Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Apesar da derrota, Jogo 2 mostra motivos de otimismo para o Milwaukee Bucks
Por trás de todo o planejamento, contratações, táticas, números e histórias que encontramos nos esportes, o objetivo final de qualquer um deles é bastante simples: ganhar. Naturalmente, a NBA não é diferente. Ganhar o título, ganhar cada jogo até chegar lá, é o que no fim do dia acaba importando.
No entanto, isso muitas vezes pode acabar atrapalhando nossa análise por nos focarmos demais apenas no resultado: se venceu, foi bem; se perdeu, foi mal. E isso é um erro: o basquete, como qualquer outro esporte, possui muita variância e aleatoriedade, e por vezes um bom processo pode levar a um resultado negativo, e vice-versa. Então, muitas vezes é mais instrutivo analisar o processo e não o resultado, especialmente se tratando de amostras pequenas como um ou dois jogos.
E esse prefácio é para dizer que, apesar da derrota no Jogo 2, eu achei que o Milwaukee Bucks mostrou coisas muito boas na partida. O time jogou como eu acho que tem que jogar, fez os ajustes certos, conduziu o jogo da maneira correta, e se perdeu foi em parte por causa de alguns fatores excepcionais que dificilmente irão se repetir, especialmente jogando em casa. Em outras palavras, existe motivo para otimismo com a forma como os Bucks se portaram no Jogo 2.
Como eu escrevi depois do Jogo 1, o maior desafio para Milwaukee dizia respeito à sua defesa: como encontrar a melhor forma de parar o ataque extremamente completo do Phoenix Suns. A estratégia original da equipe de trocar a marcação em todas as posses de bola, que deu tão certo contra o Atlanta Hawks, foi explorada pelos Suns com facilidade, atacando Brook Lopez nessas trocas para gerar uma tonelada de cestas fáceis. Embora as trocas continuassem - e funcionassem melhor - com o pivô no banco, simplesmente não usar Lopez nunca foi uma opção, e o desafio dos Bucks era descobrir um meio-termo para sobreviver com seu pivô em quadra.
No fim, Milwaukee acabou voltando para sua defesa de recuar o pivô na direção do garrafão durante o pick-and-roll para evitar trocar Lopez nos armadores dos Suns... mas com uma diferença importante. Em geral, esse tipo de defesa (chamada "drop") é uma abordagem conservadora, que visa defender o pick-and-roll no dois-contra-dois, permitindo que o resto dos marcadores permaneçam perto dos seus respectivos jogadores. Isso evita a movimentação de bola e força o adversário a arremessar da meia distância.
Contra os Suns, no entanto, essa estratégia é a morte por causa da excelência do adversário justamente na meia distância, e todos sabiam que era inviável para os Bucks continuarem jogando assim nas Finais. Então Milwaukee adicionou uma pequena mudança: em vez de manter a defesa no pick-and-roll no dois-contra-dois e convidar para o chute de meia distância, eles usaram seus marcadores não diretamente envolvidos na jogada para atacar quem tinha a bola e forçar um arremesso contestado ou então um passe.
Esse tipo de estratégia não é padrão da defesa em drop e nem da defesa dos Bucks de modo geral e obviamente vai na direção oposta da proposta: como você compromete mais jogadores contra a bola, está abrindo mais oportunidades para o ataque movimentar a bola e achar chutadores livres. De fato, foi exatamente o que os Suns fizeram, rodando a bola contra essa defesa mais agressiva e encontrando bons chutes do perímetro ao longo de todo o jogo.
No entanto, eu ainda acho os Bucks acertaram com essa estratégia, e é sua melhor chance na série: não deixe Chris Paul e Devin Booker atacarem Lopez diretamente, elimine sua zona de conforto da meia distância e tire a bola das mãos dos astros de Phoenix, para forçar os coadjuvantes como Jae Crowder e Mikal Bridges. Se você acha que isso ainda é assumir um grande risco por dar a esses jogadores bons arremessos da linha dos três pontos, olha, bem-vindo às Finais da NBA: não existe solução perfeita, ainda mais contra um ataque tão espetacular como o dos Suns.
Você precisa correr riscos, decidir onde focar e o que você vai aceitar como consequência para tirar as principais forças do adversário. Se Jae Crowder, Cam Johnson e Mikal Bridges te vencerem com grandes performances como consequência, acontece - esse é o preço a se pagar nos níveis mais altos do basquete.
