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OPINIÃO

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Red Bull Bragantino é a nova realidade no futebol brasileiro

Artur carrega a bola em jogo do Red Bull Bragantino - Ari Ferreira/Red Bull Bragantino
Artur carrega a bola em jogo do Red Bull Bragantino Imagem: Ari Ferreira/Red Bull Bragantino

02/07/2021 04h00

Repetindo a fórmula que foi adotada na Europa, o Red Bull Bragantino é sensação nestas primeiras rodadas do Brasileirão ao liderar o torneio de forma invicta (cinco vitórias e três empates). Porém, não vejo esse início empolgante como surpresa. Na verdade, a surpresa foi o time ter seguido na Série A no ano passado e ainda ter obtido vaga na Copa Sul-Americana — tanto que se classificou às oitavas de final.

Assim como fez no fenômeno RB Leipzig, no austríaco Red Bull Salzburg e o no americano New York Red Bulls, a empresa-mãe que banca os clubes sabe as particularidades de cada mercado e suas demandas. Mas em todos os casos a multinacional de bebidas enérgicas busca uma gestão moderna, e no caso da equipe do interior de São Paulo é evidente que está sendo feita uma administração bem diferente do que é realizada na elite do futebol brasileiro.

Um dos principais pontos desta gestão eficiente é contratar jovens jogadores, com potencial de crescimento que possam render lucro em futuras vendas de direitos econômicos. Para montar este time que figura na ponta da tabela do Brasileirão, foram gastos cerca de R$ 150 milhões para contratar atletas de até 23 anos — os mais caros foram o meia Bruno Praxedes (pagou R$ 35,9 milhões para tirá-lo do Internacional) e Artur (R$ 25 milhões ao Palmeiras).

Ytalo e Claudinho comemoram gol do Red Bull Bragantino em jogo contra o Atlético-GO - Diogo Reis/AGIF - Diogo Reis/AGIF
Ytalo e Claudinho comemoram gol do Red Bull Bragantino em jogo contra o Atlético-GO
Imagem: Diogo Reis/AGIF

Tenho o costume de conversar sobre futebol com os profissionais que ainda estão em atividade, tanto atletas como treinadores. Em um destes bate-papos, debati com o Roger Machado, técnico do Fluminense, sobre a forma como o Red Bull gosta de propor o jogo, de forma intensa, mas simples.

Os jogadores costumam ter liberdade para atuar, vide como o Artur e o Claudinho se comportam em campo. Eles estão livres para driblar, recompor, atacar... Ao mesmo tempo que apresenta um sistema organizado, o Bragantino joga de uma forma bem abrasileirada, com os volantes aparecendo em diferentes setores do campo, mas todos estão cientes de suas responsabilidades ao longo da partida. Tanto que ficou muito claro que assumiram o risco de buscar o resultado positivo na vitória sobre o forte Flamengo, em pleno Maracanã.

O fato de ter um treinador novo também é determinante. O Maurício Barbieri tem apenas 39 anos, mas com bagagem no futebol por já ter comandado o Flamengo, mas, principalmente, por trabalhar já há algum tempo com categorias de base. Isto o dá lastro para saber como comandar um grupo recheado de promessas que podem dar lucro com futuras negociações. As tomadas decisões são muito bem planejadas e o Barbieri sabe muito bem quem indicar na busca por reforços. Um treinador mais rodado talvez não saiba como conduzir e se comunicar com um elenco tão jovem.

Este olhar voltado aos jovens já tem gerado resultado e alguns frutos já estão sendo colhidos, como as convocações de Léo Ortiz à seleção principal para disputar a Copa América e de Claudinho (artilheiro, craque e revelação do Brasileirão 2020), chamado para selecionado olímpico que disputará os Jogos de Tóquio. O Claudinho atua numa posição quase extinta no futebol nacional, que é o camisa 10, um jogador de centro com habilidade. Atualmente, só temos revelado pontas/extremas ou jogadores de beirada (são tantas novas nomenclaturas).

Clube-empresa é a solução

O modelo adotado pelo Red Bull Bragantino despertou a atenção e criou expectativas nos torcedores pelo fato que esta proposta pode gerar potências financeiras no país. O projeto de clube-empresa já não é mais opcional, e sim a única saída pela forma como o futebol brasileiro vem sendo conduzido nas últimas décadas. O nosso futebol está caro e, mesmo assim, ninguém é dono destas contas. A cada nova diretoria a culpa pela má administração é jogada no colo da gestão anterior. Ninguém é responsável por nada.

Quando havia o Clubes dos 13, que já não era uma divisão justa e igualitária, os times tinham condições de pagar melhor, em dia e não tinham dívidas astronômicas, como hoje. Atualmente, temos, quiçá, cinco clubes com boa saúde financeira, que conseguem honrar com os compromissos atuais e ainda pagando dívidas antigas.

Se o clube-empresa não se tornar realidade no Brasil, a cada ano um grande clube vai morrer. Nas últimas temporadas, sempre tem uma potência batendo na trave para cair à Série B, basta vermos que hoje Cruzeiro, Vasco e Botafogo lutam para regressar à primeira divisão. E ressalto que as verbas também foram reduzidas, o que impacta, e muito, nos planejamentos dos times.

Mas nada vai adiantar adotarmos o modelo clube-empresa se os dirigentes seguirem os mesmos. É preciso escolher profissionais de confiança, com conhecimento e credibilidade, como fez o Red Bull Bragantino ao contratar o Thiago Scuro como diretor-executivo. O sucesso de gestão já fez grandes clubes o procurar para assumir o comando do futebol, mas ele recusou ofertas apenas por mais visibilidade. Scuro acredita e sabe conduzir um clube-empresa, pois são poucos no Brasil que têm conhecimento para isso. Há metas, resultados, contas a serem respeitadas.

*Com colaboração de Augusto Zaupa