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Vinte e Dois

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Os Bucks vencem, sobrevivem na série, mas continuam em situação difícil

Giannis Antetokounmpo dá enterrada em partida entre Milwaukke Bucks e Brooklyn Nets - Stacy Revere/Getty Images
Giannis Antetokounmpo dá enterrada em partida entre Milwaukke Bucks e Brooklyn Nets Imagem: Stacy Revere/Getty Images

Vitor Camargo

Colunista do UOL

12/06/2021 04h00

Foi bem feio. Nos três quartos finais do jogo, Milwaukee anotou apenas 56 pontos. O time chutou 38% de quadra, 17% de três pontos e 63% nos lances livres. Mas o que importa é a vitória, que evita que os Bucks fiquem atrás 3-0 na série. Milwaukee vai precisar jogar muito mais do que mostrou no Jogo 3 se quiser avançar, mas por 48h a equipe pode respirar aliviada sabendo que fez o mais urgente: sobreviveu.

E o curioso é que, por 12 minutos, pareceu que a vitória dos Bucks seria tranquila. O primeiro quarto foi o melhor dos Bucks em toda a série por uma margem gigantesca, abrindo vantagem de 30 a 11. E se você quer saber como Milwaukee foi tão bem nesse quarto tendo sido tão ruim no resto da série, talvez as duas imagens abaixo ajudem.

Mapa arremessos Bucks G2 - Basketball Reference - Basketball Reference
Imagem: Basketball Reference

Esse é o mapa de arremessos dos Bucks no primeiro quarto do Jogo 2, no qual perderam por 36 a 19 e, inexplicavelmente, não deram um único arremesso perto do aro.

Mapa arremessos Bucks G3 - Basketball Reference - Basketball Reference
Imagem: Basketball Reference

E esse é o mesmo mapa no primeiro quarto do Jogo 3, que venceram por 30 a 11: muito mais chutes perto do aro, e muito menos de meia distância. Digamos que a diferença nos placares não foi coincidência.

O problema para os Bucks, no entanto, é que o primeiro mapa é muito mais representativo do que tem sido sua série até aqui, e uma ilustração do que colocou o time nesse buraco em primeiro lugar.

A verdade é que esses arremessos ruins e contestados são consequência da forma pouco imaginativa como os Bucks têm jogado. Eu destaquei na prévia da série como uma das chaves para Milwaukee era a vantagem que tinha no garrafão contra um Nets que, exceto por Durant, não tem boa proteção de aro ou grandes defensores. No entanto, por dois jogos, os Bucks foram na direção oposta dessa sua identidade e a área onde tinham a vantagem na série: os Nets fecharam o garrafão, deram a meia distância para Milwaukee e os desafiaram a chutar de fora. E, ao invés de tentar descobrir uma forma de contornar isso e continuar explorando o que seu jogo tem de melhor, os Bucks aceitaram o convite. A movimentação de bola de Milwaukee morreu, seus passes diminuíram em 20% por jogo, e uma infinidade de posses acabou sendo um arremesso contestado em isolação, ou alguma ação simples que não avançava —arremessos péssimos que não só saem da característica do time, como deixavam a defesa dos Nets confortável demais dentro das suas limitações.

Para piorar, não era só que os Bucks não conseguiam pontuar, mas os Nets aproveitaram essa infinidade de rebotes longos para sair em transição, onde eles são completamente imparáveis e seu ataque estava destruindo a defesa de Milwaukee antes que pusesse se posicionar —como eu destaquei em outra coluna.

Mesmo a jogada que matou Miami na primeira rodada —usar Giannis fazendo o corta-luz contra um defensor menor e colocar a defesa em uma situação difícil de não poder trocar a marcação— não estava dando certo contra Brooklyn, que tinha feito se preparado. Griffin (marcando Giannis) começou a recuar muito abaixo de uma defesa drop normal na direção do aro e deixava o Bucks atacar no 2-contra-1, convidando ou o arremesso de meia distância, ou um passe para Giannis receber a bola um mais afastado do aro e desafiando o grego a viver de floaters ou ganchinhos mais longos - arremessos muito menos perigosos do que seus ataques à cesta ou Giannis atacando um mismatch depois da troca.

Por isso que no primeiro quarto do Jogo 3 pareceu que Milwaukee finalmente tinha redescoberto seu estilo e uma maneira de aproveitar suas forças em quadra: o time entrou com o propósito claro de atacar a cesta, rodando a bola, conseguindo arremessos mais eficientes e menos marcados, e voltando às suas raízes. Ao invés de simplesmente pedir que Giannis mergulhasse de frente na direção do aro contra três adversários, os Bucks se esforçaram para dar a bola até seu astro em movimento e situações melhores para atacar a cesta; trocar alguns dos seus pull up 3s por arremessos mais bem trabalhados e abertos também ajudou.

