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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Novo técnico do Flamengo, Jorge Sampaoli coleciona brigas; conheça 5 delas

Imagem icônica no futebol argentino: Sampaoli sobe em árvore para treinar time da cidade natal - Reprodução jornal "La Capital"
Imagem icônica no futebol argentino: Sampaoli sobe em árvore para treinar time da cidade natal Imagem: Reprodução jornal "La Capital"

Colunista do UOL

15/04/2023 07h12

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"No escucho y sigo, porque mucho de lo que está prohibido me hace vivir".

A frase, trecho da canção "Prohibido", da banda Callejeros, está tatuada no antebraço esquerdo de Jorge Sampaoli, anunciado ontem (14) como novo técnico do Flamengo.

Ela ilustra não apenas seu fanatismo pelo rock argentino como também seu temperamento um tanto quanto "loco", segundo a visão da maioria dos torcedores e jornalistas do país vizinho.

As confusões do treinador de 63 anos merecem releitura no fim de semana que marca o começo da sua história no clube de maior torcida do Brasil.

Sua biografia é recheada de encrencas, e a coluna repassa agora cinco delas.

O doido da árvore

Sampaoli era um técnico iniciante da várzea de Rosário quando foi expulso e precisou sair de seu posto em um campo que sequer contava com arquibancada.

Ele não se fez de rogado. Escalou a árvore que tinha atrás do muro que separava o campo da calçada e ficou comandando sua equipe, o Alumni, de Casilda, de lá. Jorge tinha 35 anos. A foto é clássica na Argentina.

Clássica também foi a sequência do que aconteceu com o elétrico careca pendurado na árvore. Ele mesclava as ordens aos seus jogadores com os insultos aos árbitros, e por pouco tudo não terminou em briga generalizada.

O improviso é um forte estilo próprio seu, que se define como um "filho da rua".

Sampaoli sempre foi autodidata e sempre teve uma frase das mais fortes para definir seus métodos de ensino: ''As ruas foram a minha universidade e as pessoas, principalmente as mais humildes, meus melhores mestres''.

Dizia que aprendeu mais em um ano convivendo com a barra-brava do River do que em sua vida toda ao lado dos milionários e badalados jogadores de futebol.

Boca x River dentro do banco

Sampaoli era canhoto e baixinho, o suficiente para ser chamado de Maradona em sua cidade, Casilda, na província de Rosário.

Mas não era a qualidade de seu futebol nos campos de várzea que o fazia ser comparado a Diego, e sim sua verdadeira obsessão pelo jogo. Falava sobre futebol 24 horas por dia e estava sempre por dentro de tudo o que rolava na Argentina e no exterior. De tão ansioso, chegava à banca de jornal mais perto da sua casa antes mesmo de ela abrir. ''Jorge era insuportável, andava sozinho repetindo escalações em voz alta'', contaram seus vizinhos da época às TVs argentinas em 2017.

sampa - Reprodução Twitter - Reprodução Twitter
Jorge Sampaoli na adolescência
Imagem: Reprodução Twitter

Jorge corria atrás da bola e atrás do sustento para seus sonhos esportivos. Trabalhou como caixa do Banco Santa Fe em Casilda justamente para bancar suas aventuras relacionadas ao mundo da bola. Tinha 19 anos. Aos 20, depois de brigar com um torcedor do Boca em plena agência, foi mandado embora.

O técnico sempre foi um apaixonado torcedor do River Plate. Sua obsessão era tamanha que ele pintava seu quarto com o vermelho e branco do clube e deu ao cachorro da família o nome de Beto Alonso.

Ia sempre ao Monumental de Núñez —mas não tinha dinheiro para pagar a entrada, e pulava as catracas com os demais colegas de Casilda.

Policial humilhado

Sampaoli jamais caiu no gosto do torcedor argentino em seus tempos de técnico da seleção. E aumentou consideravelmente seu número de detratores ao humilhar um policial na saída do casamento de sua filha, Sabrina, em Casilda, sua cidade natal.

O técnico estava num Ford Focus abarrotado por sete pessoas. Quando o policial parou o veículo e pediu que alguns dos passageiros descessem por motivo de segurança, Sampaoli teve de ser contido para não agredir o agente e ainda soltou uma frase lastimável: "Idiota, você ganha cem pesos por mês, estúpido".

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Sampaoli admitiu que a situação da Argentina é complicada
Imagem: Marcos Brindicci/Reuters

O filósofo e jornalista Miguel Wiñazki botou o dedo na ferida: "Sampaoli tem uma frase de Che Guevara tatuada no braço e fala assim do salário de alguém. É um falso".

A AFA o manteve no cargo, apesar de, àquela altura, ele já ter torrado a paciência dos cartolas (hiperativo demais, recebeu o apelido de "Chispita", o "Faisquinha"). Faltasse mais tempo para a Copa do Mundo disputada na Rússia, possivelmente teria sido demitido.

Outra polêmica em seu turno no comando da seleção argentina foi a famosa amizade com Pato Fontanet, vocalista dos Callejeros, banda envolvida na tragédia que matou quase 200 pessoas num incêndio na casa de shows República Cromañon, em Buenos Aires, em 2004.

Fontanet foi preso após ter sido julgado como um dos responsáveis pela catástrofe --e, atrás das grades na prisão de Ezeiza, recebeu a visita de Sampaoli, que liderava uma campanha por sua soltura.

O técnico sempre lidou com uma avalanche de críticas na imprensa argentina (onde foi chamado, entre outras coisas, de "cagão", "papudo" e "vendehumo", gíria para quem é uma fraude e tenta "vender fumaça").

Fúria santista

Jorge Sampaoli comandou o Santos em 2019 e colecionou histórias na Baixada. Ia para os treinos de bicicleta (roubada na porta de um banco) e presenteava as crianças que subiam nas árvores ao redor do CT Rei Pelé.

O treinador dizia que viver em Santos era a "melhor coisa que lhe aconteceu". Mas nem a paz da orla o impedia de dar chiliques como quebrar o cronômetro e chamar um torcedor para a briga na vitória sobre o Bahia na Vila Belmiro.

"Sobre o torcedor, me incomodei porque qualquer pessoa que tente provocar alguém do Santos me incomoda. Esse torcedor é seguramente do Bahia com a camisa do Santos. Por isso fiquei incomodado", falou.

Do cronômetro quebrado, explicou: "Fiquei muito bravo, me senti impotente e depois queria voltar atrás, mas já tinha perdido o relógio".

Loucura no alambrado

Sampaoli tampouco demonstrou maior controle no Atlético-MG.

Em sua despedida do Galo (3 a 2 no Sport na Ilha do Retiro em fevereiro deste ano), acabou sendo expulso, após insultar o árbitro Rodolpho Toski Marques.

O argentino levou cartão vermelho e invadiu o gramado, ainda durante a partida: "Você é um ladrão safado", gritava a Rodolpho.

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Sampaoli sobe no alambrado para xingar o árbitro
Imagem: Reprodução Twitter

O árbitro registrou na súmula que Sampaoli, mesmo depois de ser expulso, continuou o xingando no alambrado da Ilha do Retiro.

E mais: ainda relatou que seu auxiliar, Pablo Fernández, comemorou excessivamente o terceiro gol do Galo e provocou o banco do Sport. O alvo foi Emilio Faro, auxiliar de Jair Ventura, que quase trocou socos com o argentino.