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Vinte e Dois

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Prévia das finais do Oeste entre Phoenix Suns e Los Angeles Clippers

Chris Paul tenta a bandeja enfrentando marcação de Paul George: duas estrelas do confronto entre Phoenix Suns e Los Angeles Clippers - Barry Gossage/NBAE via Getty Images
Chris Paul tenta a bandeja enfrentando marcação de Paul George: duas estrelas do confronto entre Phoenix Suns e Los Angeles Clippers Imagem: Barry Gossage/NBAE via Getty Images

Vitor Camargo

Colunista do UOL

20/06/2021 04h00

Eu acho seguro dizer que nem o mais otimista dos torcedores do Los Angeles Clippers esperava isso. Depois de sair perdendo por 2-0 pela segunda vez nessa pós-temporada, os Clippers tinham acabado de vencer os dois jogos em casa para empatar a série quando veio a notícia de que seu melhor jogador, Kawhi Leonard, perderia o resto da série - e possivelmente os playoffs - com uma lesão no joelho.

Quando a notícia saiu, muita gente achou que os Clippers tinham acabado. Toda a construção de elenco do Clippers tinha com base sua dupla de estrelas em Kawhi Leonard e Paul George, e agora o time tinha perdido a mais importante delas, talvez o melhor jogador da NBA, e o grande responsável por LA sequer ter passado por Dallas na primeira rodada. A responsabilidade agora caia toda nos ombros de George, tão criticado por suas performances em playoffs com a camisa dos Clippers. Utah parecia o grande favorito para avançar até as finais do Oeste.

Mas foram os Clippers que venceram os dois jogos seguintes, duas viradas espetaculares que garantiram a primeira aparição dos Los Angeles Clippers nas Finais de Conferência nos seus 50 anos de existência. E fizeram isso insistindo mais do que nunca na sua recém-descoberta identidade do small ball: a entrada de Terrence Mann no quinteto titular deu ao time uma energia extra dos dois lados da quadra que foi fundamental para as vitórias, compensando a perda de talento com uma atividade maníaca e coroando tudo isso com uma atuação mágica no Jogo 6: 39 pontos para o segundanista de LA, 25 deles no segundo tempo para comandar a virada. Mais do que apenas as vitórias, o nível de qualidade que o time manteve na ausência de sua grande estrela - rodando mais a bola, atacando com agressividade, jogando em velocidade e cada jogador em quadra assumindo uma parte da responsabilidade - foi tão impressionante quanto a resiliência e força mental demonstradas.

A essa altura, temos evidências de sobra para confirmar que a formação de small ball é a melhor dos Clippers; não só onde tem a vantagem tática e tira o melhor dos seus jogadores, mas também onde o time encontrou algo próximo de uma identidade e uma zona de conforto. Então por mais que no papel você possa pensar que o time deva voltar a usar Zubac no lugar de Kawhi com este machucado, na prática isso seria um desastre - e um ainda maior considerando contra quem Los Angeles está jogando.

O ataque do Phoenix Suns é uma obra de arte que mistura simplicidade e maestria de uma jogadas mais básicas do esporte: o pick-and-roll. E quando times tentam defender o pick-and-roll recuando seus pivôs para o garrafão, como o Clippers faz com Zubac em quadra, os Suns vão destruir sua defesa com chutes de meia distância de Paul e Booker, dois dos mais dominantes da NBA nesse tipo de arremesso. Mas, se você deixar um pivô lento como Zubac mais próximo do armador, eles vão jogar lobs para Ayton o dia todo. Trazer um terceiro jogador para cima de Ayton? Paul e Booker vão achar os companheiros livres no perímetro para uma chuva de bolas de três, e nenhum time tem sido melhor incorporando pequenas ações secundárias paralelas ao PnR para colocar seus coadjuvantes em situações favoráveis. É genial na sua simplicidade, mas executar é muito mais difícil do que parece: exige um altíssimo nível de entrosamento, pensamento coletivo e tomada de decisões instantânea e acertada, e os Suns conseguirem executar nesse nível é um testamento à qualidade do trabalho de Monty Williams e dos seus jogadores. Zubac pisar em quadra, especialmente contra os titulares dos Suns, é suicídio.

