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Vinte e Dois

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

O que esperar dos play-ins da NBA, que começam hoje

LeBron James, do Los Angeles Lakers, enfrenta a marcação de Stephen Curry, do Golden State Warriors - NBAE Harry How/Getty Images/AFP
LeBron James, do Los Angeles Lakers, enfrenta a marcação de Stephen Curry, do Golden State Warriors Imagem: NBAE Harry How/Getty Images/AFP

Vitor Camargo

Colunista do UOL Esporte

18/05/2021 04h00

A temporada regular da NBA finalmente chegou ao fim, e com estilo: no seu último dia, tivemos pelo menos cinco jogos afetando diretamente vagas na pós-temporada. Essa maratona rendeu alguns excelente jogos e um ótimo embalo indo para os playoffs, então, é hora de falar sobre as quatro vagas que restam de pós-temporada.

Para quem não acompanhou, esse ano a NBA implementou uma "novidade", os play-ins: agora, o sétimo e o oitavo colocados de cada conferência se enfrentam em um jogo único. Quem ganhar fica com a sétima vaga da conferência, enquanto o perdedor tem mais uma chance: ele enfrenta o vencedor do confronto entre o nono e o décimo colocados, novamente em jogo único, valendo a oitava vaga. O diagrama abaixo, do site da própria NBA, ilustra melhor o funcionamento dos play-ins:

Playoffs da NBA - Reprodução/NBA - Reprodução/NBA
Playoffs da NBA
Imagem: Reprodução/NBA

Os play-ins começam na terça-feira, dia 18, então vamos dar uma passada por esses confrontos e ver o que nos espera no que promete ser mais uma semana insana de basquete.

Conferência Leste

#7 Boston Celtics vs #8 Washington Wizards

Celtics e Wizards foram os dois times mais prejudicados na Conferência Leste por COVID e lesões, então não é de surpreender que os dois tiveram temporadas extremamente irregulares.

Boston navegou a duras penas a ausência de vários titulares ao longo do ano para finalmente ficar saudável e começar a jogar seu melhor basquete em abril, quando emendou uma sequência dominante de 9 vitórias em 11 jogos... e então todo mundo machucou de novo, e o Celtics voltou a afundar. O quinteto titular do Celtics jogou juntos em apenas 10 das 72 partidas do Celtics no ano; sua segunda opção de quinteto titular jogou 7. É impossível desenvolver um bom basquete sem nenhuma continuidade.

O Wizards talvez seja um exemplo ainda mais extremo de inconsistência; Washington começou o ano 17-32 antes de pegar fogo na reta final e encerrar a temporada em uma sequência de 17 vitórias contra apenas 6 derrotas. O principal impulso dessa virada de chave veio de Russell Westbrook, que passou de uma primeira metade desastrosa de temporada a jogar um dos melhores basquetes da carreira; nesse período, Washington tem o oitavo melhor ataque, a oitava melhor defesa, e a melhor campanha da NBA.

Se você acredita em momento, então o Wizards chega como favorito para o jogo decisivo com o Boston Celtics; é o time mais embalado da liga, e enfrenta um adversário em crise. Mas temos muitas evidências apontando que momento não importa quando chegamos nos playoffs, e as estatísticas agregadas apontam o Boston Celtics como um time superior ao Wizards com alguma folga. Ambos os times possuem jogadores capazes de explodir e desequilibrar a partida - Tatum, Beal, Westbrook - e (tirando Jaylen Brown, fora da temporada) Boston deve ter o time quase completo, o que ajuda; o Wizards, por outro lado, também deve ter a ausência apenas dos jogadores com lesões maiores, mas fica no ar a situação de Bradley Beal, que jogou no sacrifício e visivelmente limitado contra o Hornets no domingo. Beal deve jogar contra Boston, mas caso continue limitado pela lesão, isso afeta consideravelmente as chances de Washington.

Promessa de jogão em Boston na terça à noite!

#9 Charlotte Hornets vs #10 Indiana Pacers

O Pacers é outro exemplo de time que foi destruído por lesões; atualmente são quatro jogadores na lista de contundidos, incluindo quatro titulares. Talvez por isso o Pacers tenha tido um ano tão medíocre (Indiana está entre o #14 e o #15 em ataque, defesa e saldo de pontos), e para piorar ainda vive uma crise interna com seu técnico. Ninguém culparia Indiana se só estivessem esperando pelo fim misericordioso da temporada 2020-21.

Nesse contexto, é difícil não enxergar o Hornets como favorito; mesmo sendo um time extremamente jovem e irregular, é uma equipe empolgante e que tem uma identidade definida de small-ball e muita correria, que certamente vai atrapalhar o time mais metódico e baleado do Pacers. Charlotte provavelmente não é tão bom como a campanha indica, e é um time que pode desligar de uma hora para a outra - só ver a derrota dolorosa para o Wizards no domingo - mas no geral é um time mais confortável com o próprio basquete do que o Pacers, e seus altos são mais altos que os da equipe desfalcada de Indiana.

