Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
O delicioso jogo de xadrez de Clippers e Suns no Jogo 1 das finais do Oeste
O Jogo 1 entre Suns e Clippers foi espetacular: bem jogado, divertido, com grandes performances. E, para o olho treinado, também foi um espetacular jogo de xadrez entre os dois técnicos, com ambos os times executando uma série de ajustes em tempo real para tentar puxar para seu lado a vantagem —apenas para o adversário responder logo depois, forçando novos ajustes e assim por diante. A variedade de estratégias, para mim, foi a melhor parte do Jogo 1.
Como era esperado, os Clippers vieram para o jogo com seu quinteto baixo e seguiram a mesma estratégia que usaram contra Utah: trocar a marcação constantemente no perímetro, não deixar o adversário criar vantagem com o pick-and-roll e forçar o jogo individual. E eles adicionaram algo a mais dessa vez: assim como os Lakers fizeram quando Chris Paul estava machucado, os Clippers foram agressivos em dobrar a marcação sobre Devin Booker toda vez que ele atacava, forçando Book a soltar a bola cedo e desafiando o resto dos jogadores dos Suns a criarem por conta própria.
Phoenix percebeu e começou a usar essas dobras como ponto de partida para iniciar movimentações de bola e procurar jogadores livres, mas a formação baixa dos Clippers tem mobilidade e atleticismo suficientes para se recuperarem. Esse foi o principal motivo do ataque fraco dos Suns no primeiro quarto.
LA também apostou que Ayton, assim como Gobert ou Porzingis, não seria capaz de castigar a falta de altura no garrafão, mas o pivô fez um trabalho sólido o suficiente para incomodar os Clippers —com alguns rebotes de ataque e estabelecendo cedo boa posição para finalizar quando acionado.
Mais interessante foi como os Suns fizeram para não permitir que Ayton fosse explorado do outro lado da quadra, como aconteceu com Gobert. A solução mais comum para um pivô com dificuldades de marcar no perímetro nesses casos é botar para defender o arremessador menos perigoso do adversário, mas os Clippers já mostraram que sabem como usar essa marcação para conseguir cestas fáceis (foi o que matou o Jazz). Os Suns, no entanto, fizeram diferente: Ayton começava as posses geralmente marcando Mann, o menos perigoso de LA, sabendo que ele começaria na zona morta. Só que Ayton estava menos marcando o jogador e mais aquele canto específico da quadra; se Mann saísse da posição, Ayton trocava e começava a defender o novo jogador posicionado na zona morta. Dessa forma, os Suns faziam com que os Clippers não conseguissem envolver o pivô nas ações enquanto simplificavam as leituras de rotações de todo o time —tornando muito mais fácil para Ayton quando ele precisava de fato defender fora do garrafão.
Ayton não mudou o jogo sozinho, mas esses dois ajustes o tornaram capaz de contribuir dos dois lados da quadra, e impediram que fosse exposto como outros pivôs contra o small ball dos Clippers.
Por sete minutos, essa foi a história do jogo, com os dois times se estudando e avaliando as estratégias de cada um. Até que Ty Lue colocou Zubac em quadra, desfez o small ball, e o resultado foi exatamente o esperado: nas duas primeiras posses com ele em quadra, os Suns atacaram o pivô no pick-and-roll, Zubac recuou para o garrafão ao invés de trocar a defesa, e os Suns conseguiram duas bolas de três completamente livres como resultado.
A presença de Zubac também tornou muito mais difícil para os Clippers continuarem dobrando em Devin Booker. Como não podiam fazer isso usando Zubac, precisavam trazer um jogador de perímetro que por sua vez percorria mais espaço, o que tornava a marcação mais previsível e facilitava muito a movimentação de bola dos Suns.
Em resumo, a entrada de Zubac previsivelmente deu aos Suns a vantagem ofensiva.
Foi no segundo quarto que Lue fez um ajuste dos mais interessantes: com Ayton indo para o banco, colocou em quadra Cousins ao invés de Zubac para enfrentar a segunda unidade dos Suns. Defensivamente, Cousins gerava os mesmos problemas de Zubac; incapaz de trocar, se ele ficasse em drop seria castigado com chutes, mas caso tentasse ser mais agressivo era fácil para os Suns rodarem a bola e arremessarem de fora.
Com Cousins em quadra, era claro que os Clippers não conseguiriam segurar o ataque dos Suns. No entanto, Cousins compensou simplesmente DESTRUINDO Saric —o próprio pivô de small ball do banco dos Suns— do outro lado da quadra. Cousins é forte demais, habilidoso demais no garrafão para o croata, e nos cinco minutos que Saric passou em quadra LA deu a bola nas mãos de Cousins e deixou ele atacar Saric, anotando 11 pontos em 5 minutos. Ainda que o time não fosse capaz de defender com Cousins, o puro poder de fogo que ele trouxe no ataque ajudou o Clippers não apenas a sobreviver com um pivô em quadra, mas ainda abrir uma pequena vantagem.
