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Tales Torraga

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Afiados, Boca e River podem romper domínio brasileiro desta vez

Colunista do UOL

30/06/2023 08h52

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O Boca Juniors surpreendeu ontem (29) à noite na Bombonera lotada. Menos pelo adversário, o Monagas, da Venezuela, varrido por 4 a 0, e mais por uma interessante mexida no time levada adiante pelo técnico Jorge Almirón, que assumiu a equipe há dois meses e duas semanas .

Almirón formou aquilo que os argentinos chamam de "tandenes", as "tabelinhas" entre os laterais e os meias.

Ele avançou o promissor Valentín Barco (de apenas 18 anos), lateral-esquerdo de ofício, e o colocou entre o meio-campo e o ataque, "segurando" Frank Fabra na última linha de defensores.

Tal tentativa já havia sido colocada em prática pela direita, com Weigandt e Advíncula (desfalque ontem por lesão).

O time encaixou contra o Monagas e mostrou uma formação que pode sim complicar a vida de qualquer adversário no mata-mata desta Libertadores. O Boca, vale lembrar, passou de fase como o primeiro do seu grupo.

Outro ponto alto da equipe é o volante Alan Varela, no alto dos seus 21 anos, que ontem à noite também brilhou. Ele vinha sendo pouco aproveitado pelos técnico anteriores e tem correspondido ao cartaz de ser uma das grandes promessas xeneizes dos últimos tempos.

A Bombonera em chamas vibrou com a sensação de que a penúria ficou para trás. Será interessante acompanhar como Almirón (vice-campeão da Libertadores com o Lanús em 2017) vai armar suas equipes daqui por diante.

O próximo mercado de passes é considerado o mais importante da gestão Juan Román Riquelme (no cargo de vice-presidente de futebol desde 2019). A chegada de atacantes e zagueiros é urgente. O ídolo máximo da história do clube sabe que só uma boa campanha na Libertadores vai assegurar sua vitória nas eleições presidenciais do Boca em dezembro.

mil - Divulgação CARP - Divulgação CARP
Matías Suárez comemora gol do River Plate
Imagem: Divulgação CARP

River crescendo

Outro time argentino que começou mal e terminou bem a fase de grupos foi o River Plate.

O gigante de Núñez finalmente equilibrou sua defesa com o seu ataque. Nos últimos dois jogos, contra Fluminense e The Strongest, fez quatro gols (dois 2 a 0) e não sofreu nenhum. Aleluya.

O zagueiro Ramiro Funes Mori, que se destacou até pela seleção argentina, está de volta para suprir a carência do time no setor. Este River do meio para a frente joga um futebol refinado e combativo. É o melhor time do futebol argentino nos últimos tempos, comparável àquele River de Marcelo Gallardo em 2019, a sua melhor versão em oito temporadas e meia pelo clube.

O Monumental de Núñez com sua capacidade recorde, sempre lotado com 86.000 torcedores, é outro ponto de desequilíbrio nesta Libertadores. Nem dá para dizer que é um alçapão, tamanha a magnitude do estádio, palco de 12 vitórias nos 13 jogos de Demichelis no comando da equipe até aqui.

A sensação de novidade no clube, a famosa "fome de vitórias", também merece ser destacada.

O técnico é recém-chegado e, de todos os titulares, apenas o goleiro Armani, o lateral-esquerdo Casco e o meia Nacho Fernández são remanescentes dos títulos anteriores.

A sensação na Argentina é que desta vez há chances maiores de romper o domínio brasileiro na Libertadores do que nos anos anteriores.

É preciso ressaltar que o histórico é plenamente desfavorável aos argentinos.

Dos últimos dez mata-matas contra os brasileiros, os vizinhos perderam nada menos que nove (a exceção foi o Estudiantes x Fortaleza das oitavas do ano passado com classificação do time de La Plata).

Interessante observar também a diferença no calendário.

As oitavas de final vão começar no próximo dia 17, mostrando, até lá, o seguinte volume de jogos oficiais nesta temporada para River (34 jogos), Boca (34), Palmeiras (43) e Flamengo (47).

É uma diferença considerável que expõe os brasileiros ao cansaço e às lesões.

Argentinos Juniors e Racing deixaram times brasileiros para trás na fase de grupos.

O "Bicho da Paternal" eliminou o Corinthians, ganhando uma e empatando outra, provando que o time do técnico Gabriel Milito pode ter suas limitações, mas é, sim, um time. E bem treinado, por sinal.

O Racing comprovou aquilo que a coluna vinha dizendo desde janeiro: nas mãos de Fernando Gago, teria chances sim de surpreender nesta Libertadores.

O primeiro espanto veio na fase de grupos ao superar o Flamengo de Jorge Sampaoli e se classificando na liderança da chave.

Há uma incógnita para a sequência da Libertadores em saber como o time vai se comportar sem Matías Rojas, seu melhor jogador, acertado com o Corinthians.

Pelo que vem sendo visto até aqui, uma hipotética ordem de forças entre os argentinos para a sequência da Libertadores seria: River, Boca, Argentinos e Racing.

Que o torcedor brasileiro guarde bem esta ordem para o sorteio do mata-mata, na quarta-feira que vem, e cruze os dedos para que ocorram os possíveis Boca x River e Racing x Argentinos, diminuindo bastante os problemas dos times do país até a finalíssima de novembro no Maracanã.