Jefferson Santos, 25, tinha certeza de que iria ao Japão este ano. Atleta do decatlo, a prova de dez modalidades que é considerada a mais difícil do atletismo, ele é dono do 5º maior resultado da história do Brasil. No esporte ininterruptamente há 18 anos, vinha conseguindo em treinos seus melhores resultados - sempre um bom sinal antes de grandes competições. Estava pronto e confiante do que poderia apresentar na competição que carimbaria seu passaporte. Mas não contava com a imposição de uma realidade que nada tem a ver com seu desempenho atlético.

Em 2020, a maior parte das competições esportivas foi suspensa por causa da pandemia. No final do ano, enfim, aconteceu o Troféu Brasil - mas Jefferson teve Covid pouco antes e não pôde competir. Sem a oportunidade de disputar, como muitos outros atletas, ele não obteve resultados no ano. Mas isso não chegava a ser uma preocupação, uma vez que o mundo todo vivia essa situação de exceção e que seus treinos iam cada vez melhor. "Minha perspectiva no começo do ano era muito boa", conta. "Estava bem, treinando certinho, fazendo meus melhores resultados. Para falar a verdade, eu tinha certeza de que ia pro Japão. Minha cabeça já estava totalmente nos jogos, bastava competir para fazer o índice", diz. A prova para essa qualificação aconteceria em junho.

Em janeiro, no entanto, ele foi cortado de seu clube, ao lado de outros 21 atletas. Em março, perdeu o Bolsa Atleta. Ficou sem renda.

Seu sonho é seguir os passos da sua tia e principal inspiração, Luciana Alves, que representou o Brasil em Sydney e Atenas em diferentes modalidades do atletismo.

E é o exemplo da tia e o apoio do tio - que é seu treinador desde os sete anos de idade -, que o inspiraram também neste momento a seguir sempre em movimento. "Meus tios já viveram muito isso e dizem que é uma fase, e que pode passar; depende de mim ficar nela ou não".

E ele já se organiza para sair dela correndo. Seu foco é o Campeonato Mundial de Atletismo, no ano que vem, já de olho em 2024. "O intervalo para esses jogos é bem menor, a preparação começa agora", explica.

"As pessoas falam que, quando a gente volta, volta mais forte", afirma. Ele conta que se surpreendeu quando, há poucas semanas, decidiu "brincar" no campeonato estadual de São Paulo. Conquistou o 2º lugar.

E é bem longe. Seu objetivo, ele diz, é conquistar os 8.500 pontos até 2024 - uma marca que ele mesmo considera "surreal", e que o colocaria entre os melhores resultados olímpicos. Por enquanto, sua maior pontuação é 8.187 pontos, a quinta melhor de todos os tempos no Brasil. O recorde sul-americano é 8.493, e ele está de olho nesse movimento.