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Novo Blatter na Fifa?

Infantino assume com grande desafio: apagar manchas de corrupção

Rodrigo Mattos Do UOL, no Rio de Janeiro
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Só sorrisos e piadas não serão o suficiente

Nasceu em um pequeno condado na Suíça, cresceu como executivo do futebol, é sorridente e bem humorado em público. Essa descrição poderia ser de Joseph Blatter, presidente da Fifa por 17 anos, mas também se encaixa perfeitamente ao novo comandante da entidade Gianni Infantino. Mas o ítalo-suíço de 45 anos que chega ao topo do futebol mundial é um novo Blatter?

Essa pergunta só poderá ser respondida durante a gestão de Infantino. Há pelos menos o benefício da dúvida, o que não havia com Blatter que assumiu como pupilo de João Havelange e em meio à denúncia de compra de votos na eleição de 1998. O ex-secretário-geral da UEFA diz ser o homem ideal para iniciar uma nova Fifa, uma quebra em relação ao erros do passado, uma promessa de reforma. Mudanças, aliás, inevitáveis diante dos escândalos de corrupção.

Não se pode esquecer ele que não é um homem alheio ao mundo do futebol, pois milita dentro da federação europeia há 15 anos. E Infantino também tinha o seu mentor enrascado em denúncias (Michel Platini). Mas a carreira do suíço-italiano não tem manchas de corrupção.

De sua trajetória no futebol o que se pode observar são medidas para aumentar o controle sobre os clubes ricos (Fair Play financeiro), incentivos à participação de pequenas associações nacionais em grandes competições (aumento de times na Euro), e a sucesso da Liga dos Campeões (sob sua operação). É com base nisso que ele promete uma Fifa que ajude as pequenas federações com dinheiro - aqui, ele se torna parecido com Blatter novamente. Assim, tenta afastar a imagem de “presidente europeu” da entidade.

A questão é se Infantino irá estender sua atuação nas associações nacionais para além de ajudas financeiras costumeiras. A raiz dos problemas da Fifa está na estrutura corrupta verificada em confederações continentais como Conmebol e Concacaf, e em federações de países como Argentina, Brasil, Chile e EUA. Era em seus países que os cartolas enriqueciam com contratos nebulosos enquanto ascendiam à cúpula da Fifa. Sem mexer nesta estrutura viciada, pouco muda.

Dentro do âmbito administrativo da federação internacional, é quase certa a separação deste ambiente político da administração de fato da entidade. Há, sim, uma eficiência na máquina na federação internacional a ser preservada. Como executivo que cresceu na estrutura da UEFA, é provável que Infantino dê mais poder a esse corpo de funcionários em detrimento dos políticos.

É mais do que necessária essa mudança já que os escândalos ameaçam sangrar a Fifa e até a Copa do Mundo com patrocinadores descontentes e suas próximas edições marcadas para países cujas escolhas foram polêmicas (Rússia e Qatar). Neste cenário, Infantino acena com um aumento do número de participantes do Mundial para um total de 40 seleções, em movimento similar ao que fez na Euro.

Certamente, o maior temor da Fifa é perder a Copa do Mundo pela total inabilidade para resolver seus próprios problemas. No final da linha, a principal tarefa do suíço-italiano é convencer o mundo de que a entidade ainda merece o direito de organizar o esporte e a competição que todo o mundo ama.

Para isso, serão necessários bem mais do que os sorrisos e piadas que ele costuma apresentar em conversas com cartolas e jornalistas. Porque a capacidade de ser simpático, e mesmo competente no início, também era uma característica de Blatter. Só que no final de sua gestão ninguém mais conseguia rir da situação em que estava o futebol.

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Gil Cohen/Reuters

Diga com quem andas...

A principal, e mais óbvia, influência de Infantino é o presidente da UEFA, Michel Platini. Seu poder no futebol foi possível por meio do ex-jogador francês, assim como sua candidatura só saiu porque Platini foi suspenso pelo Comitê de Ética da Fifa.

Já o vice da Fifa e da UEFA, Angel Maria Villar, foi o responsável por incentivar a candidatura de Infatino com a queda de Platini. É um dos mais resistentes às reformas na Fifa, afirmando que ninguém de fora deveria interferir na entidade.

Ex-jogadores como Luis Figo e o técnico José Mourinho apoiaram Infantino e o classificaram como um amigo. É uma amostra de sua força entre estrelas europeias.

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FABRICE COFFRINI FABRICE COFFRINI

O que deve mudar...

As reformas da Fifa foram aprovadas por todas as associações nacionais, implicando em regras de transparência e no fim do poderoso Comitê Executivo. Um conselho mais abrangente deve passar a comandar a federação internacional sob o ponto de vista político, enquanto funcionários tocam a administração e realização de contratos. Um controle maior sobre os clubes, inclusive transferências de jogadores, é esperado na gestão de Infantino. A Copa do Mundo pode aumentar de 32 para 40 seleções desde que aprovado pelo Congresso da entidade.

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...e o que deve ficar igual

A estrutura de 209 associações nacionais que votam todas as reformas da Fifa, presidente e escolhas da Copa do Mundo não deve mudar. E há limitação do presidente para tentar regular e controlar irregulares nestas entidades como a CBF. Ou seja, em muitas situações, o presidente, por mais honesto que seja, estará submetido ao poder de dirigentes sob suspeita.

Pode até tentar, mas será difícil

Uma forma de limpar as associações nacionais é obrigá-las a seguir as novas regras da Fifa de transparência e de boa gestão. Infantino tem o poder de propor essas mudanças ao Congresso, embora dependa de apoio para que isso seja aprovado. Um fair play financeiro para todos os clubes do mundo, por exemplo, depende da colaboração de cada confederação.

Fabrice Coffrini / AFP

Começou cedo na carreira

O início de sua carreira como dirigente esportivo foi aos 18 anos quando se candidatou a presidente do clube Brig, de sua cidade natal na Suíça. Uma das suas promessas foi de que sua mãe lavaria o uniforme do time se ele vencesse. Infantino ganhou a eleição, e sua mãe lavou os uniformes.

Vou falar para jogadores, para campeonatos, times e torcedores: vocês vão ficar orgulhosos do que a Fifa vai fazer pelo futebol. Vamos entrar em uma nova era. Tivemos agora um importante congresso, algumas reformas foram aprovadas e o novo presidente certamente vai implementar todas essas reformas e mudar a reputação. Vamos voltar para onde pertencemos

Infantino

, em seu primeiro anúncio como presidente

Hoje a Fifa tem uma receita de bilhões e vamos investir nas associações. Além disso uma nova era começou: vou trazer parceiros de volta, vou falar com as empresas de transmissão, com todos os patrocinadores... Vamos ganhar a confiança deles de novo. A gente sabe que as receitas vão crescer. Não precisamos nos preocupar com o futuro neste sentido

Novo presidente da Fifa

, fazendo sua primeira promessa

O futebol não está dividido.Eleição você ganha e perde e a vida continua. Eu tenho ótimas relações na África. Fiz vários amigos por lá e foi por lá a minha primeira competição. Eu me dou bem lá, me dou bem na Ásia, na Oceania, na América do Sul e do Norte... Eu sou candidato do futebol e futebol é universal. Não precisamos subir muros, precisamos construir pontes.

O ítalo-suíço

, pregando união das federações

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