Nasceu em um pequeno condado na Suíça, cresceu como executivo do futebol, é sorridente e bem humorado em público. Essa descrição poderia ser de Joseph Blatter, presidente da Fifa por 17 anos, mas também se encaixa perfeitamente ao novo comandante da entidade Gianni Infantino. Mas o ítalo-suíço de 45 anos que chega ao topo do futebol mundial é um novo Blatter?
Essa pergunta só poderá ser respondida durante a gestão de Infantino. Há pelos menos o benefício da dúvida, o que não havia com Blatter que assumiu como pupilo de João Havelange e em meio à denúncia de compra de votos na eleição de 1998. O ex-secretário-geral da UEFA diz ser o homem ideal para iniciar uma nova Fifa, uma quebra em relação ao erros do passado, uma promessa de reforma. Mudanças, aliás, inevitáveis diante dos escândalos de corrupção.
Não se pode esquecer ele que não é um homem alheio ao mundo do futebol, pois milita dentro da federação europeia há 15 anos. E Infantino também tinha o seu mentor enrascado em denúncias (Michel Platini). Mas a carreira do suíço-italiano não tem manchas de corrupção.
De sua trajetória no futebol o que se pode observar são medidas para aumentar o controle sobre os clubes ricos (Fair Play financeiro), incentivos à participação de pequenas associações nacionais em grandes competições (aumento de times na Euro), e a sucesso da Liga dos Campeões (sob sua operação). É com base nisso que ele promete uma Fifa que ajude as pequenas federações com dinheiro - aqui, ele se torna parecido com Blatter novamente. Assim, tenta afastar a imagem de “presidente europeu” da entidade.
A questão é se Infantino irá estender sua atuação nas associações nacionais para além de ajudas financeiras costumeiras. A raiz dos problemas da Fifa está na estrutura corrupta verificada em confederações continentais como Conmebol e Concacaf, e em federações de países como Argentina, Brasil, Chile e EUA. Era em seus países que os cartolas enriqueciam com contratos nebulosos enquanto ascendiam à cúpula da Fifa. Sem mexer nesta estrutura viciada, pouco muda.
Dentro do âmbito administrativo da federação internacional, é quase certa a separação deste ambiente político da administração de fato da entidade. Há, sim, uma eficiência na máquina na federação internacional a ser preservada. Como executivo que cresceu na estrutura da UEFA, é provável que Infantino dê mais poder a esse corpo de funcionários em detrimento dos políticos.
É mais do que necessária essa mudança já que os escândalos ameaçam sangrar a Fifa e até a Copa do Mundo com patrocinadores descontentes e suas próximas edições marcadas para países cujas escolhas foram polêmicas (Rússia e Qatar). Neste cenário, Infantino acena com um aumento do número de participantes do Mundial para um total de 40 seleções, em movimento similar ao que fez na Euro.
Certamente, o maior temor da Fifa é perder a Copa do Mundo pela total inabilidade para resolver seus próprios problemas. No final da linha, a principal tarefa do suíço-italiano é convencer o mundo de que a entidade ainda merece o direito de organizar o esporte e a competição que todo o mundo ama.
Para isso, serão necessários bem mais do que os sorrisos e piadas que ele costuma apresentar em conversas com cartolas e jornalistas. Porque a capacidade de ser simpático, e mesmo competente no início, também era uma característica de Blatter. Só que no final de sua gestão ninguém mais conseguia rir da situação em que estava o futebol.