Só que era evidente que isso não se manteria quando Ayton —alguém com a força suficiente para segurar Cousins na defesa— voltasse, altura na qual Cousins seria apenas um problema defensivo. Ainda assim, Lue insistiu com ele em quadra mesmo com as voltas de Booker e Ayton para quadra, e o resultado foi previsivelmente péssimo: em três minutos, os Suns emplacaram uma sequência de 10-3 com cinco cestas fáceis no garrafão atacando a defesa drop do pivô, forçando os Clippers a pedirem tempo e voltarem com o small ball. O ajuste de Lue de roubar alguns minutos com Cousins em quadra contra Saric foi excelente, mas deixar o pivô contra os titulares de Phoenix foi um erro mortal.
A resposta de Lue veio no intervalo, mas se espontaneamente ou por lesão, é difícil dizer. Marcus Morris terminou o jogo machucado e no banco, mas é incerto quando foi que ele machucou, e se foi o que precipitou a mudança. Mas fato é que os Clippers voltaram para o segundo tempo com Zubac de titular no lugar de Morris.
Na hora, eu achei um ajuste terrível. O primeiro tempo tinha deixado claro que os Clippers eram incapazes de defender com um pivô em quadra, o que se repetiu: os Suns voltaram a atacar Zu no PnR, e quando LA tentava evitar a jogada, Phoenix estava esperto para rodar a bola antecipadamente. E, além da presença de Zu dificultar as dobras em Booker, ele também tornava a recuperação de LA muito mais lenta e demorada —abrindo novos chutes fáceis para Phoenix.
No entanto, Lue tinha percebido algo a mais, um detalhe que —intencional ou não— gerou um ajuste brilhante. Com Zubac em quadra, os Suns podiam deixar Ayton marcando o bósnio ao invés de tentar escondê-lo na zona morta sem medo de criar um mismatch. No entanto, isso fez com que os Clippers conseguissem puxar Ayton para o centro das ações defensivas do jogo ao envolver Zubac no pick-and-roll a cada jogada, o que por sua vez neutralizou a defesa de trocas dos Suns e criou uma avenida para atacarem seu pior defensor. Ayton, assim como Zubac, primariamente recua para o garrafão contra o pick-and-roll, o que abriu completamente o jogo de pull ups dos Clippers e acendeu seu ataque de perímetro.
Os Suns, naturalmente, tentaram contra-atacar levando Ayton mais para perto do corta-luz, mas os Clippers souberam aproveitar para levar a bola até Zu dentro do garrafão.
A entrada de Zubac abriu todo o jogo para os Clippers no lado ofensivo da quadra, mas também tornou impossível para LA defender
Phoenix --em outras palavras, o jogo virou uma explosão ofensiva e um duelo entre Paul George (16 pontos no quarto) e Devin Booker (18 pontos) castigando os pivôs adversários no drop de novo e de novo. LA levou uma leve vantagem, venceu o quarto por 3 e o jogo foi empatado para o período decisivo.
No começo do quarto período, mais uma vez Saric entrou pelos Suns, e Lue respondeu com Cousins em quadra. No entanto, Monty Williams fez um ajuste: deixou Devin Booker em quadra junto com Saric, o que permitiu aos Suns explorarem em um nível ainda maior a defesa de Cousins do que no segundo quarto e impedir a vantagem dos Clippers nesses minutos —um detalhe crucial para Phoenix virar esses minutos a seu favor. Mas dois outros fatores ajudaram não só a decidir esses minutos críticos, como também acabaram por definir a própria vitória do Phoenix Suns.
O primeiro é que, por algum motivo, dessa vez os Clippers não acionaram Cousins como fizeram no segundo quarto —foram apenas dois arremessos para o pivô— e ao invés disso insistiram nas isolações infrutíferas de Marcus Morris, que impediram o time de compensar os problemas defensivos do outro lado da quadra com Ayton no banco. Para piorar, esses minutos coincidiram com os de Paul George no banco dos Clippers, o que ajudou ainda mais a matar o ataque de LA. Por três minutos até a volta da sua estrela, os Clippers foram incapazes de pontuar, e perderam por 10-2 —desvantagem que se provou decisiva na partida.
A volta de Zubac e George reacendeu o ataque de LA e voltou a equilibrar o jogo, que retomou seu ritmo anterior de duelo de ataques. Ao longo do quarto período, ambos os times testaram diferentes coberturas para tentar minimizar as deficiências defensivas dos seus pivôs, e nenhum pareceu encontrar uma resposta definitiva —algo que vai ser crucial para o resto da série. Eventualmente, os Clippers voltaram para o quinteto small ball, sua defesa melhorou e Booker parou de pontuar, mas a ausência de Morris (com Rondo no seu lugar) foi uma piora suficiente desse lado da quadra que permitiu a Booker dominar a reta final com seus passes e manter Phoenix à frente no placar.
Mas, no final, o resultado já havia sido decidido naqueles três minutos sem Paul George, quando o Suns abriu a vantagem que não iria mais perder para ganhar mesmo sem Chris Paul e abrir 1-0 na série. Um jogo extremamente bem jogado, pensado, e com ajustes de sobra que dão um gostinho do que está por vir nos próximos confrontos.
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