Milwaukee até mesmo conseguiu inverter a seu favor a vantagem dos pontos em transição, o que é chave: o ataque devastador de Brooklyn não precisa de mais ajuda para ser dominante, mas o ataque estagnado dos Bucks precisa de cada vantagem que conseguir para acompanhar. Com os Bucks acertando seus arremessos mais eficientes e os Nets errando muito mais, foram os Bucks que conseguiram acelerar o jogo a partir dos rebotes defensivos para achar pontos fáceis, beneficiando especialmente Giannis, que agora podia atacar a cesta antes que os Nets posicionassem seus defensores no garrafão. Ele fez isso tão bem que, pela primeira vez em toda a série, Brooklyn foi forçado a tirar Griffin (seu defensor primário) de quadra para colocar Claxton —uma vitória para os Bucks. Por 12 minutos, pareceu que Milwaukee finalmente tinha se encontrado na série.

Só que veio o segundo quarto, e o time jogou tudo isso no lixo. A movimentação de bola desapareceu, os arremessos trabalhados inexistiram, e o time voltou a viver de isolações, arremessos forçados e bolas burras. O time anotou 15 pontos em 27 posses de bola no segundo quarto, e além dessa regressão aos seus piores hábitos ter impedido os Bucks de pontuar foi a vez de os Nets aproveitarem rebotes e turnovers para sair em velocidade, anotar pontos fáceis e ganhar a parcial por 30 a 15. De repente, o primeiro quarto parecia menos uma mudança, e mais um ponto fora da curva.

O resto do jogo foi um pouco melhor para o ataque de Milwaukee, mas ainda ruim. O time voltou atacando mais o aro nos períodos seguintes, o que é bom, mas sem a movimentação de bola e voltando a depender de isolação e bolas forçadas. Em alguns momentos, ainda era possível ver flashes dos Bucks do primeiro quarto, mas eram exceção; a maior parte do segundo tempo revelou um ataque novamente estagnado e sem criatividade, com muitos chutes péssimos, e não foi à toa que os Bucks anotaram apenas 41 pontos depois do intervalo.

A grande diferença foi que dessa vez os Bucks conseguiram impedir que esses erros virassem chances fáceis do outro lado. A defesa de transição do Bucks no segundo tempo foi excelente, e isso passa por uma melhora significativa no lado defensivo que, ao contrário da ofensiva, não só se sustentou durante a partida como foi o verdadeiro motivo da vitória dos Bucks.

Os Nets ainda atacaram e castigaram muito a defesa drop dos Bucks, em particular com Brown, mas Milwaukee mostrou mais variações e ajustes que partiam de um ponto simples: Budenholzer finalmente entendeu que não vai conseguir impedir todos os arremessos dos Nets, e que o time precisa focar seus esforços em evitar aqueles que mais fazem estrago. E a defesa dos Bucks foi visivelmente mais conservadora nesse jogo. Lopez passou a marcar Bruce Brown ao invés de Griffin, uma forma de sempre manter o pivô protegendo o aro e evitando expô-lo ao pick-and-pop, e só deu certo porque o time decidiu não se importar com os chutes longos de Brown. O time todo foi muito menos agressivo com as ajudas em geral - aceitando que certos chutes de Kyrie e Durant iriam cair fosse com um ou três jogadores contestando, e defendendo as ações só com os atletas envolvidos - ou até mesmo trocando mais a marcação. E, quando Milwaukee enviou ajuda de fato, eles foram muito mais inteligentes em saber quem deixar livre, enviando ajuda a partir dos jogadores menos perigosos (Brown, Claxton, Griffin) e evitando a todo custo um passe fácil para os mais letais (KD, Irving, Harris). Esses ajustes ajudaram a matar as movimentações de bola dos Nets que foram tão letais nos Jogos 1 e 2, e forçar mais chutes difíceis e contestados.

No Jogo 3, foi o suficiente: os Nets também anotaram só 41 pontos no segundo tempo, 83 no total, e os Bucks ganharam o jogo.

Mas não vai ser suficiente pelo resto da série. Parte da vitória foi que os Nets simplesmente erraram chutes que normalmente acertam. Durant chutou 11-28, Harris 1-11. Ainda que o aproveitamento de Brooklyn tenda a cair com chutes mais contestados e menos bolas livres, Milwaukee não pode apostar que vá ser NESSE nível para sempre. É ótimo que a defesa dos Bucks soube se ajustar, e parece ter encontrado uma forma muito mais eficiente de defender o melhor ataque da NBA, mas isso não vai adiantar se o ataque da equipe não conseguir dar condições ao time de vencer jogos de placar mais alto. E, até agora, só temos um quarto entre 12 indicando que os Bucks possam ser capazes de se ajustar do lado ofensivo. Os Bucks salvaram sua temporada por enquanto, mas ainda estão longe de mostrar um basquete capaz de virar a série.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL