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Boca entrou em greve antes de perder Libertadores para Corinthians; entenda
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O Boca Juniors que perdeu a Libertadores de 2012 estava tão rachado que os jogadores entraram em greve antes de viajar a São Paulo para o jogo de volta, vencido pelo Corinthians por 2 a 0 no Pacaembu.
A forte revelação foi feita por Julio Cesar Falcioni, o então técnico do time portenho. "Perdemos uma final que poderíamos ganhar. Aconteceram muitas coisas", contou Falcioni, com riqueza de detalhes, ao canal argentino de TV TyC Sports anteontem (22).
"Os jogadores se reuniram na noite anterior ao jogo de volta e me disseram que não viajariam, que estavam em greve. Isso era meia-noite, 1h. Bateram na porta do meu quarto para me avisar que não iriam viajar pela situação de Roncaglia, que não podia jogar esta final, e o clube não queria deixá-lo viajar. Os jogadores, em solidariedade a ele, tomaram esta postura e me informaram que estavam em greve."
A pressão "ou viaja Roncaglia ou não viaja ninguém" foi encabeçada por Juan Román Riquelme, capitão do Boca e amigo do então lateral-direito.
A amizade entre os dois persiste —tanto que Riquelme, hoje vice-presidente de futebol do Boca, contratou o companheiro no ano passado, mesmo ele estando inativo, com 35 anos e vindo de uma passagem apagada pelo futebol do Chipre.
Roncaglia, importante destacar, jogou a partida de ida daquela final entre Boca e Corinthians e marcou o gol que abriu o placar. O jogo terminou 1 a 1, com o Corinthians empatando com Romarinho.
'Chamei o presidente'
O relato de Falcioni deixa clara a confusão que marcou a preparação daquele Boca para a finalíssima contra o Corinthians.
"Falei com ele [Roncaglia] durante a semana, e me assegurou que ia jogar. Depois aconteceram coisas e houve algo diferente. Não posso interferir na carreira do jogador. Acho que quiseram pagar o seguro, mas o representante dele não estava de acordo. Dependia das duas partes, um assegura e o outro assina."
"Naquela noite, chamei o presidente [Daniel Angelici] e pedi para vir ao hotel, aí tudo se acertou. Não havia ninguém mais que podia solucionar este assunto. O clube decidiu que Roncaglia não viajaria, e todos somos subordinados ao clube."
A final conquistada pelo Corinthians ocorreu em 4 de julho, e quatro jogadores do Boca tinham contratos que se expiravam em 30 de junho.
O goleiro Sosa, o zagueiro Schiavi e o atacante Cvitanich acertaram a extensão e atuaram normalmente no Pacaembu, mas Roncaglia, negociado com a Fiorentina-ITA, e com problemas no pagamento do seguro por parte do Boca, não integrou o elenco e a princípio não viajaria com o grupo.
Foi a pressão de Riquelme que fez com que ele estivesse com o elenco em São Paulo.
Riquelme anunciou despedida
Desgastado com toda a trama, Riquelme comunicou a amigos antes mesmo da final que estava de saída do Boca.
O técnico Falcioni deu sua versão ao TyC Sports sobre aquela tensa conversa com Román: "Me perguntaram se eu estava sabendo de alguma coisa [da despedida] antes de entrar no vestiário, e disse que não sabia de nada. Era uma final de Libertadores, o restante não me interessava".
"A notícia afetou o grupo. Mais de um jogador chorava no fim da partida porque se despedia Riquelme, e não por ter perdido. Eu dizia a eles que nunca mais iam jogar uma partida assim. E aconteceu isso. Não jogaram mesmo."
Falcioni foi taxativo ao dizer que aquele Boca ganharia do Corinthians, que acabou conquistando invicto aquela Libertadores, a única da sua história.
"Se não acontecesse tudo isso, ganhávamos", disparou o técnico.
"Este time estava muito bem. Ganhou em casa e fora da Universidade de Chile, de Sampaoli, em seu melhor momento. Ganhamos de Fluminense, Unión Española, de todos. Esse time estava pronto para ser campeão."
Sem Falcioni, e com o retorno do lendário técnico e amigo Carlos Bianchi, Riquelme voltou atrás em sua aposentadoria e marcou o gol, também no Pacaembu, que tirou o Corinthians das oitavas de final da Libertadores de 2013 no jogo muito contestado até hoje pela arbitragem do paraguaio Carlos Amarilla.
Dez anos depois...
Quem lê a coluna acompanhou tudo no ano passado. E que ironia. Contra o mesmo Corinthians, dez anos depois, Riquelme, hoje dirigente do Boca, precisou ser chamado às pressas para a concentração porque os jogadores ameaçaram abandonar o hotel pela falta do pagamento de uma premiação.
O Boca que perdeu para o Corinthians nos pênaltis e foi eliminado nas oitavas de final teve dois "insurgentes", o zagueiro Cáli Izquierdoz e o atacante Darío Benedetto.
Izquerdoz foi mandado embora logo na sequência da derrota para o Corinthians, e Benedetto, que perdeu dois pênaltis contra o Corinthians, um deles de maneira bizarra, segue no time até hoje, mesmo sem ninguém entender muito bem o motivo, pois ele não tem jogado nada e está sempre irritado e acusado de "corpo mole" por ex-jogadores e torcedores.
Por tantas confusões ao longo de sua história, o Boca é chamado jocosamente de "Bocabaré" pelos seus adversários na Argentina.
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