Do parto aos treinos em 8 dias, esquiadora aprende tiro para disputar o biatlo

Jaqueline Mourão nem bem esfriou após as competições das Olimpíadas de Inverno de Vancouver e poucos dias depois, com rara sorte, já tinha cumprido um segundo objetivo de sua temporada de 2010. Até mais importante que a competição, ela recebeu seu prêmio nove meses depois: um garotinho chamado Ian. A atleta brasileira do esqui cross-country virou mãe imediatamente nove meses após os Jogos, aos 35 anos, mas nem por isso se distanciou do esporte.

Envolvida nos treinos de uma nova modalidade, o biatlo, Jaqueline manteve sua preparação até o oitavo mês de gravidez. Mais do que isso – pasme – com apenas oito dias passados do nascimento do seu primogênito, ela já havia retomado os exercícios, tendo como foco principal a disputa dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sochi, na Rússia.

“O ano de 2010 foi atípico, um período de transição depois das Olimpíadas em que virei mãe no dia 24 de outubro, mas em que continuei treinando para poder voltar o mais rápido possível para voltar às competições. Afinal, não tenho licença maternidade e sou viciada em esporte”, brincou Jaqueline, ao UOL Esporte, falando do Canadá, onde mora na maior parte do ano.

A sorte da atleta e de seu técnico e marido Guido Visser, canadense, é que os planos não tardaram a dar certo e a gravidez surgiu logo nas primeiras tentativas do casal.

“Foi uma sensação muito boa e minha gestação foi bem ativa. Eu consegui ficar envolvida em meus projetos, com clínicas de esqui e de mountain bike”, diz ela, a primeira brasileira a disputar tantos os Jogos de Inverno quanto os de Verão, com o cross-country e a mountain bike, respectivamente. Nesta última modalidade, ela chegou a levar seis adolescentes do Brasil para o Canadá em 2010, em projeto para desenvolver talentos.

O detalhe principal dos treinamentos durante o período de gestação foi a inclinação a uma nova modalidade, o biatlo, prova na neve que combina uma especialidade de resistência e uma de precisão. Jaqueline já competia no cross-country (comparada à maratona do atletismo) e, para este esporte, passou também a aprender tiro.

“Enquanto estava grávida, caiu um pouco o número de treinamentos e a intensidade. Mas eu fazia muita bicicleta, muita caminhada com bastões. E pude investir no tiro, em aprender todos os fundamentos. Atirei até os oito meses, deitada”, conta ela, que não se atrapalhou com o barrigão e sempre monitorava a frequência cardíaca para não atrapalhar o desenvolvimento do bebê.

Se a volta à preparação foi breve, a retomada das competições também não tardou. Oito semanas após dar a luz a Ian, a mãe-atleta e o pai-técnico foram disputar provas de biatlo, que teve inclusive vitória de Jaqueline em evento em Quebec, no Canadá. Com um bom aproveitamento nos tiros, com 14 acertos em 20 tentativas, ela tem esperança de melhorar ainda mais os resultados na neve.

Com a nova aposta por 2014 já em andamento, Jaqueline agora luta para perder os poucos quilos que a separam de seu peso anterior à gravidez. Ela chegou a pesar 12 kg a mais do que seu normal, e agora só está a dois de recuperar a velha forma. O “filhote” tem ajudado neste trabalho, acompanhando cada detalhe dos treinos da mãe, mesmo sob um frio de gelar no Canadá.