Tite está no top-3 de técnicos de seleções
Depois de um ano atípico, com apenas quatro jogos realizados e 100% de aproveitamento, a seleção brasileira terá uma agenda cheia em 2021. São dez datas reservadas para a disputa das Eliminatórias Sul-Americanas à Copa do Mundo do Qatar 2022 e mais oito possíveis jogos pela Copa América, caso chegue à final.
Quando Tite assumiu o comando da seleção brasileira em junho de 2016, ele foi apontado com o salvador da pátria, pois o Brasil passava por um momento complicado na busca pela classificação ao Mundial da Rússia. Mas bastou a queda nas quartas de final da Copa de 2018, diante da Bélgica, para o treinador ser questionado pela imprensa e torcida.
Porém, o aproveitamento do ex-volante de 59 anos no cargo é excelente. Em 52 jogos, foram 38 vitórias, dez empates e quatro derrotas (três em amistosos e a queda diante dos belgas), o que representa aproveitamento de 79%. Além disso, foram 112 gols a favor e 19 sofridos.
Por essas e outras, ainda o vejo como a melhor opção para conduzir a equipe canarinho. Entre as seleções de ponta, acredito que o Tite esteja no top-3 dos melhores treinadores à frente de equipes nacionais, independentemente de outros países terem ganho as duas últimas Copa do Mundo, com Didier Deschamps, em 2018 pela França, e o Joachim Löw, em 2014 pela Alemanha.
Para se ter uma dimensão, há poucos dias, a IFFHS (Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol) divulgou os melhores técnicos de seleções nacionais da última década (entre 2011 a 2020). Mesmo sem ter conseguido o desejado hexacampeonato há cerca de três anos, Tite ficou na terceira colocação da lista, justamente atrás de Löw e Deschamps.
Ele faz jus para figurar neste seleto grupo. Tite trabalhou em vários clubes de massa. Temos a tendência de achar que os times aqui no Brasil são menores que os da Europa. Mas por eu ter jogado por muitos anos na Alemanha, pelo Borussia Dortmund, e também ter passado por Sporting (Portugal), garanto que isso não é verdade. Claro, há times europeus mais organizados, com estrutura de ponta e pagamento em dia, mas isso não significa que são melhores e mais importantes que os nossos clubes.
Tite passou por grandes times brasileiros e foi campeão dos principais torneios nacionais e internacionais. Ele tem em seu currículo o título da Copa do Brasil pelo Grêmio e da Copa Sul-Americana pelo Internacional, além de ter empilhado taças no Corinthians ao conquistar o Brasileirão, a Libertadores e o Mundial de Clubes. Ele foi o último brasileiro a conseguir este feito no difícil torneio da Fifa e ainda se tornou o técnico mais vitorioso da história do Alvinegro paulista.
Obviamente, ninguém é perfeito e completo. Mas enxergo no Tite as principais virtudes para ser um treinador de ponta. Ele detém, como poucos, o entendimento tático coletivo e tático individual, sabe gerir o grupo e o emocional, coordena com maestria o entorno (ter jogo de cintura, paciência e postura para conviver diariamente com a imprensa, torcida e diretoria) e, principalmente, domina a arte de conduzir cada atleta do elenco, sendo medalhão, coadjuvante ou um jovem recém-alçado.
É bom frisar que entendimento tático coletivo e tático individual são completamente diferentes, mas que se completam em determinados momentos em campo. Há muitos treinadores que dominam a parte coletiva, mas que não sabem explorar o talento individual de um jogador. Por mais que o futebol seja um esporte coletivo, as ações individuais costumam definir vitórias e derrotas, como um erro grosseiro, um drible ou um chute bem encaixado. São estes lances que realmente mexem no placar do jogo.
Às vezes, o treinador pode dispor de tudo isso, mas não toma as decisões no momento certo nem coloca o ser humano à frente dos resultados. Mas o gaúcho de Caxias do Sul faz isso com muita habilidade. Ele tem a sensibilidade para explorar a tática individual ao chamar o atleta e posicioná-lo no lugar e na hora certa para que o coletivo também cresça.
Ninguém é unânime, evidente, mas a maioria dos jogadores que trabalhou com o Tite declara que foi atendido, acolhido e visto por ele, mesmo que tenha sido reserva.
Antes que alguns me questionem, deixo claro que tenho total ciência que nomes como Jürgen Klopp, Pep Guardiola, José Mourinho, Diego Simeone, Luiz Felipe Scolari, entre outros profissionais renomados, poderiam e têm totais condições de estarem à frente de uma seleção. Mas a régua é alta, ou seja, nem sempre a escolha é do treinador, há inúmeros fatores que são considerados para uma federação colocar um técnico naquele posto.
Além disso, a visão e a exigência na Europa são diferentes. Os treinadores preferem o envolvimento diário do trabalho no clube e buscam metas ambiciosas, como conquistar a Liga dos Campeões da Europa. Já as seleções encaram períodos sazonais, em eliminatórias, Liga das Nações e Mundiais. O lado financeiro também pesa, visto que Liverpool, Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madri, Tottenham e Manchester United pagam muito mais do que as federações nacionais, lógico. Tanto que nenhum comandante de seleção figura na lista dos 20 técnicos mais bem pagos do futebol mundial.
Lição para a vida
Sempre tive uma relação muito boa com o Tite, desde quando ele chegou ao Grêmio, em 2001. São inúmeras lembranças e aprendizados, mas um episódio me marcou. Tínhamos um jogo sem muita importância pelo Campeonato Brasileiro de 2001, às vésperas da decisão contra o São Paulo pelas quartas de final da Copa do Brasil.
Talvez por falta de concentração e por estar com o ego inflado por ter sido convocado à seleção ainda muito jovem, fui muito mal naquela partida. O Tite conversou comigo, e eu prometi que era apenas um momento e que iria me redimir. Mesmo assim, voltei a ter uma atuação abaixo contra o São Paulo e acabei sendo sacado do time. Foi então que ele me disse algo que carrego até hoje: "Tinga, em tudo na vida, a gente não escolhe o dia e momento certo para fazer bem as coisas bem feitas. Não somos automáticos como um computador, que ligamos e desligamos quando desejamos".
A partir daquele dia, comecei a encarar os treinos como se fossem jogos, parte física era jogo, concentração era jogo... Levei isso comigo para dentro do campo até os meus 37 anos, quando me aposentei. Antes, eu achava que poderia tirar o pé quando a partida era pelo Gauchão, e que voltaria arrebentando na semana seguinte se o compromisso fosse pela Libertadores.
A vida é assim, porque um médico não pode achar que hoje ele não vai se doar o máximo, uma vez que amanhã vai ter a convicção que poderá tratar e curar os seus pacientes. É isso que eu digo sobre técnico que te deixa um legado, que te passa algo para mudar a tua vida. O Tite é uma referência.
A seleção brasileira volta campo no fim de março, quando enfrenta a Colômbia, e, na semana seguinte, tem pela frente o clássico contra a Argentina, na Arena Pernambuco.
E Tite já pode contar com a minha torcida, pois sempre estive ao seu lado e sempre estarei.
*Com colaboração de Augusto Zaupa
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