Topo

Vitor Guedes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mata-mata goleia pontozzz corridozzz há 20 anos!

O corinthiano Bambu, que nem sequer é relacionado para os mata-matas, jogou em Fortaleza porque VP tratou como menos importante o duelo do Brasileiro - Lucas Emanuel/AGIF
O corinthiano Bambu, que nem sequer é relacionado para os mata-matas, jogou em Fortaleza porque VP tratou como menos importante o duelo do Brasileiro Imagem: Lucas Emanuel/AGIF

Colunista do UOL

22/08/2022 11h05Atualizada em 22/08/2022 16h29

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O Palmeiras de Abel Ferreira lidera o interminável Campeonato Brasileiro de pontozzz corridozzz adotando a revolucionária estratégia de escalar sempre os melhores à disposição, cada um na sua posição, sem palhaçada nem invenção. Jogadores são pontualmente trocados, em casos reais de necessidade, e não por capricho ou desrespeito à torcida.

Não tem segredo nem milagre! Como toda regra tem exceção, quando Abel quis fazer graça e preservar muito além da conta e da necessidade em Florianópolis, deixou dois pontos contra o Avaí.

Em relação ao maior rival histórico, adversário que por maior tempo ocupou a vice-liderança, o Corinthians, o Palmeiras venceu os dois Dérbis atuando com o que tinha de melhor contra um adversário que, de forma absurda, poupou energias. Em Barueri, a escalação alvinegra foi abaixo da crítica. Tentaram, em meio a uma desastrada greve de silêncio, culpar um tal surto de gripe no elenco, que, de forma milagrosa, foi embora logo depois do jogo e todos os poupados atuaram no jogo seguinte, contra o Boca Juniors.

Na volta, na Neo Química Arena, a decisão do Corinthians foi ainda mais absurda. Podendo reduzir de 6 para 3 pontos, VP deixou os titulares Fágner, Gil e Fábio Santos no banco e viu o líder abrir 9 pontos e deu adeus à disputa.

Com o Corinthians fora do páreo, o Flamengo, que nunca esteve próximo por culpa da burra insistência com o fraco Paulo Sousa, assumiu a vice-liderança. E, no jogo que poderia reduzir a diferença de 9 para 6 pontos, escalou um misto frio e guardou todos os titulares ofensivos para o mata-mata da Copa do Brasil.

A mentira da vez é que os treinadores foram obrigados a escolherem as copas por uma questão de saúde. Não, a escolha foi esportiva. Se o mata-mata fosse no final de semana e na quarta, agora, Palmeiras x Flamengo e Fortaleza x Corinthians pelo Brasileiro, não há a menor dúvida que o Flamengo de Dorival Júnior e o Corinthians de Vítor Pereira jogariam com os titulares nos mata-matas e escalariam a reservada no Brasileiro na mesma forma.

As decisões de Flamengo e Corinthians chamam mais atenção porque se tratavam, quando ocorreram, dos duelos do então vice-líder contra o líder, mas é um fenômeno do topo à rabeira da tabela. No San-São, Rogério Ceni foi de misto contra o Santos e perdeu. Não é de hoje que o Tricolor, seja na véspera da Copa do Brasil ou da Sul-Americana (a secundária Série B do continente), deixa o Brasileiro em terceiro plano.

A verdade é que todos os times, na dividida, ficam com o mata-mata, seja qual mata-mata for, e deixam a maratona do Brasileiro em segundo plano. Enquanto ainda estava disputando a Libertadores e a Copa do Brasil, o Fortaleza deixou o Brasileiro como terceira opção e amargava a lanterna no Nacional.

O divórcio entre o discurso e a prática, a diferença do que dizem teóricos eurocêntricos e o que pensa a arquibancada, estão escandalosamente postos. Na teoria, pode se repetir 818 mil vezes que o Campeonato Brasileiro é mais importante que a Copa do Brasil porque é a competição que garante calendário para todos e que a fórmula de todos contra todos, em ida e volta, é mais justa e blá-blá-blá.

Na prática, desde 2003, quando a fórmula enlatada foi adotada, é todos contra alguns, alguns contra quase ninguém, outros contra todos, um adversário recebe um time titular o outro pega o mesmo adversário 100% reserva e não há como sustentar, de forma honesta, baseada em fatos, que um certame em que todo o mundo poupa suas forças para jogar outros torneios é o mais importante. Isso para não falar das edições em que aconteceram entregas deliberadas, vergonhosas e escandalosas, com direito a jogadores intimidados pelas respectivas torcidas, que exigiam que a equipe perdesse e, coincidentemente, os torcedores foram atendidos em 100% dos casos, sem exceção!

Se a pessoa tem duas festas para ir e só consegue ir em uma e guarda a melhor roupa para ir na balada da quarta e dá o seu convite para outro aparecer na comemoração do domingo, ninguém vai acreditar se ele disse que domingo era mais importante. No futebol, isso acontece todo ano e as pessoas continuam fingindo que não estão vendo.

A minha opinião, dita desde 2003 em todas as minhas tribunas, independentemente dos times envolvidos nas disputas por título ou por rebaixamento, é que desde que importaram a colonizada fórmula dos pontozzz corridozzz, o mata-mata transformou a quarta-feira no verdadeiro domingo do futebol!.

Não é de hoje e negar a realidade não parece estar resolvendo. E o motivo é simples: o torcedor brasileiro, sempre ignorado pelo elitista status quo, gosta de final, duelo classificatório e gritar campeão. Há mais de 20 anos querem o convencer que comemorar sexto lugar é supimpa, que é assim em todo o Velho Mundo, mas, felizmente, o Brasil deixou de ser colônia há séculos. Tem gente até querendo imitar o calendário, esquecendo que o futebol não é imune ao movimento de translação e, pois, o nosso verão corresponde ao inverno europeu...

Eu sou o Vitor Guedes e tenho um nome a zelar. E zelar, claro, vem de ZL! É nóis no UOL!

Veja:

E me siga no Twitter e no Instagram.