Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Será esse o fim da linha para o Los Angeles Clippers?
Cinco dias antes do fim da temporada regular da NBA, o Los Angeles Clippers ocupava a terceira colocação no Oeste, o que na época significaria um confronto de primeira rodada contra o Portland Trail Blazers. Mas o Clippers não estava satisfeito: existia ainda uma chance de que o temido Los Angeles Lakers acabasse em sexto, forçando um confronto entre favoritos logo na primeira rodada. Além disso, mesmo que o Lakers não subisse, o time ainda era o favorito a ficar com a sétima vaga, o que colocaria novamente os dois times de Los Angeles em rota de colisão na segunda rodada dos playoffs. Esses eram dois cenários que o Clippers queria evitar a todo custo, e isso o time só tinha uma solução: cair para o quarto lugar do Oeste.
O problema é que os dois jogos finais do Clippers eram contra os dois piores times da NBA, e precisaria perder os dois para conseguir esse objetivo dúbio. Ty Lue descansou todos seus melhores jogadores, colocou a bola nas mãos de jogadores como Jay Scrubbs e Daniel Oturu, e conseguiu as derrotas que queria. O Clippers acabou a temporada em quarto, o que tirou a franquia do caminho do Lakers e forçou um confronto contra o Dallas Mavericks na primeira rodada.
Duas semanas depois, o Clippers está perto de mais uma vergonha. O Mavs venceu os dois jogos em Los Angeles, e agora viaja para Dallas com a chance de fechar a série diante de sua torcida. O Clippers, por sua vez, amargou sua quinta derrota consecutiva em pós-temporada, começando com o colapso épico diante do Denver Nuggets em 2020, e muito do que acontece agora parece bastante familiar para quem acompanhou o time na bolha. A eliminação em 2020 levantou perguntas extremamente incômodas sobre o tecido do qual esse time é feito; um ano depois, uma nova eliminação humilhante pode determinar o futuro da franquia - e não para melhor.
Agora, vamos deixar uma coisa clara: a série não acabou. O Clippers tem um bom time, um dos melhores jogadores da sua geração em Kawhi Leonard, e mais cinco jogos para salvar sua temporada. É possível que o time simplesmente vire a chave, ganhe 4 dos próximos jogos, e acabe vencendo a série - e tudo isso seja irrelevante. Mas a essa altura, vindo de duas derrotas vergonhosas em casa e na beira de uma eliminação precoce nas mãos um time que o Clippers perdeu de propósito para poder enfrentar, é impossível não se perguntar: o que isso significa para o Clippers e seu futuro?
O problema dessa série não está apenas nas derrotas, embora começar a série 2-0 jogando em casa seja ruim em quaisquer circunstâncias. O problema é o quão dominado o Clippers está sendo em todos os aspectos do jogo: defensivamente, ofensivamente, no plano tático, mental, você escolhe. É possível apontar para alguns fatores fora da curva para o Mavs que ajudaram a chegar nesse ponto, especialmente no aproveitamento das bolas longas, mas a verdade é que, depois de dois jogos, Dallas simplesmente tem sido o melhor time da série.
O Jogo 2 foi particularmente ilustrativo nesse sentido. Depois de perder o primeiro jogo, vencer o segundo era obrigação para o Clippers; esse era o jogo mais importante até aqui em toda sua temporada. É nessas horas que times precisam trazer seu melhor basquete, que as estrelas aparecem, que os técnicos usam suas cartas guardadas na manga, que colocam todas as fichas no centro da mesa. Kawhi Leonard, o astro do Clippers, fez o que era esperado, com um jogo magnífico de 41 pontos (30 só no primeiro tempo), e Paul George também teve um bom jogo, com 28... mas foram os únicos do Clippers que responderam à altura da ocasião; o resto do time esteve completamente apático e desligado, assustado, cometendo erro após erro. E, no final, o Clippers viu Luka Doncic - o talento geracional que eles decidiram enfrentar para fugir do Lakers - dominar o jogo com 39 pontos, 7 rebotes, 7 assistências e todas as jogadas decisivas para garantir a vitória do Mavericks.
Em casos tão extremos assim, é sempre muito difícil achar a linha que separa o que é mérito de um bom time tendo uma grande atuação (que é o caso de Dallas) e o que é um time falhando espetacularmente em jogar à altura da ocasião (que é o caso do Clippers). Mas, para mim, essa sequência de quatro posses de bola - as quatro últimas de Dallas na partida - são emblemáticas.
Nas quatro posses, Dallas faz a mesma jogada: um pick-and-roll alto para Luka Doncic. E o Clippers tenta defender de todas as maneiras possíveis - troca de marcação, blitz, dobra atrasada - e Luka simplesmente tem resposta para cada uma delas. Na terceira jogada, o Clippers finalmente mostra algo que confunde o esloveno, e consegue o roubo com a dobra atrasada... só para tentar a mesma estratégia na posse derradeira, e ver que Doncic já tinha a resposta - ele acha Finney-Smith para a troca de passes e a bola de três decisiva.
