Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Portugueses dominam trinca dos mais ricos do futebol brasileiro
Com Augusto Zaupa
Tudo indica que o futebol brasileiro terá de volta mais um treinador português. Se aceitar a oferta do Atlético-MG, em reunião virtual marcada para a noite de hoje (3), Jorge Jesus será o terceiro profissional a atravessar o Oceano Atlântico. Desta forma, os três clubes mais fortes, tanto tecnicamente como financeiramente, serão comandados por profissionais lusos.
O Palmeiras já conta com os serviços de Abel Ferreira, que levou o clube aos títulos das duas últimas edições da Copa Libertadores. Já o Flamengo, que também sonhou com o retorno de Jesus, fechou com Paulo Sousa, ex-treinador da seleção da Polônia.
É legítimo os clubes brasileiros procurarem técnicos oriundos de Portugal porque o principal objetivo dos nossos times sempre foi a conquista da América, sendo que desde 2019 só os lusos ficaram com a taça.
Isso facilita para a diretoria de uma equipe justificar o fato de trazer estes europeus. Lógico que nem todos serão o Abel ou Jesus. Independentemente de serem portugueses, são ótimos treinadores e já demonstrara, tornando-se referências para outros clubes que entram no embalo. Isto é um risco. Santos e Athletico são exemplos disto, quando trouxeram Jesualdo Ferreira e António Oliveira. É importante frisar que há treinadores bons e ruins, tanto em Portugal como aqui no Brasil. Isso se aplica para todas as nacionalidades e profissões.
Quando atuei pelo Sporting na temporada de 2004, trabalhei com dois treinadores portugueses, Fernando Santos e José Peseiro. À frente da seleção portuguesa, o Fernando Santos obteve dois grandes feitos: títulos da Liga das Nações de 2019 e da Eurocopa de 2016.
Apesar de ter trabalhado com eles há mais de 15 anos, posso afirmar que as partes táticas e técnicas variam pouca coisa em relação aos treinadores alemães e brasileiros com quem atuei ao longo da minha carreira. O que realmente faz a diferença quando um português desembarca aqui no Brasil para trabalhar no nosso futebol é que ele não está influenciado por nada do ambiente que envolve os clubes brasileiros.
Estes treinadores estrangeiros não querem saber como as torcidas organizadas se portam, dão de ombros aos repórteres mais críticos e às análises de mesas de debate após as rodadas, não se importam para os jogadores mimados e que reclamam. Eles chegam aqui sem vícios, sem essas influências. Isto facilita muito, pois chegam aqui tranquilos e focados no trabalho.
Caso saia tudo errado, eles simplesmente colocam o dinheiro no bolso, viram as costas e voltam para casa. É diferente para os brasileiros, porque eles precisam conviver com as pressões, as pessoas, os mesmos ambientes no dia seguinte que são mandados embora.
Libertadores vira eldorado para os gringos
O futebol brasileiro é tão grande que o principal exportador de jogadores pelo mundo, tanto que tem 63 representantes na Liga dos Campeões espalhados por 23 dos 32 clubes. Por ser atualmente o futebol mais rico da América do Sul, também ajuda, e muito, para seduzir estes gringos, que almejam montar elencos fortíssimos para brigarem pelo título da Libertadores.
A Libertadores tornou-se eldorado para estes profissionais. A conquista da América pode os colocar em grandes potências da Europa. Tanto que o Jorge Jesus foi cogitado pelo Everton e outros clubes do Velho Continente após os títulos de 2019, mas regressou para o Benfica, onde estava até recentemente.
Agora é a vez do Abel Ferreira ser citado pela imprensa europeia quando um clube europeu busca um treinador no mercado.
O Campeonato Brasileiro é muito visado, notado lá fora, o mundo o vê. Nosso futebol é um trampolim para a Europa, mesmo para os treinadores provenientes de países deste continente.
Agora, será a vez do Paulo Sousa provar se é capaz de manter a régua lá no alto.
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