Por outro lado, as trocas intensivas do quinteto small ball dos Clippers oferecem a melhor resposta - ou pelo menos em teoria - para o ataque de pick-and-roll dos Suns; trocar a marcação oferece muito menos espaço para os pull ups mortais de Paul e Booker, enquanto também não abrem o lob para o pivô e minimizam a necessidade de ajuda. Em contrapartida, isso coloca mais pressão nos jogadores do Suns para criarem em jogadas de isolação e mano-a-mano, o que talvez seja o menor dos males: Booker e Paul ainda vão conseguir castigar com pura qualidade individual, especialmente quando tiverem um mismatch pela frente, mas os Clippers não tem tantos pontos fracos assim para serem explorados, especialmente se Ty Lue tomar cuidado de não deixar Kennard em quadra contra os titulares de Phoenix. Isso não vai parar os Suns, é claro, mas é a melhor forma de desacelerar esse ataque que DESTRUIU o Denver Nuggets, estancar sua movimentação de bola e tirar os coadjuvantes do jogo.

Parte chave desse confronto, por parte do Suns, vai ser DeAndre Ayton. Como já disse aqui várias vezes, essa formação de small ball dos Clippers deixa o time mais vulnerável na proteção de aro, rebotes defensivos e jogadas no poste baixo, mas tirar vantagem disso é mais fácil na teoria que na prática. Dallas claramente não tinha um jogador para aproveitar isso - Boban até conseguia, mas criava uma infinidade de problemas defensivos - e embora eu achasse que com Gobert seria diferente, não foi o caso; o francês foi ficando cada vez mais exposto e perdido conforme a série foi andando, incapaz de pontuar sem ser vindo do passe de alguém e o ataque espaçado dos Clippers anulou sua boa defesa no garrafão. Agora vai ser a vez de Ayton navegar esse dilema: Ayton tem o físico e agilidade para dominar defensores menores no garrafão, mas ele não é dos jogadores mais confortáveis criando no post up; ele acabou se desenvolvendo mais como jogador complementar, alguém que preenche os espaços e faz o trabalho sujo, mas talvez isso não seja o suficiente para explorar o confronto contra os Clippers sem Zubac. Defensivamente, ele melhorou muito ao longo dos anos e fez um trabalho excepcional contra Davis e Jokic, dois dos jogadores de garrafão mais dominantes da NBA, mas sua melhor força desse lado da quadra reside na defesa um-contra-um no poste baixo, algo que o Clippers não vai fazer sem pivô. Como ele defende em espaço contra a formação aberta dos Clippers vai ser crucial: se ele conseguir acompanhar jogadores como Mann ou Batum no perímetro o suficiente isso não vai ser um problema, mas caso ceda os 3PTs livres nos quais Dallas e Utah se afogaram, ele talvez não possa ficar em quadra. Isso não é tão crítico para os Suns - que se sente plenamente confortável jogando sem pivô ou com Saric na função - como foi para Utah e Dallas, mas Phoenix está no seu melhor com Ayton em quadra e tirar o pivô de quadra seria uma vitória para os Clippers.

E, infelizmente, o Suns ainda pode ter que navegar outro problema: a ausência de Chris Paul, que está no protocolo de COVID e fora por tempo indeterminado - pode voltar para o Jogo 1, pode ficar de fora por mais tempo. Nós já vimos contra os Lakers como um Paul visivelmente limitado por lesão foi catastrófico para o Phoenix Suns: sua genialidade, habilidade nos passes e capacidade de dominar o jogo da meia distância são fundamentais para o time não apenas pelo seu impacto direto, mas por serem a cola que mantém todo o resto do grupo coeso e funcional. Isso não quer dizer que jogar sem Paul transforma os Suns em um bando de inúteis sem chance de vitória, ainda mais contra um time sem Kawhi Leonard, mas tira muito do que faz dos Suns tão dominantes no pick-and-roll e um time tão à prova de ajustes. Sem Paul, o time perde muitas opções para produzir no ataque, e a vantagem tática que o small ball dos Clippers oferece fica consideravelmente maior.

Mas Paul não deve ficar fora durante toda a série - ou pelo menos essa é a expectativa - e com o armador o Suns oferecem um problema grande demais para os Clippers resolverem sem seu melhor jogador. Eles tem opções demais para usar contra Paul George na ala e uma defesa muito mais móvel e versátil no perímetro do que Dallas ou Utah, o que oferece mais segurança defendendo o ataque espaçado. Se Phoenix conseguir navegar o começo da série - quando possivelmente estará seu sua estrela - a ponto de não se colocar em um buraco quando Paul voltar, o Suns completo e saudável tem poder de fogo demais, recursos demais, opções demais para um time dos Clippers sem Kawhi Leonard E Serge Ibaka lidar por sete jogos. Não vai ser nada fácil, e eu espero que a hiperatividade e energia dos Clippers vá dar muita dor de cabeça para os Suns, mas minha aposta é que o time mais descansado e completo vá avançar para as Finais da NBA.

Palpite: Suns em 6