Essa sequência ilustra os dois lados da equação. Por um lado, não tem como parar Luka Doncic atualmente. Ele tem resposta para tudo que o Clippers tentou. No primeiro jogo, o Clippers foi agressivo e dobrou bastante a marcação; Luka simplesmente dominou com seus passes, manipulando a defesa e achando companheiros livres. Ontem, o Clippers tentou evitar dar esse espaço e marcou os passes do armador, e ele simplesmente colocou a bola embaixo do braço contra qualquer marcação que encontrou (como no vídeo acima). O esloveno é uma força de destruição de um homem só, e quando seus companheiros estão quentes do perímetro, o Mavs é imparável. Por momentos, a defesa do Clippers conseguiu confundir o esloveno com alguma variação defensiva; assim que isso acontecia, no entanto, Luka imediatamente se ajustava, e a mesma tática parava de funcionar - como nas duas últimas jogadas do vídeo acima. Ele é um gênio do basquete, e por vezes você tem que simplesmente tirar o chapéu para o adversário: Luka Doncic tem sido o melhor jogador da série.
Mas a sequência também destaca o quanto o Clippers não sabia o que deveria fazer. Parte do motivo do Clippers estar variando tanto suas táticas defensivas é que a equipe não domina ou se sente confortável em nenhuma delas; não têm uma identidade, não têm o entrosamento e comunicação para executarem rotações mais complexas, e não parecem ter nada de diferente guardado na manga. Antes do Jogo 2, Ty Lue sugeriu que a solução seria colocar Kawhi marcando Luka por mais tempo, e essa simples frase revela o quanto o técnico do Clippers está dois passos atrás da sua contraparte no Mavs: o Clippers colocou Kawhi em Luka mais vezes no Jogo 2, e o Mavs simplesmente chamava uma sequência de pick-and-rolls para forçar a troca defensiva de LA e mudar a marcação. Enquanto Lue procurava respostas, Dallas já estava mudando as perguntas.
Ofensivamente, os mesmos problemas aparecem para o Clippers. Quando Kawhi e George estão quentes e criando individualmente, tudo é ótimo: LA tem bons chutadores e consegue aproveitar os espaços criados para ter um ataque dominante. Mas quando o ataque emperra e precisa de uma sequência de ações e leituras, você percebe que a falta de entrosamento e confiança, de leituras e princípios bem definidos, limita em muito o quanto o time funciona; tudo é meio segundo mais lento e travado do que o normal, e contra defesas de playoffs essa hesitação é a morte. Talento individual só pode te levar até certo ponto, mas assim como em 2020, ele não está conseguindo mascarar os problemas de falta de identidade por baixo.
E isso é um problema ainda maior considerando que o Clippers já sabia disso depois da derrota para o Nuggets e fez o possível para mudar a sua trajetória. Problemas de matchups em pós-temporada como Lou Will e Harrell foram mandados embora, e em troca trouxeram jogadores mais variáveis e adaptáveis em Rondo e Ibaka - boas decisões no papel, mas na prática você ainda precisa conseguir integrar esses atletas ao resto do time, e o Clippers falhou miseravelmente ao fazer isso. O técnico Doc Rivers também foi outro dos bodes expiatórios da derrota para Denver, e foi demitido... só para o Clippers trazer um técnico ainda mais limitado em Ty Lue, e ver o time falhar exatamente nas áreas onde essas limitações já eram conhecidas.
No fundo, uma derrota para Dallas e outra eliminação precoce pode acabar escancarando o que já era uma das preocupações básicas sobre esse time desde o começo: que existe algo ainda anterior e mais profundo de errado com o Clippers, com o próprio tecido do qual ele foi feito. O Clippers apostou no talento bruto, mas isso só te leva até certo ponto. Como as diferentes personalidades do vestiário se combinam em uma identidade, dentro e fora da quadra, e como isso capacita ou não a equipe a responder nos momentos de adversidade, tudo isso é fundamental para se vencer nos playoffs da NBA, e são aspectos que o Clippers pareceu deixar em segundo plano durante todo esse processo, confiando na qualidade bruta de seus jogadores.
Só que, agora, o Clippers está a um passo de ver isso explodir na sua cara de novo. A franquia tem cinco jogos para evitar a eliminação para Dallas e talvez mudar a sua própria história, porque a derrota vai forçar perguntas desconfortáveis que precisarão de uma resposta imediata. E, com Kawhi Leonard podendo deixar o time no fim do ano, essa eliminação pode acabar fechando a janela de título do Clippers antes mesmo dela se abrir.
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