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Jogam hoje: Colo-Colo x Boca já teve batalha e goleiro mordido por cachorro
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Colo-Colo e Boca Juniors fazem hoje, às 21h (de Brasília), em Santiago (Chile), um confronto de campeões da Libertadores em plena terceira rodada da fase de grupos da competição.
Há exatos 32 anos, os dois clubes se cruzaram nas semifinais, e o grande herói dos chilenos do Colo-Colo, campeões da competição daquele ano, foi um pastor alemão.
Para entender uma das histórias mais bizarras do futebol em todos os tempos é preciso voltar a maio de 1991. Aquele Boca era um timaço e eliminou dois gigantes brasileiros nos mata-matas. O Corinthians, nas oitavas, e o Flamengo, nas quartas.
Com o goleiro Navarro Montoya, o meia Diego Latorre e o atacante Batistuta como grandes destaques, o Boca era o grande favorito ao título daquela Libertadores de 1991. Para eles, superar os chilenos do Colo-Colo na semifinal era "um trâmite", como costumam dizer os portenhos.
Mas este clima de "já ganhou" foi explorado com maestria pela "raposa" que trabalhava no banco de reservas do adversário, o técnico uruguaio Luis Cubilla.
O jogo de ida cumpriu o script esperado. O Boca venceu o Colo-Colo na Bombonera por 1 a 0, gol de Graciani logo aos 7 minutos.
Batalha de Macul
No dia 22 de maio, no Estádio Nacional de Santiago, o jogo de volta das semifinais ficou gravado como a "Batalha de Macul", chamada assim pelo bairro onde fica o Colo-Colo.
Logo na chegada ao aeroporto de Santiago, os jogadores do Boca deram entrevistas irritados com a hostilidade da torcida e da polícia. O técnico do Boca naquela Libertadores era alguém muito conhecido do brasileiro até hoje.
Estamos falando do "Maestro" Óscar Tabárez, técnico da seleção do Uruguai.
Tentando acalmar seus jogadores, o "Maestro" Tabárez não revidou às provocações e prezou pela calma ao planejar a partida, mas tal calma era impossível no superlotado Estádio Nacional mesmo com a noite gelada.
Mais de 70.000 torcedores transbordaram as arquibancadas e o clima era mesmo de guerra - ou batalha, como aquela semifinal ficou famosa.
O árbitro foi o brasileiro Renato Marsiglia, que entrou no vestiário no intervalo satisfeito com o 0 a 0 que não sinalizava maiores incidentes.
Mas no segundo tempo veio a explosão de loucura.
O Colo-Colo fez 2 a 0 ainda aos 20 minutos do segundo tempo, mas o Boca logo descontou, gol de Latorre, hoje um dos principais comentaristas da TV argentina. O 2 a 1 classificaria o Boca, e o Colo-Colo precisava desesperadamente do terceiro gol, que acabou saindo com o atacante Martínez, a oito minutos do fim.
A comemoração do gol salvador não foi exatamente uma festa, e sim uma briga generalizada entre policiais, torcedores, jogadores do Boca e até fotógrafos.
Até fotógrafos
Fotógrafos? A imprensa argentina revelou nos dias seguintes que eles, na verdade, eram torcedores disfarçados que estavam em campo para amedrontar os jogadores do Boca.
Os atletas trocaram socos e chutes, mas levaram a pior sendo atingidos com as antigas máquinas fotográficas e os pesados "flashs" de antigamente.
Em uma cena das mais famosas daquela batalha, o técnico Tabárez foi filmando sangrando, reclamando que havia sido atingido por um desses torcedores que se passaram por fotógrafos.
O "gongo" soou logo a seguir. Para separar a briga, a polícia chilena entrou em campo com vários cães da raça pastor alemão.
Um deles, chamado de Ron, deu uma dentada certeira nas nádegas do goleiro Navarro Montoya, e esfriou toda a fúria dos jogadores do Boca, que recuaram e voltaram para completar a partida - que terminou, afinal, com vitória e classificação do Colo-Colo com um 3 a 1.
A cena do cão mordendo o traseiro Montoya ficou mais famosa do que qualquer gol ou qualquer volta olímpica do Colo-Colo naquele título.
A imagem rodou o mundo e é uma das mais famosas de todos os tempos para mostrar a época mais bélica da Libertadores.
Para completar, Óscar Tabárez e Blas Giunta, técnico e volante do Boca, terminaram presos depois das agressões em pleno gramado.
O escândalo não intimidou o Colo-Colo, que alimentou a fama de Ron e o elevou a herói nacional antes e depois da decisão que venceria contra o Olimpia, do Paraguai.
O pastor alemão estampou capas de jornal e de revista no país. Foi mostrado até na televisão. Ganhou uma carteira de sócio do Colo-Colo e virou o mascote do clube naquela conquista.
Ron, porém, não viveria muito tempo mais. O pastor alemão morreu de ataque cardíaco em 5 de dezembro de 1992, data em que até hoje muitos torcedores vão à sua lápide deixar flores.
Seu enterro foi como o de um verdadeiro ídolo do clube, e o espaço onde ele está enterrado tem a seguinte inscrição: "Aqui jaz o nobre pastor alemão, baluarte de sua raça e exemplo para a espécie humana".
O próprio Colo-Colo em suas redes sociais faz questão de lembrar-se de Ron e de sua dentada em Navarro Montoya.
Em 2018, o clube postou no Twitter uma foto do cão com a mensagem de que ele "há 26 anos havia ido ao céu dos cachorros para morder goleiros".
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