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Vinte e Dois

Playoffs mostram que pivôs não estão em extinção na NBA, e sim em evolução

Nikola Jokic, do Denver Nuggets, encara a marcação de Anthony Davis, do Los Angeles Lakers, durante jogo dos playoffs da NBA - Mike Ehrmann/Getty Images
Nikola Jokic, do Denver Nuggets, encara a marcação de Anthony Davis, do Los Angeles Lakers, durante jogo dos playoffs da NBA Imagem: Mike Ehrmann/Getty Images

Lucas Pastore

Colunista do UOL

22/09/2020 04h00

Embora seja tradicionalmente usada como sinônimo de melhora, a palavra evolução tem um conceito original ligado à adaptação ao ambiente e à capacidade de sobrevivência. É isso que os pivôs têm mostrado na fase decisiva dos playoffs da NBA. Em uma liga em que jogadores da posição brigam por relevância em meio a um modelo de jogo que pouco os favorece, as finais de conferência mostram exemplos de que ainda há espaço e até protagonismo para os grandalhões.

O sucesso do Golden State Warriors acelerou uma revolução analítica na NBA, que bate recordes sucessivos de arremessos de três pontos enquanto desencoraja o jogo de costas para a cesta. Tudo apoiado em estudos estatísticos. A combinação colocou pivôs em cheque: Roy Hibbert, peça chave do Indiana Pacers que levou o Miami Heat de LeBron James, Dwyane Wade e Chris Bosh a sete jogos em 2013 e a seis em 2014, estava fora da liga em 2017.

Mas os playoffs mostram que os grandalhões precisavam apenas de tempo para se adaptar à nova realidade tática da liga americana de basquete. Nikola Jokic, pivô de 2,13m do Denver Nuggets, converteu 43,2% das 88 bolas de três que tentou desde o início da pós-temporada. É o 21º melhor aproveitamento entre todos os jogadores que tentaram ao menos dois arremessos do tipo nos jogos eliminatórios.

Daniel Theis, pivô de 2,03 do Boston Celtics, tem taxa de conversão de apenas 16,7% nos playoffs, queda acentuada em relação aos 33,3% que apresentou durante a temporada regular, mas mesmo assim tentou 24 arremessos de três na pós-temporada. O famoso Shaquille O'Neal chutou 22 bolas de longa distância em toda a sua carreira, que foi de 1993 a 2011.

Apesar de ser listado originalmente na posição 4 e de declarar abertamente que não gosta de atuar como pivô, Anthony Davis talvez seja o melhor exemplo das novas funções que jogadores de garrafão exercem em quadra. Com 2,08 de altura, o astro dos Lakers tem médias de 28,7 pontos, 10,7 rebotes e 3,9 assistências em 35,1 minutos na pós-temporada, convertendo 40% de seus arremessos de 3, matando a bola que decidiu o jogo 2 contra os Nuggets e se estabelecendo como candidato a destaque dos playoffs.

Se antes o que se esperava dos pivôs era basicamente força física, rebotes e pontos ao redor do garrafão, hoje é preciso ser mais versátil, podendo exercer várias funções no ataque e precisando se adaptar aos adversários na defesa. É assim que os pivôs finalistas de conferência ganharam relevância nos seus times.

Cada vez mais, times da NBA defendem ataques em dupla com trocas de marcação. Isso impede que o jogador que está com a bola tenha espaço para arremessar de três pontos ou para infiltrar rumo a uma bandeja ou enterrada. Isso explica porque pivôs pesados como Hibbert rapidamente desapareceram da liga. Hoje em dia, é preciso ter versatilidade e agilidade para acompanhar os mais velozes e atléticos jogadores de perímetro.

É por isso que os Lakers, por exemplo, conseguem ter três grandalhões em sua rotação. JaVale McGee e Dwight Howard, assim como o já citado Davis, têm uma combinação de agilidade, atleticismo e jogo de pés que permite com que eles marquem jogadores de perímetro no mano a mano. O mesmo pode ser dito para Theis, nos Celtics.

Mas o maior exemplo disso é Bam Adebayo, titular do Miami Heat. Com 2,06m de altura, o pivô se move com a fluidez de um jogador de perímetro. Mostrou agilidade e explosão para bloquear o arremesso de Jayson Tatum, ala dos Celtics, para garantir a vitória em uma das maiores jogadas defensivas dos playoffs.

Se Jokic é exceção na defesa, sofrendo para acompanhar jogadores fisicamente privilegiados, sua versatilidade aparece do outro lado da quadra. Com sete assistências por jogo nos playoffs, o pivô comanda o ataque dos Nuggets, arremessa de três e, quando preciso, mostra ferramentas de um jogador clássico da sua posição, abusando de marcadores mais baixos perto da cesta.

Hoje (22), às 22h (de Brasília), Jokic enfrenta Davis, McGee e Howard na final da Conferência Oeste, que tem os Lakers que vantagem de 2 a 0 sobre os Nuggets - a série é disputada em formato melhor de 7. Mais uma chance para o quarteto provar que os pivôs estão em evolução, e não em extinção.