Mas o Pacers tem um trunfo: o melhor jogador da série atua por Indiana. Domatas Sabonis teve mais uma temporada espetacular mantendo o Pacers vivo em meio a tantos problemas, e ele apresenta um problema para Charlotte: o Hornets está no seu melhor quando joga sem pivô, com McDaniels ou PJ Washington jogando na posição 5, mas isso pode criar sérios problemas defensivos contra um jogador de garrafão tão dominante quanto Sabonis. Na sua vitória decisiva sobre o Hornets, o Wizards teve sucesso usando Robin Lopez para atacar o garrafão de Charlotte e obrigar o Hornets a sair da sua zona de conforto. Sabonis é muito mais perigoso que Lopez, e se Indiana conseguir usar essa vantagem para ditar os termos da partida, pode conseguir a vantagem no confronto.

Conferência Oeste

#7 Los Angeles Lakers vs #8 Golden State Warriors

Esse é, ao mesmo tempo, o sonho e o pesadelo da NBA. Um duelo entre Lakers e Warriors, com LeBron e Steph se enfrentando em um jogo único decisivo, é a melhor história que eles poderiam querer para o play-in; o jogo vai atrair números gigantescos de audiência, e o simples nível de interesse e atenção gerados valida de uma vez por todas o formato de play-in logo no seu ano de estreia. É o cenário dos sonhos para a NBA.

O problema é que, com o Lakers no play-in, existe a possibilidade remota, mas real, do time e o jogador mais importantes da liga ficarem de fora da pós-temporada. Playoffs sem LeBron James seria um desastre para a NBA em termos de audiência e narrativa, em um momento onde a situação financeira da liga já está complicada por causa da pandemia.

E as chances disso acontecer? Bem, jogos únicos sempre dão margem para surpresas, mas o Lakers saudável sem dúvida está bem acima do nível do play-in; o único motivo pelo qual o time sequer estará jogando nessa semana são os quase 60 jogos perdidos por LeBron e Davis combinados, e até na sua ausência o time se mostrou resiliente e manteve uma das melhores defesas da NBA. Saudável e completo, o Lakers ainda é o time a ser batido e um dos favoritos ao título.

A dúvida aqui, é claro, diz respeito ao tornozelo de LeBron James; LeBron perdeu 20 jogos com um tornozelo machucado, e voltou a perder jogos recentemente antes de voltar para o jogo final contra o Pelicans - onde torceu o mesmo tornozelo nos minutos finais da partida. LeBron disse que está bem, e é improvável que LeBron não jogue contra o Warriors, mas caso a lesão persista e afete o jogo de James, isso pode ser a diferença entre o Lakers saudável favorito ao título e um Lakers "apenas" bom... e esse segundo time corre mais riscos em jogos eliminatórios.

Isso é ainda mais verdade quando do outro lado está a versão da vida real do Tocha Humana, Stephen Curry. Nenhum jogador na NBA inteira é mais capaz que Steph a explodir a qualquer momento para 50 pontos, e em um jogo único, isso é ainda mais perigoso - nós tivemos uma mostra no domingo, quando Steph fez 46 para cima do Grizzlies para garantir sua vaga nessa partida. O Warriors tem a melhor defesa E o melhor saldo de pontos de toda a NBA desde que James Wiseman se machucou e Golden State voltou às suas raízes de small ball; junte isso ao melhor pontuador da atualidade (37 pontos por jogo nas últimas 20 partidas) e jogador mais quente de toda a NBA, e você tem a receita perfeita para uma zebra - e também para um dos jogos mais interessantes e esperados que o basquete viu nos últimos tempos.

#9 Memphis Grizzlies vs #10 San Antonio Spurs

Esse seja talvez o jogo com maior disparidade entre os times nos play-ins. O Spurs tinha uma respeitável campanha de 31-29 até o fim de abril, quando Derrick White se machucou; San Antonio está 2-10 desde então, e jogando seu pior basquete no ano. Essa temporada para o Spurs foi mais uma de sobrevivência e reestabelecer uma identidade - ajudado por um grande ano de DeMar DeRozan - do que uma de competitividade, e é difícil dizer que o time chega com muitas aspirações nesses play-ins. Talvez fosse diferente no Leste, mas no Oeste, precisando passar por Memphis E Lakers ou Warriors, as coisas ficam bem mais complicadas - e isso sem entrar nas questões quanto a DeMar DeRozan em pós-temporada, ou no quanto esse estilo de jogo baseado na meia distância do Spurs costuma ser 8-ou-80 em playoffs.

Memphis está longe de ser brilhante, mas é um time muito mais explosivo, especialmente agora que Jaren Jackson está de volta - ainda que longe de 100%. Morant é o melhor jogador na série, e com muito mais profundidade e diferentes tipos de jogadores Memphis parece simplesmente mais preparado para se adaptar em meio a um jogo ruim da sua estrela ou quando os arremessos não caem. O Spurs é um time mais experiente, e obviamente tem um técnico que já esteve no topo várias vezes em Greg Popovich - seria loucura descartar as chances de San Antonio, ainda mais em jogo único - mas Memphis é um time melhor, mais versátil e mais completo, que é merecidamente o favorito no confronto.