Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Rivalidade Gre-Nal tem impacto positivo com Douglas Costa e Taison
A Série A do Brasileirão terá início neste fim de semana. Para encarar este duro campeonato, a dupla Gre-Nal trouxe dois velhos conhecidos de seus torcedores: Douglas Costa e Taison. Além de identificação com os clubes que os revelaram, os dois atletas têm em comum o fato de terem atuado juntos no ucraniano Shakhtar Donetsk e na seleção brasileira - inclusive, estiveram no grupo que disputou a última Copa do Mundo, em 2018, na Rússia.
Estes retornos de jogadores que passaram cerca de dez anos na Europa e voltam aos seus times formadores sempre chamam muita atenção. Estas repatriações enriquecem o Brasileiro, os ânimos dos clubes e as esperanças das torcidas envolvidas.
É preciso estudar cada caso separadamente, mas o impacto neste caso especifico da dupla Gre-Nal é muito positivo até o momento. Esta rivalidade é tão grande que é transferida para fora do campo. Há uma queda de braço para demonstrar as suas forças até no mercado da bola. Vide a final do Gauchão. Mesmo com eles sem condições de jogo, foram o foco das atenções, com debates de qual lado fez a melhor contratação.
Por terem atuado por uma década na Europa, eles trazem conteúdo para as equipes, viraram o símbolo destes times, tanto dentro como fora dos gramados. Eles irão 'vestir as camisas' de Grêmio e Internacional nas 24 horas do dia. Quantos atletas destes patamares regressam, se tornam a personificação do clube. O torcedor enxerga estes ídolos como espelho dos seus times a todo momento, independente de onde estejam. Tenho know how para falar desta rivalidade, pois atuei duas vezes em cada um destes times do Rio Grande do Sul.
Como já mencionei, eles têm pontos semelhantes nas suas carreiras. Iniciaram nas categorias de base dos dois maiores clubes da região Sul do Brasil, foram para o futebol ucraniano no mesmo ano, em 2010, para iniciarem as suas carreiras de sucesso na Europa e são torcedores declarados pelos times onde começaram.
O torcedor brasileiro busca cada vez mais isso. Ele quer alguém que se identifique e que se comprometa cada vez mais com o clube. As jovens promessas têm saído do Brasil muito cedo e isto impede que haja laços entre torcida e jogador. E com Taison e Douglas Costa isto não foi diferente, pois ambos aturam pouco tempo como profissionais dos seus times de coração.
O Taison foi um dos protagonistas na última grande conquista colorada, a Copa Libertadores de 2010. Isso acaba renovando a memória do torcedor, traz confiança e esperanças para que a história possa se repetir. Já no caso do Douglas, mesmo sem ter tido tempo ideal para ter ganho algum título com o time principal do Grêmio, ganhou grande vivência em potências europeias, como Bayern de Munique e Juventus, e isso desperta o imaginário do torcedor, que muitas vezes acompanha mais afinco a Champions League do que o próprio Campeonato Brasileiro.
Nestes processos de repatriações de atletas que possuem laços afetivos com os clubes, sempre mencionam o amor pelas agremiações. Mas lógico que há uma matemática toda por traz disso. Ninguém vai voltar ao Brasil, ainda com capacidade para desemprenhar por mais algumas temporadas, para jogar de graças.
Lógico que eles abriram mão de algumas coisas, as cifras seriam muito maiores se fossem para o futebol da China ou de países árabes, pois nestes mercados os salários são muito mais lucrativos devido às moedas que envolvem os acordos.
Os 'velhos novos reforços' da dupla Gre-Nal já se pagaram. O lado azul e o lado vermelho já lucraram com as vendas dos direitos econômicos de ambos no passado e ainda receberam outras quantias devido ao mecanismo de solidariedade da Fifa, já que os clubes formadores têm direito a 2,8% da negociação do atleta. Agora, eles que irão receber parte deste montante que ajudaram para reforçar os caixas. E vale destacar que, ainda jovens, tinham rendimentos mensais modestos por ainda serem promessas.
A outra conta que precisa ser levada em consideração é a performance. Se eles ajudarem os seus times na briga pelos títulos do Brasileiro, da Libertadores, da Sul-Americana ou da Copa do Brasil, a conta será ainda mais positiva, visto que o sucesso dentro de campo é mais valorizado no futebol. Os projetos dos dois lados têm tudo para dar certo.
Desta forma, não vejo riscos financeiros nos planejamentos de Grêmio e Inter por trazerem jogadores com salários de nível europeu. Acredito que as diretorias se planejaram, aliviaram folhas salariais e analisaram os seus balancetes para que a matemática feche positivamente. O problema só irá ocorrer se os clubes não honrarem depois os compromissos com os demais funcionários.
Só flores?
Mas quem esta lendo esta coluna pode pensar: 'o Tinga só vê flores nestas duas contratações'? O único risco que vejo está relacionado à liderança.
Acho perigoso impor que o Douglas e o Taison serão os novos líderes de Grêmio e Inter, respectivamente. Pelos mais de dez anos atuando em grandes ligas, como a Champions, lógico que possuem este perfil. Mas, independentemente de qual seja o setor, seja no esporte ou em outro segmento, liderança não se impõe, e sim se conquista. Esta ascendência perante ao grupo será adquirida com as experiências com o novo grupo, e não pela carga que carregam do passado. Não interessa o que foi feito fora.
Em 20 anos como jogador profissional, fui campeão em quase todos os clubes. Ganhei em times fortes, outros nem tanto, em grupos que tinham ótima convivência e até em elencos não tão amigáveis. Porém, o principal alicerce foi que em todos os times em que triunfei sempre havia três ou quatro líderes, ou mais. Grêmio e Inter já possuem as suas referências em seus grupos. Taison e Douglas chegaram para agregar.
Na minha segunda passagem pelo Internacional, quando cheguei com a temporada já em andamento e a Copa Libertadores pela metade, o técnico Celso Roth me chamou para conversar antes de um amistoso com o Peñarol, durante o recesso para a Copa do Mundo da África do Sul, e falou que eu seria o capitão. À época, a braçadeira era do Guiñazu. Agradeci ao Celso, mas disse que não poderia assumir o posto naquele momento, mas que não iria mudar em nada a minha relação e a forma de tratar os demais jogadores. A faixa de capitão nunca me impediu de fazer algo ou me deixou empolgado para tomar atitudes que não condiziam comigo.
O Celso Roth até brincou ao me perguntar se eu achava que não iríamos ser campeões da Libertadores, pois eu que seria o encarregado de levantar a taça em caso de título, o que se concretizou meses depois. Respondi que acreditava e muito, e por isso não achava justo com os demais atletas que já estavam no elenco há um tempo, que participaram de todo o processo de classificação para chegar ao torneio. Trabalhei com líderes natos que não faziam questão de ostentar uma braçadeira, que é apenas um adereço.
Ser líder na Europa é totalmente diferente. Você não tem a responsabilidade de dar as caras para a imprensa e para a torcida.
Liderança precisa ser respaldada por sensibilidade, persuasão e competência. E diretoria e liderança precisam estar lado a lado.
Desejo sorte aos dois, porém um pouco mais ao meu novo vizinho Taison.
*Com colaboração de Augusto Zaupa
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.