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Vinte e Dois

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Prévia da final do Leste entre Milwaukee Bucks e Atlanta Hawks

Giannis Antetokounmpo, do Milwaukee Bucks, sob a marcação de Bogdan Bogdanovic, do Atlanta Hawks, em jogo da NBA - Michael Zarrilli/Getty Images/AFP
Giannis Antetokounmpo, do Milwaukee Bucks, sob a marcação de Bogdan Bogdanovic, do Atlanta Hawks, em jogo da NBA Imagem: Michael Zarrilli/Getty Images/AFP

Vitor Camargo

Colunista do UOL

23/06/2021 04h00

Dois jogos 7 para chegar até essa final do Leste, e aqui estamos; hora de ver o que nos espera pela frente.

Curiosamente, antes de a bola subir para o jogo 1, ambos os times já têm decisões importantes a tomar quanto ao seu quinteto inicial. Na série contra Miami, os Bucks colocaram Pat Connaughton como titular após a lesão de Donte DiVicenzo e deu muito certo. Contra os Nets, no entanto, foi PJ Tucker quem ocupou esse posto como quinto titular, e por um motivo óbvio: ele era a melhor opção do time para defender Kevin Durant, uma das chaves para a série.

Eu não vejo os Bucks tendo um nome definido para essa vaga, o que significa que é uma decisão entre o dinamismo que Connaughton oferece no ataque contra a defesa de elite de Tucker do outro lado da quadra. Por um lado, colocar Tucker deixa o time dos Bucks sem um elo fraco a ser explorado no perímetro, como os Hawks fizeram tão bem contra Curry e Rose, e também permite muito mais flexibilidade para trocar a marcação contra as ações dos Hawks —um fator fundamental para segurar o ataque de Atlanta. Caso os Bucks decidam focar na sua defesa, Tucker vai ser o nome para começar os jogos.

Mas algo importante a se considerar é que esse quinto titular vai ser também o jogador no qual os Hawks provavelmente tentarão esconder Trae Young defensivamente, sabendo que não podem deixar sua estrela exposta defensivamente contra Jrue Holiday ou Khris Middleton. Tucker é um bom arremessador da zona morta mas, apesar da vantagem de tamanho, ele não é alguém que vá castigar Young botando a bola no chão. Atlanta vai ficar deliciado se puder deixar seu armador parado defendendo a zona morta. Milwaukee pode castigar isso fazendo Tucker atacar os rebotes ofensivos pelo fundo, algo que faz muito bem e que Young é terrível marcando. Mas começar com Tucker ainda permite aos Hawks esconderem seu armador de forma muito mais confortável e minimizar seus pontos fracos.

Connaughton, nesse sentido, permite ao Bucks explorarem muito mais a defesa de Young. Embora não um criador tão dinâmico, Milwaukee costuma usá-lo muito mais em movimento no ataque, recebendo corta-luz ou pegando handoffs para continuar jogadas, e isso forçaria Young a se envolver muito mais defensivamente, tomando decisões e até mesmo trocando a marcação em jogadores mais perigosos —o que não só oferece um alvo enorme para os Bucks atacarem em busca de cestas fáceis como também pode desgastar ou sobrecarregar o astro de Atlanta com faltas. Mas ele não é o defensor que Tucker é, e oferece um jogador que os Hawks podem caçar com mais liberdade do outro lado da quadra. No fundo, é uma decisão entre focar em ataque ou defesa -eu acho que Tucker vai ser o titular, pelo menos para começar, mas não me surpreenderia de ver mudanças nesse sentido.

Do outro lado, os Hawks experimentaram tanto Solomon Hill como Kevin Huerter no lugar de DeAndre Hunter, e ambos oferecem problemas distintos. A escalação com Huerter é a melhor para os Hawks de modo geral, e foi a que ajudou a vencer a semifinal. Huerter é um ótimo arremessador que ajuda Atlanta em muito a espaçar a quadra. Ele é capaz de botar a bola no chão e criar no ritmo do ataque, e foi o melhor jogador de Atlanta no jogo 7 contra Philly. O time rende mais com ele, que também ajuda a espaçar a quadra para os pick-and-rolls de Trae.

Mas Huerter cria problemas defensivos, e com ele eTrae em quadra um dos dois vai ser obrigado a defender Holiday ou Middleton —oferecendo um mismatch para os Bucks atacarem. Isso não foi tão catastrófico contra o time dos Sixers que tinha uma carência absurda de criadores dinâmicos no perímetro, e mesmo assim nós vimos como Seth Curry conseguiu castigar Atlanta. Middleton e Holiday podem destruir um mismatch desses, e a última coisa que Atlanta quer é oferecer caminhos fáceis para o complicado ataque dos Bucks achar chutes livres. Hill oferece uma opção defensiva melhor, mas ele é uma nulidade no ataque e os Bucks podem usar seu marcador como ajuda defensiva sem medo de serem castigados. Apesar dos problemas, Huerter provavelmente ainda é a melhor opção aqui, pois as chances de Atlanta dependem de uma jogada, que é seu grande trunfo: o pick-and-roll de Trae Young.

