Nascido na Inglaterra, Sidney Pullen foi o único estrangeiro a vestir a camisa do Brasil

Por Fabio Bittencourt


Nesta sexta-feira, os ingleses são os adversários. Mas houve um tempo em que uma esperança brasileira era justamente um súdito da rainha: Sidney Pullen, único estrangeiro a defender o Brasil.

Nascido em 1895, na Inglaterra, Sidney desembarcou no Rio, junto com sua família, no início do século passado. Seu pai, Hugh Pullen, havia sido transferido pela empresa em que trabalhava.

Assim que chegaram aos trópicos, o clã aderiu ao "football" no clube Paysandu, um dos endereços britânicos da cidade. Lá, Sidney foi campeão estadual pela primeira vez, em 1912, aos 17 anos.

O Paysandu fechou com o início da Primeira Guerra Mundial, e Sidney foi para o Flamengo. Levou consigo o pai, que pouco tempo depois assumiu a tesouraria do clube. Uma das primeiras medidas de Hugh foi importar o uniforme conhecido como "cobra coral".

Até 1916, o uniforme preto e vermelho era exclusivo do remo, o então esporte mais popular da cidade, mas de prática acessível apenas à elite. Hugh foi obrigado a extinguir o "cobra-coral" , que remetia à cores da Alemanha, com quem o Brasil havia rompido.

Por essas e outras, a família Pullen passou a ser respeitada no futebol carioca. Foi então que o jovem Sidney acabou convidado para representar o Brasil em sua primeira competição internacional.

Na posição de centro-médio, participou da primeira edição do Campeonato Sul-Americano, realizado em Buenos Aires, em 1916.

E Sidney foi o primeiro representante do país a pisar em campo. Trabalhando também como árbitro, apitou Argentina x Chile, jogo que terminou com o placar de 6 a 1 para os donos da casa.

Como jogador, Pullen disputou os três jogos do Brasil, que ficou com a terceira colocação na competição após empates por 1 a 1 com Argentina e Chile e derrota por 2 a 1 para o Uruguai, que viria a ser o campeão.

Desprovido de força física, mas dono de uma hábil perna esquerda, Pullen era um ponto de referência do rubro-negro. De 1915 a 1925, jogou em quase todas as posições. Foi capitão e até técnico.

Em 116 jogos, conquistou cinco títulos estaduais pela equipe. Autor de 40 gols, o inglesinho possui um currículo respeitável, capaz de fazer frente até mesmo aos grandes ídolos da história do clube.

Convocado pelo exército inglês, Sidney se afastou do Fla durante parte da Primeira Guerra. Antes de viajar, deixou as chuteiras com o jovem "back" do segundo time, espécie de aspirantes da época.

Alberto Quadros, 103 anos, fala do ex-parceiro com carinho. "Além de bom jogador, era um grande amigo. Morava em Copacabana e costumávamos conversar bastante", conta, ao UOL, por telefone.

"Os torcedores gostavam muito dele", diz Fernando Botelho, 89 anos. "Fernandinho", como era conhecido, foi goleiro do Flamengo na década de 30, mas não chegou a jogar ao lado de Pullen.

"Depois que parou, era comum vê-lo jogando tênis no Fluminense", conta Botelho. Vai um aviso: no início do século passado, a rivalidade entre Laranjeiras e Gávea não era tão grande. "O futebol era um esporte nobre", diz Quadros. "Hoje, é uma profissão".

Sidney Pullen, inglês da seleção brasileira, morreu na década de 50.