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Tales Torraga

REPORTAGEM

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O Napoli de Maradona foi campeão burlando o antidoping?

Maradona jogando pelo Napoli - Dave Cannon /Getty Images
Maradona jogando pelo Napoli Imagem: Dave Cannon /Getty Images

Colunista do UOL

30/04/2023 04h00

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O Napoli vive um domingo (30) de apreensão com a iminência de conquistar o primeiro título italiano desde 1990, quando contava com o time histórico de Diego Maradona, Careca e Alemão.

Muita gente na Itália, porém, põe em dúvida os feitos daquela equipe de três décadas atrás. A desconfiança não é exclusividade das torcidas rivais.

O próprio presidente daquele Napoli, Corrado Ferlaino, deu uma explosiva entrevista em 2003 ao jornal italiano "Il Mattino" revelando que "salvou" o argentino inúmeras vezes naqueles tempos.

"Maradona sempre me critica, me considera um inimigo. Mas eu o salvei várias vezes, especialmente no antidoping", declarou então Ferlaino, que explicou como funcionaria o "esquema" de ajuda a Diego: a urina de outros jogadores era usada no lugar da de Maradona, que já convivia então com a dependência química por uso de cocaína.

"Moggi [diretor], Carmando [massagista] e o médico perguntavam aos atletas se estava tudo em seu lugar. Anos depois, soube que era um truque."

"Se alguém estava sob risco, pegava um vidro com a urina do outro. Quem ia para o antidoping escondia o vidro por baixo do calção. Em vez de urinar, colocava no recipiente a urina 'limpa' do companheiro."

Maradona foi flagrado no antidoping na Itália em 1991 — ano seguinte ao segundo dos dois títulos que o Napoli pode alcançar agora, 33 anos depois.

Sobre o flagra a Diego, Ferlaino afirmou ao "Il Mattino":

"Naquele dia, Moggi perguntou a Maradona se ele estava em condições. Ele respondeu que sim, que tudo estava bem. Os cocainômanos mentem para si mesmos".

"Das noites de domingo até quarta-feira, Diego ficava livre para fazer o que queria. Na quinta-feira, devia estar 'limpo'. Basta não consumir cocaína por um certo período que nada aparece no antidoping."

"Ele me acusa de tê-lo prendido em Nápoles. É verdade, mas ganhamos Scudettos [1987 e 1990] e a Copa da Uefa [1989]."

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Maradona comemora título italiano pelo Napoli
Imagem: Reprodução

Outra ajudinha

O título do Napoli em 1990 também é muito lembrado (e criticado) na Itália por arbitragens polêmicas.

Na entrevista de 2003, Ferlaino afirmou:

"Foi mais no segundo Scudetto. O Milan tinha um juiz amigo, Lanese. Éramos próximos de Lo Bello. O Milan foi jogar em Verona, e Lo Bello apitou. Aconteceu de tudo, expulsões...Perderam. O Napoli ganhou e metemos o título no bolso."

Em um Atalanta x Napoli, o ex-volante Alemão foi atingido por uma moeda, o que fez o Napoli ganhar os pontos da vitória (dois, na época, em vez de os três de agora).

"O Alemão foi atingido, mas ampliamos o caso", seguiu o então presidente do Napoli ao "Il Mattino".

"No início, ele não entendeu, mas o levamos ao hospital. Eu o visitei e, ao sair, falei com pesar aos jornalistas que ele não tinha me reconhecido. E ele estava bem. Hoje o Alemão vive com esse tormento dentro de si."

Na sequência da entrevista do presidente, Alemão confirmou o "teatro" no polêmico caso da moeda no Italiano de 1990.

"Ferlaino, enfim, disse o que ocorreu. Menos mal. A verdade é essa", disse o brasileiro à agência de notícias "EFE" também em 2003. Na ocasião, ele foi levado a um hospital com suposto traumatismo craniano e perda de memória.

Ao jornal "Corriere dello Sport", Alemão falou que foi levado a encenar a trama contra a Atalanta. "Eu queria voltar ao jogo, mas me levaram para o hospital. A vitória dada pelo juiz não serviu para ganharmos o título. Não é culpa nossa se o Milan perdeu do Verona na última rodada", disse.

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Careca abraça Maradona em partida do Napoli
Imagem: Reprodução Instagram Careca

Careca nega

Parceiro de Maradona naquele Napoli, Careca sempre negou a existência de tal esquema para favorecer o argentino no doping.

"Convivi quatro anos com o Maradona e nunca percebi nada", disse o atacante à coluna. "No antidoping sempre tinha muita gente, não tem como armar algum esquema. Na Itália, o Napoli é odiado pela rivalidade do Norte contra o Sul."

Em 2003, à "Folha de S.Paulo", Careca afirmou: "Ganhamos o título vencendo o Bologna por 4 a 2 fora de casa. Fiz o primeiro gol. Não sei o que deu na cabeça dele [Ferlaino] para falar tanta coisa. O Alemão foi, sim, atingido. A TV mostrou. Mas ele não teve perda de memória".

Maradona, logo depois da entrevista de Ferlaino, prometeu processar o dirigente, mas jamais levou a causa adiante. "Ele me dá pena", disse Diego ao jornal "Página 12" em setembro de 2003.

Ferlaino está com 91 anos. Afastado do futebol há exatas duas décadas, depois de uma curta passagem como presidente do Ravenna, ele é sempre mostrado pela imprensa italiana levando flores e camisetas ao santuário de Maradona no antigo Estádio San Paolo, hoje batizado com o nome do craque argentino.