Para os Bucks, esse tem de ser o grande ponto de pavor dessa série. Eu já falei muito aqui sobre a defesa drop dos Bucks e como ela tem sido um problema em pós-temporadas, e aqui não vai ser diferente. Trae Young vai DESTRUIR a defesa drop dos Bucks se eles não se adaptarem. Trae massacrou por completo a defesa dos Knicks na meia distância, e embora tenha tido um pouco menos de sucesso contra os Sixers (39 FG%) isso se deu em parte porque quem fazia o drop era Joel Embiid, não Brook Lopez.

Lopez não tem o alcance e capacidade de recuperação para contestar os floaters de Trae ou tirar o lob para Capela perto do aro. Se Hill for titular, os Bucks podem tentar dobrar em Trae e usar o jogador marcando Hill para ajudar contra o lob, mas com Huerter não vai ser tão fácil, e sem resposta para essa jogada, Milwaukee pode se complicar na série.

A resposta fácil para isso é: tire Lopez, e use o quinteto com Giannis de pivô que tão certo deu contra os Nets. Giannis é muito melhor que Lopez atacando e recuperando no PnR, o que atrapalha o floater de Trae sem abrir totalmente os lobs para o pivô, e permite trocar mais a marcação ao redor da formação sem medo de criar um mismatch. Eu já defendi várias vezes que essa é a melhor formação para Milwaukee, e embora os Bucks a tenham usado mais ao longo dos playoffs, Milwaukee é notoriamente conservador com mudanças e eu duvido demais que faça algo tão extremo assim logo de cara —especialmente com o quão bom Lopez foi no jogo 7 contra os Nets.

Existe, no entanto, um ajuste que os Bucks podem fazer; um ajuste simples, mas que pode alterar a dinâmica dos pick-and-rolls a seu favor e impedir que Lopez seja explorado defensivamente: inverter as marcações do garrafão. Ou seja, ao invés dos encaixes tradicionais —Giannis em John Collins, e Lopez em Capela— os Bucks deveria mudar e deixar Giannis em Capela. Dessa maneira, você impede que Brook seja colocado na principal combinação de pick-and-roll dos Hawks e coloca Giannis, que oferece uma opção muito melhor fazendo o drop. E, quando os Hawks inevitavelmente começarem a executar o PnR com Collins, Lopez pode jogar mais alto e atacar Trae para tirar o floater sem medo de ceder o lob para a ponte-aérea, sabendo que tem o melhor defensor de ajuda da NBA perto do aro para tirar esse passe —algo que ele só pode fazer porque está marcando Capela, que não é ameaça longe do garrafão.

Isso não iria parar por completo o ataque dos Hawks, é claro: eles se abririam para o pick-and-pop com Collins, um ótimo arremessador, e Atlanta ficaria mais livre para usá-lo em ações secundárias. Milwaukee geralmente prefere deixar Lopez em um jogador mais lento, permitindo que continue próximo ao aro, e Giannis em espaço, e essa troca mudaria o padrão. Mas é impossível parar por completo o ataque dos Hawks. Milwaukee tem de fazer escolhas e diminuir o impacto de Trae tem de ser prioridade —e se isso significa que você se arrisca a dar 15 chutes longos para Collins por jogo, você vive com isso.

Também vai ser interessante ver como os Hawks defendem os Bucks, porque contra eles a base é a mesma que usaram contra os Knicks: fechar o garrafão, forçar Giannis a ir na direção da ajuda de Capela e convidar os chutes de fora. Capela foi espetacular na ajuda defensiva contra NY e ele vai ter novamente um papel chave fechando espaços para Giannis. Vai ser interessante ver como se adaptam com Lopez nesse sentido. Se NY deixava um pivô inofensivo em quadra para Capela, Lopez vai espaçar a quadra, chutar de fora e forçar decisões mais difíceis. Capela vai pagar para ver esses chutes? Vai marcar Lopez de perto, arriscando deixar o garrafão aberto? Ou Atlanta vai tentar rodar em Lopez no perímetro, desafiando os Bucks a rodar a bola no perímetro? São as perguntas chaves para Atlanta desse lado da quadra.

Uma voz dentro de mim me diz para apostar em Atlanta, porque eu não confio nesse time dos Bucks. Se eu tivesse confiança no técnico de Milwaukee para fazer ajustes e tomar decisões, seria diferente, mas não é o caso.

Ainda assim, os Bucks são um time simplesmente melhor, e eles têm mais opções para explorar do que um Hawks mais desfalcado —e que precisou de uma série de colapsos históricos dos 76ers para chegar até aqui. E, se os ajustes vierem mais cedo, a série pode acabar até que rápido.

Palpite: Bucks em 6

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL