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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Maior campeão da Libertadores: por que o Independiente está perto de falir

Protesto da torcida do Independiente pela situação caótica do clube argentino - Reprodução Twitter
Protesto da torcida do Independiente pela situação caótica do clube argentino Imagem: Reprodução Twitter

Colunista do UOL

13/04/2023 08h24Atualizada em 13/04/2023 19h36

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Sete vezes campeão da Libertadores, recorde até hoje, o Independiente, um dos grandes do futebol argentino, atravessa hoje sua pior crise.

O diagnóstico veio de Fabián Doman, que anteontem (11) renunciou ao cargo de presidente do clube, depois de somente seis meses.

O Independiente está afundado em dívidas, estimadas em US$ 25 milhões (cerca de R$ 123 milhões), com débitos que ultrapassam dez anos, perto de causar sua falência.

Há, porém, um parêntese. A Justiça argentina impede a quebra total por conta da "lei Racing", mantendo as atividades esportivas enquanto os valores são acertados das mais intrincadas formas.

É este o momento. O Independiente atravessa uma sequência de pedidos de penhoras e cessão de terrenos que possam pagar suas contas.

Um dos maiores valores é para o desconhecido atacante Gonzalo Verón, que ganhou na Justiça o direito de receber US$ 5 milhões (R$ 24,59 milhões), mesmo atuando apenas 18 partidas pelo clube entre 2018 e 2019.

Queda livre

A torcida enfurecida protesta sem parar nas ruas de Avellaneda, nos arredores de Buenos Aires, repetindo aquilo que é praxe na Argentina em situações assim: muita confusão e agressão aos jornalistas que cobrem as manifestações.

A reclamação é clara. Os apaixonados se cansaram de ver "dirigentes ricos e o clube pobre", algo que é reclamado desde a gestão de Hugo Moyano, líder de um sindicato de caminhoneiros que foi presidente do Independiente de 2014 a 2022.

Nas eleições realizadas em outubro do ano passado, ganhou Fabián Doman, famoso apresentador de TV, que renunciou agora.

Como reflexo do caos institucional, o clube está cada vez pior no Campeonato Argentino. Perdeu na noite de ontem (12) para o Rosario Central por 1 a 0 e ocupa agora a 25ª colocação na competição de 28 equipes.

Há risco de rebaixamento, como alertou o ex-atacante e ídolo Daniel Bertoni, repetindo o calvário do clube na temporada 2013-2014.

Nos "promedios", cálculo que computa as três últimas edições para decretar os que descem à Série B de 2024, o Independiente ocupa a 17ª posição, com 1,3 pontos. Os rebaixados hoje seriam Sarmiento (1,1) e Arsenal (0,9).

O destaque do elenco atual é o meia equatoriano Juan Cazares, ex-Atlético-MG, Corinthians e Fluminense.

O Independiente estava sem técnico depois da demissão de Leandro Stilitano, sendo dirigido interinamente pelo ex-zagueiro Pedro Monzón, mas na noite desta quinta acertou com Ricardo Zielinski, ex-Estudiantes e Belgrano.

Para deixar tudo ainda mais tenso, o clássico de Avellaneda, contra o Racing, será neste domingo, em casa, com a torcida certamente em chamas. Há possibilidade de o jogo ocorrer em campo neutro ou com portões fechados.

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Juan Cazares, meia equatoriano que hoje joga no Independiente
Imagem: Divulgação Independiente

SAF é solução?

Uma das análises mais repetidas nas rádios, portais e TVs da Argentina é a hipótese de o Independiente virar uma "SAF", uma sociedade anônima, repetindo o modelo do Brasil.

É claro que a tentativa teria o crônico improviso argentino.

As leis no país não permitem a privatização, mas a grande desconfiança é que o futebol do Independiente agora vai ter ligação com o partido político PRO, repetindo, por exemplo, o que Mauricio Macri fez com o Boca Juniors, mandando no clube nas décadas de 1990 e 2000, ganhando notoriedade política a ponto de alcançar a presidência da Argentina em 2015.

"É muita coincidência junta. O clube está acéfalo e com um presidente que renunciou porque não entregaram o dinheiro prometido", analisou, à Rádio AM750, de Buenos Aires, Gustavo López, que participou da última edição presidencial do Independiente como vice-presidente.

"Já chegaram algumas propostas de empresas que poderiam comprar o clube. Não é a primeira vez que o macrismo ensaia a privatização dos clubes, convertendo muitos deles em sociedades anônimas."

"Não há outra explicação. Não vai aparecer nenhuma solução milagrosa. Estamos advertindo publicamente", finalizou López.

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Lenda do Independiente, Ricardo Enrique Bochini posta com a Copa Intercontinental
Imagem: Reprodução web

Carrasco brasileiro

Grande campeão da Libertadores em seus primórdios, o Independiente conquistou o título das edições de 1964, 1965, 1972, 1973, 1974, 1975 e 1984.

A equipe argentina deixou pelo caminho gigantes brasileiros como o Santos de Pelé, na semifinal de 1964, o São Paulo de Pedro Rocha, na decisão de 1974, e o Grêmio de Renato Gaúcho também na final de 1984, última Libertadores conquistada pelo clube de Avellaneda.

O último lampejo do Independiente foi também contra um brasileiro.

Foi em 2017, na Sul-Americana, superando o Flamengo no Maracanã superlotado em uma decisão das mais pesadas, com os flamenguistas brigando com a polícia e com os argentinos antes da partida.