Yara Fantoni

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Opinião

Jogadores também choram, e precisamos analisar melhor antes do massacre

Foi o terceiro jogo sem vencer do Atlético-MG no Campeonato Brasileiro. Foram 9 gols tomados em três jogos e uma pressão sofrida pelo setor defensivo. Na zona mista, após o empate em 1 a 1 com o Fortaleza, o goleiro Everson não aguentou e chorou falando sobre como se sente diante do momento vivido no clube.

"Desculpa, mas eu tentei. Ninguém sabe o sacrifício que eu fiz para jogar hoje, foi difícil para c***. Cheio de dor, mas enquanto for suportável e eu aguentar a dor para jogar, eu vou jogar. Por mais que não agrade uma parte da torcida. Ano passado eu passei por isso, em 2022 fui um dos melhores goleiros da competição, ajudando a equipe no segundo turno com grandes defesas. Talvez por isso eu sou cobrado, por sempre estar jogando em alto nível. Tomei alguns gols difíceis de tomar. Quando eu erro, eu assumo a responsabilidade. Momento difícil, é ter cabeça boa", desabafou o arqueiro atleticano.

O choro veio depois de responder sobre os golaços que sofreu nos últimos jogos. Contra o Fortaleza, ele não teve culpa alguma. Entretanto, em outras partidas, o desempenho do goleiro, que é titular absoluto no clube, vem sendo contestado. Em 2024, ele atuou em 29 dos 30 jogos da equipe e só ficou de fora da goleada diante do Palmeiras, pois estava suspenso.

O fato é que os jogadores não são super heróis. Ele são seres com sentimentos e sofrem com as críticas como qualquer outro indivíduo, e quando o nível de cobrança é intenso, não há quem aguente. Os atletas estão exaustos de serem vistos como máquinas e precisam do apoio da torcida para que o desgaste com o calendário avassalador não se estenda do físico para o mental.

O amante do futebol deve sim criticar e cobrar, mas, primeiramente, deve se lembrar de que existe um todo. Por isso, os clubes precisam se reforçar para ter peças de reposição de qualidade quando necessário, o que hoje, de certa forma, ainda falta no Atlético. Quando Everson foi substituído diante do Palmeiras por Matheus Mendes, o alvinegro foi goleado pelo Verdão. Será mesmo então que o problema é o Everson?

O calendário do futebol é exigente e o clube perde peças importantes por competições internacionais, lesões, suspensões e liberações e a pressão deve ser mesmo em cima de jogador em específico? Para se ter um exemplo, Scarpa, que ia bem pela direita, teve que mudar de posição para ajudar o time que tem ausências na esquerda!

"- A Massa me pede o Scarpa pela direita. Estou de acordo com vocês. [...] eu gosto mais dele pela direita. Mas quem vai jogar lá? O Arana, que está na Seleção? [...] O Rubens está? Não está", disse o técnico Gabriel Milito.

No jogo contra o Fortaleza foram ao menos 5 desfalques, mesmo com a volta de Paulinho. Contra o Vitória mais ainda. Será então que vale se esquecer de toda a trajetória do jogador para fazer uma visão tão micro? O próprio treinador defendeu o goleiro na coletiva após a partida.

"O Everson é nosso goleiro titular, indiscutivelmente. Ele tem todo o meu apoio, estou muito feliz com ele. Hoje, ele fez um grande esforço para jogar, porque tinha uma infecção no dedo. É um goleiro muito bom. Conversaremos para que ele esteja tranquilo e ele sabe o que penso e o que os companheiros pensam dele. É um grandíssimo goleiro", afirmou o comandante.

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Everson chegou ao Atlético em 2020, em negociação com o Santos. O goleiro foi um pedido do então técnico Jorge Sampaoli pela habilidade de jogar com os pés. Em 2021, com Cuca no comando, participou das campanhas dos títulos do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil. Em 2023, o Galo teve uma das melhores defesas do Campeonato Brasileiro.

E aí? De quem é a culpa? Do jogador que chora ou de um recorte que anula todo o contexto de constantes desfalques nas últimas partidas sem peças fortes de reposição? No jogo diante do Fortaleza quantos jogadores que já não eram titulares sentiram algo e precisaram ser substituídos? Precisamos repensar calendário e o banco antes de massacrar jogador.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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