampeonato.
Outro ponto a se destacar é a transmissão gratuita para todo o país pela TV Pública, pois o governo federal decretou que os jogos da seleção são agora de interesse público.
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