Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Milwaukee Bucks empata a série, e agora são os Hawks que buscam respostas
Ah, a diferença que um jogo faz.
Se o jogo 1 foi um exemplo do que Milwaukee tem de pior, o jogo 2 foi o oposto, com todas as limitações do Atlanta Hawks colocadas em primeiro plano e uma partida perfeita dos Bucks em todos os aspectos. Eles souberam manter o que estava funcionando, ajustar o que não estava, e o resultado foi um massacre —que ainda conta como apenas uma vitória, mas uma muito necessária depois de começar com derrota dentro de casa e que nos lembra do quão bom o Milwaukee Bucks pode ser quando está nos seus melhores dias.
O que mais chamou a atenção, merecidamente, foi o ataque dos Bucks e sua chuva de bolas de três; mas, honestamente, Milwaukee não fez nada de muito diferente em relação ao jogo 1. Eu escrevi no final da coluna sobre o jogo 1 como Milwaukee teve um excelente ataque, conseguindo explorar com muita eficiência as deficiências individuais dos jogadores do Atlanta Hawks e chegando no aro à vontade, além de gerar muitos chutes bons de três pontos quando a defesa colapsava no garrafão. E isso foi exatamente o que repetiram no jogo 2, mas dessa vez as bolas de longe caíram. Foram 10 bolas de três só no primeiro tempo em 56% de aproveitamento, e embora o número final não seja tão absurdo esse número caiu principalmente por causa de chutes dos reservas quando o jogo já estava definido.
Os Bucks não vão acertar tantos chutes de três assim sempre e nem podem contar com isso, mas todo o processo por trás das bolas está sendo excelente. Parece de novo a série contra Miami, com o time atacando impiedosamente os defensores mais fracos de Atlanta (em especial Trae Young e Gallinari), forçando trocas, usando toneladas de corta-luz simples para conseguir os confrontos que quer e rodando a bola a partir disso. O processo já tinha sido excelente no jogo 1, se repetiu no jogo 2, e dessa vez foi recompensado. A única coisa realmente diferente no processo teve mais a ver com o lado defensivo, pois com mais chutes errados e turnovers por parte dos Hawks, os Bucks puderam novamente dominar em transição.
Mas onde os Bucks realmente deram a volta por cima e brilharam foi do lado defensivo. Depois do jogo 1, ficou claro que os Bucks não poderiam manter sua tática de recuar o pivô para o garrafão e deixar Trae Young dominar a partida. Eu frisei a importância para Milwaukee se ajustar e parar de deixar Trae atacar Brook Lopez com espaço nessa jogada drop, e os Bucks não só se ajustaram; eles absolutamente trucidaram Trae e o ataque de Atlanta.
Budenholzer fez isso sem abrir mão do drop, mas alternando a forma como ele era feito de maneira muito semelhante ao que os Clippers fizeram no jogo 2 das finais do Oeste. Lopez ainda recuava contra o pick-and-roll, mas menos, ficando bem mais perto de Trae do que antes para tirar o chute de meia distância. Isso incentivava Trae a colocar a bola no chão e passar por Lopez para chegar até o aro, mas nesse momento o resto dos defensores de Milwaukee se deslocava para fechar esses caminhos e atacar a bola, fechando os espaços de Trae e forçando passes que resultaram em uma tonelada de turnovers —e muitos pontos fáceis do outro lado da quadra.
Parece fácil mas não é, especialmente contra um grande passador como Trae. Os jogadores na ajuda precisam navegar uma linha tênue entre atacar a infiltração para quebrar o ritmo do adversário, mas sem gerar um passe fácil para uma bola de três livre. E a ajuda defensiva dos Bucks foi absolutamente perfeita nesse sentido, especialmente de PJ Tucker. O resultado não poderia ser melhor: Trae terminou o jogo com 16 pontos, 3 assistências, 9 turnovers e 6-16 nos arremessos, ficando visivelmente frustrado conforme o jogo progredia. Em certo ponto, parecia que o armador estava vendo fantasmas, temendo a ajuda defensiva antes dela chegar, forçando passes para companheiros que não estavam lá, e frequentemente se limitando a chutes de três pontos —um arremesso que não tem caído nos playoffs. Ao invés de defender o pick-and-roll de Atlanta com apenas os dois jogadores envolvidos, Milwaukee defendeu com todos os cinco em quadra.
