Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Clippers buscam igualar maiores viradas da história da NBA contra os Suns
Se você acompanhava NBA em 2016, com certeza já ouviu antes alguma piada sendo feita com times que perderam uma vantagem de 3-1 nos playoffs. Elas estavam por todas as partes depois da histórica virada do Cleveland Cavaliers sobre o favoritíssimo Golden State Warriors nas Finais de 2016, quando os Cavaliers se tornaram o primeiro time a virar essa desvantagem nas Finais da NBA. As piadas e memes usando a virada para diminuir os Warriors —que tinham batido o recorde da história da NBA ao vencer 73 jogos naquela temporada regular— tomaram conta da televisão, internet, e até mesmo da festa de Halloween que LeBron James deu no ano seguinte.
Essa história, naturalmente, volta à tona sempre que algum time se encontra nessa mesma desvantagem nos playoffs, exatamente o caso do Los Angeles Clippers antes da sua importantíssima vitória no jogo 5. Mas, embora seja uma história recorrente para situações semelhantes, o caso dos Clippers é particularmente curioso por causa de uma série de narrativas envolvendo alguns personagens chaves do confronto que possuem sua própria história com vantagens de 3-1 desperdiçadas.
A façanha do Cavaliers nas Finais de 2016 não foi a primeira virada em uma série que estava perdendo por 3-1, é claro —o pioneiro nesse tipo de reviravolta foi o Boston Celtics de 1968, liderado por Bill Russell, que nas finais do Leste virou para cima do favoritíssimo Philadelphia 76ers de Wilt Chamberlain para chegar às Finais e eventualmente vencer seu 10º título em 12 anos. No total, foram 13 viradas de séries 3-1 na história da NBA, e considerando que nunca nenhum time jamais conseguiu virar uma série que perdia por 3-0 essas 13 continuam sendo as maiores viradas da história do esporte.
Mas a do Cavaliers em 2016 é considerada especial, e por dois bons motivos: primeiro, por causa do adversário —Warriors atuais campeões, vencendo 73 jogos, grandes favoritos— e segundo, por ter acontecido nas Finais da NBA, o maior palco do esporte. Ela se tornou o modelo e inspiração para todos os times desde então que se encontraram nessa situação, e não é à toa... Mas, para mim, o título histórico dos Cavs ilustra justamente o quão difícil é reverter essa desvantagem. Os Cavs precisaram de atuações históricas de um dos melhores jogadores da história, de um adversário com seu astro jogando com joelho machucado e sem o pivô titular, com Draymond Green suspenso de um jogo crítico, e mesmo com tudo isso os Cavs AINDA precisaram de um arremesso histórico de Kyrie Irving no último segundo do jogo 7 para levantar a taça. É uma tarefa hercúlea.
A boa notícia para os Clippers é que eles têm do seu lado alguém que já passou por isso antes: seu técnico, Ty Lue, que também era o técnico dos Cavaliers durante a grande virada contra os Warriors. Na prática, é difícil saber se isso realmente ajuda ou não— são times diferentes, situações totalmente diferentes, e não é como se Lue tivesse feito algo de muito revolucionário em 2016 para seu time vencer o título— mas certamente não vai atrapalhar a confiança e o aspecto mental de um time dos Clippers que tem se especializado, nessa pós-temporada, em grandes viradas.
Curiosamente, força mental e resiliência eram os grandes pontos de interrogação para os Clippers entrando nessa pós-temporada, e isso justamente por ter estado do lado errado de uma virada por 3-1 como grande favorito um ano atrás. Depois de fazer seus principais movimentos na offseason para trazer duas grandes estrelas, Kawhi Leonard e Paul George, os Clippers enfrentaram os Nuggets na segunda rodada dos playoffs. Abriram 3-1 e estavam a uma vitória de chegar na primeira final de conferência da história da franquia quando veio o colapso. Los Angeles chegou a liderar o jogo 5 por 13 pontos nos segundos finais do terceiro quarto, apenas para tomar a virada no quarto período, e, então, tudo desandou. Denver venceu os dois últimos jogos da série por 28 pontos combinados, e esteve no controle do começo ao fim contra um time dos Clippers que pareceu um bando de crianças desesperadas enfrentando um time adulto.
Mas a relação mais interessante desse confronto com vantagens perdidas envolve os dois lados da série; mais especificamente, envolve o melhor jogador dos Suns, Chris Paul, quando ele ainda jogava pelos Clippers.
Não é exagero dizer que Chris Paul é o maior jogador da história do LA Clippers, sua chegada em 2011-12 foi o elemento transformador que fez uma franquia historicamente fraca e irrelevante passar a ser um dos times mais empolgantes e fortes da NBA. Entre sua chegada e sua saída em 2017, os Clippers tiveram seis anos como legítimos candidatos ao título nas mãos de sua grande estrela no que foi a melhor sequência da sua história até então. Só que os resultados em playoffs nunca vieram, um estigma que sempre assombrou tanto a franquia como o jogador: não apenas o time falhou em chegar a uma Final de NBA, mas Paul e os Clippers nem sequer chegaram a uma final de conferência.
Sua melhor chance veio em 2015, quando os Clippers jogaram contra os Rockets nas semifinais do Oeste pelo direito de enfrentar o eventual campeão Warriors nas finais de conferência. Apesar de os Rockets terem mando de quadra, os Clippers logo saíram na frente e abriram a vantagem de 3-1 nos primeiros confrontos. Houston venceu o jogo 5 no Texas, e o Clippers parecia pronto para fechar a série diante da sua torcida no jogo 6. LA liderava a partida por 19 pontos ao final do terceiro quarto, James Harden estava no banco, e tudo indicava que esse seria o ano em que os Clippers e Paul finalmente chegariam à elusiva final de conferência.
E foi quando tudo veio abaixo, e os Rockets viraram o jogo —não com James Harden, mas pelas mãos de Josh Smith e Corey Brewer, que combinaram 29 pontos no quarto período, quase o dobro do time inteiro dos adversários (15). Os Clippers não tiveram resposta, e Houston fechou a virada com uma vitória tranquila no jogo 7 em casa. A derrota não doeu apenas pela oportunidade perdida, mas marcou basicamente o fim da era Chris Paul em Los Angeles. O time nunca mais foi o mesmo, a dinâmica interna ficou visivelmente estremecida, e o time amargaria mais duas eliminações de primeira rodada até Paul forçar uma troca para o Houston Rockets —iniciando o caminho que eventualmente o levaria até os Suns. Não é à toa que Paul se sentiu desconfortável para discutir a vantagem de 3-1 quando perguntado sobre o assunto em uma entrevista pós-jogo; foi a pior derrota da sua carreira.
Será que os Clippers de 2021 podem repetir essas façanhas e se tornarem apenas o 14º time a vencer uma série depois de estar perdendo por 3-1? O caminho ainda é bem difícil, mas eles deram um primeiro passo importantíssimo ao vencer o jogo 5 em Phoenix com mais uma grande atuação de Paul George. Talvez mais importante, fizeram isso e venceram com propriedade um jogo no qual os Suns tiveram Paul E Booker jogando bem ao mesmo tempo, a primeira vez que isso acontece na série. A defesa foi excelente mais uma vez, o ataque conseguiu, finalmente, entrar e pontuar no garrafão depois de terem sido apagados por Ayton no jogo 4, e agora o time tem um jogo em casa para tentar igualar a série e forçar o jogo 7.
E, nas palavras do imortal Kevin Millar, em jogo 7 tudo pode acontecer.
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