É por isso que avaliar pelo resultado é tão problemático quando falamos de um jogo único. A princípio, seria fácil olhar para a vitória dos Suns por 10 pontos, tendo anotado 118, como prova de que a defesa dos Bucks não funcionou, que ela precisa mudar e que taticamente Milwaukee continua em busca de respostas. Mas, vendo o jogo, eu não concordo, e muito dessa percepção vem de um dado completamente fora da curva: Phoenix arremessou 50% nos arremessos de três pontos na partida.
Esse é o mesmo Suns que acertou 38% os seus chutes de fora na temporada regular e 38% no resto dos playoffs. Arremessar 50% em um volume gigantesco de bolas de três (20 de 40) é completamente insustentável, e se tivessem mantido seu verdadeiro aproveitamento nas bolas longas, apenas 15 dessas 40 teriam caído - significando 15 pontos a menos uma vitória que se deu por 10 pontos. Faça as contas.
Você ainda pode argumentar que, como a defesa dos Bucks estava dando exatamente esses chutes de fora, os Suns tendem a conseguir arremessos mais livres, e portanto o aproveitamento tende a subir de acordo, o que é válido. Mas, mesmo se for o caso, 50% ainda é completamente fora da curva. Nenhum jogador, muito menos um time inteiro, consegue manter esse aproveitamento, e mesmo que continue acima dos 38% normais da equipe, ainda vai ser uma queda grande o suficiente para fazer uma grande diferença no resultado uma vez que a regressão esperada chegue.
Essa mesma regressão também deve beneficiar os Bucks no ataque. Nem tanto pelo seu próprio aproveitamento pífio da linha dos três pontos, 29% no Jogo 2, porque isso já se repetiu o suficiente para continuar acreditando que se trate só de variância (embora, sim, a tendência ainda é que melhore um pouco). Mas sim porque é improvável que Kris Middleton E Jrue Holiday continuem arremessando tão mal.
No Jogo 2, a dupla arremessou 32% de quadra e 22% de 3 - não importa quão boa seja sua tática, ou quão bem o coletivo tenha executado o plano de jogo, é praticamente impossível vencer com seu segundo e terceiro melhores jogadores arremessando tão mal. Embora sejam dois jogadores famosos pela tomada questionável de decisões e propensão a dar chutes contestados - algo que naturalmente reduz o aproveitamento nos arremessos - os dois erraram tudo, até mesmo em chutes que deveriam ser confortáveis e de alto aproveitamento: os dois combinaram para 5-14, ou 36%, em arremessos dados perto do aro, em tese os mais fáceis de todo o esporte.
Esses são arremessos que nós sabemos que os dois são capazes de acertar com consistência. Se eles continuarem tentando, os chutes vão cair com mais regularidade. Em outras palavras, a expectativa é que eles também regridam (positivamente) para sua média normal. Quando isso acontecer, os resultados serão muito mais positivos mesmo que o processo continue igual.
Entre esses dois aspectos, eu acho que os Bucks têm motivos para estar otimistas quanto às suas chances de empatar a série nas partidas em casa. O que, ao mesmo tempo, está longe de ser uma garantia de qualquer coisa: basquete é tudo, menos linear, e muitas coisas devem mudar entre o Jogo 2 e o Jogo 3. Os Suns certamente viram o mesmo que eu expliquei aqui e entrarão com mais ajustes dos dois lados da quadra para trazer o jogo ainda mais a seu favor.
Talvez Milwaukee entre em pânico com o resultado e mude sua forma de jogar para algo que não funcione tão bem. Talvez Giannis não consiga continuar batendo Ayton tão bem como no Jogo 2 e todo o ataque dos Bucks desmorone ao seu redor. Talvez os coadjuvantes dos Suns continuem chutando 50% de três só por mais um jogo, suficiente para abrir 3 a 0 e praticamente matar a série. Esse é o problema de regressão estatística: nos playoffs, às vezes você simplesmente não tem tempo suficiente para esperar ela acontecer.
Mas essas são coisas que estão além do controle de um time. Variância e aleatoriedade são parte de qualquer esporte - é isso que faz deles imprevisíveis e tão interessantes -, e você só pode afetar diretamente aquilo que está nas suas mãos. Nesse aspecto, eu gostei muito do que vi dos Bucks no Jogo 2; o suficiente para ter esperanças de que, ao contrário do que alguns pregam, essa série ainda não está acabada.
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