Isso fez parte de uma estratégia maior dos Bucks para deixar Trae desconfortável e tirar a bola das suas mãos, e funcionou tão bem que o time até chegou ao ponto de trocar a marcação para deixar seus pivôs marcando Trae no um contra um. Veja esse lance, no qual Trae consegue o mismatch de Bobby Portis, mas não consegue aproveitar. O chute de longe não estava caindo, e ele visivelmente está com medo da ajuda defensiva se infiltrasse —resultado em um passe forçado e outro turnover.
Foi uma aula defensiva do Milwaukee Bucks, que finalmente se ajustou e colocou seu considerável talento desse lado da quadra para bom uso. Foi apenas uma vitória, mas uma que dá muito moral ao time para o resto da série.
Do lado de Atlanta, no sentido macro, eles têm de estar satisfeitos com o resultado: venceram um jogo fora de casa, roubaram o mando de quadra e agora viajam para casa com a chance de se colocar no controle da série. Não importa se ganharam por 3 e perderam por 30, o resultado ainda é um empate em 1-1.
Mas o jogo 2 expôs as deficiências de Atlanta e deixou claro a diferença de nível que existe entre os dois times quando Milwaukee consegue assumir a vantagem tática do confronto —colocando a pressão agora do lado de Atlanta para fazer os ajustes na série. Ofensivamente, Atlanta mostrou alguma adaptação interessante para começar o segundo tempo, embora seja difícil saber o quanto de qualquer coisa que aconteceu após o intervalo possa ser levada em conta do ponto de vista analítico, ou se foi tudo um enorme garbage time com o jogo já decidido. Mas os Hawks mudaram um pouco o posicionamento dos seus companheiros perto de Trae, oferecendo opções mais fáceis para ele soltar a bola e permitindo a Atlanta rodar a bola no perímetro para encontrar arremessadores livres.
De novo, é difícil saber exatamente o quanto disso foi Atlanta descobrindo como contra-atacar a defesa mais agressiva dos Bucks e o quanto foi Milwaukee simplesmente jogando com o freio de mão puxado com uma diferença de quase 40 pontos, mas é o tipo de resposta que os Hawks precisarão para o próximo jogo se Milwaukee continuar focado em tirar a bola das mãos de Trae Young —facilitando formas de isso acontecer e posicionando o resto do time de forma a aproveitar o espaço gerado. Atlanta tem muito talento desse lado da quadra além de Trae, e vai precisar explorar isso mais a fundo.
Onde Atlanta mais preocupa é do outro lado da quadra, porque depois de dois jogos, os Hawks ainda não deram nenhuma mostra de capacidade de parar o ataque dos Bucks. Parte disso é limitação dos jogadores: Trae é um jogador péssimo na defesa, Gallo e Huerter são fracos, e Bogdanovic está limitado por lesões. Mas os Hawks não podem tirar esses jogadores de quadra para não perder em excesso do outro lado, o que torna qualquer ajuste muito mais difícil. Não é só que Atlanta está tomando muitos pontos dentro do garrafão ou cedendo muitas bolas de três, é que está fazendo os dois ao mesmo tempo, e isso sem nenhum grande erro tático. E isso começa quando o ponto central da sua defesa, Capela, está sendo completamente dominado por Giannis no confronto entre os dois, o que força o resto da defesa dos Hawks a se deslocarem mais para fecharem os espaços do grego, colocando todos esses defensores fracos fora de posição e permitindo que sejam ainda mais explorados pelas movimentações fora da bola de Milwaukee.
O problema maior é que, ao contrário dos Bucks, é difícil enxergar soluções simples para adereçar resolver o problema. Giannis tem destruído qualquer defensor que aparece na sua frente, e em geral Atlanta não tem jogadores de ajuda capaz de atrapalhar o grego. Colocar Collins em Giannis permite usar Capela na ajuda, mas nesse caso Capela vai estar defendendo um Brook Lopez jogando fora do garrafão que pode castigar com os chutes de fora. Colocar Solomon Hill no lugar de Huerter (ou do lesionado Bogdanovic) pode oferecer mais opções defensivas, mas também tira opções do ataque.
É a própria definição de cobertor curto, e a dificuldade de ser o time inferior em uma série; as opções são menores quando o plano A não funciona. Atlanta deve testar essas opções e mais —inclusive misturando diferentes alternativas— ao longo dos próximos jogos, mas não existe um fruto tão baixo para ser colhido como foi o caso com os Bucks e a defesa drop. A pressão agora está do lado de Atlanta para fazer ajustes, e considerando o quão bom Nate McMillan tem sido nesses playoffs, estou ansioso para ver o que ele vai tentar.
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