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Estrela brasileira e revelações do esqui põem em dúvida participação em 2014

Isabel Clark foi eliminada na fase classificatória do snowboard cross de Vancouver-10 - EFE
Isabel Clark foi eliminada na fase classificatória do snowboard cross de Vancouver-10 Imagem: EFE

Maurício Dehò

Em São Paulo

12/02/2011 07h01

Com apenas cinco atletas e uma mistura de experiência e juventude na disputa dos Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver, em 2010, o Brasil pouco conseguiu avançar em termos de resultado. E, com a chance de boa parte destes atletas nem ao menos competir na edição de 2014, em Sochi (Rússia), a situação pode ser pior, apesar de um maior investimento nas modalidades “geladas” para este ciclo olímpico.

POR ONDE ANDAM?

Isabel Clark:
Snowboarder faz temporada mais curta, focada nos treinos. Devido à idade, não sabe se poderá correr nos Jogos de Sochi.
Jaqueline Mourão: Agora mãe, a veterana aprendeu tiro para trocar o cross country pelo biatlo para as próximas Olimpíadas.
Leandro Ribela: Brasileiro se dedicou ao cross country em 2010, para melhorar com esquiador, mas planeja dividir sua atenção com o biatlo
Maya Harrisson: Após competir nos Jogos aos 17, rompeu ligamentos do joelho. Depende de achar melhor estrutura para seguir no esporte.
Jhonatan Longhi: Operou o ombro e recebeu convites para ser técnico. Tem em dúvida participação em Sochi-2014 nas provas de esqui alpino.

Atualmente os melhores resultados do país são de Isabel Clark, veterana de 36 anos do snowboard. Competindo na prova de snowboard cross, ela foi nona colocada nas Olimpíadas de Turim, em 2006, melhor resultado do país na história dos Jogos. Em Vancouver, foi apenas 19ª. E agora, devido à idade avançada, não sabe se terá condições de suportar mais um ciclo completo.

“Não estou querendo planejar muito. Sei que não sou mais tão jovem e que a tendência é de que as pistas fiquem que vez mais exigentes e grandes. Vou ver temporada por temporada”, disse ela, que não esconde o maior desejo. “Gostaria sim de ir, mas se o meu físico estiver bem.”

Isabel vê com esperanças o futuro do snowboard, desta vez com mais ênfase nos homens. Na categoria slopestyle, nomes como Marcos Batista, Gustavo Bauer e Andres Barreto despontam. Na sua prova, entre as mulheres, Nathali Oliani pode “tomar” seu lugar.

Novatos do esqui em problemas

Já estabelecida, Isabel não tem grandes preocupações para continuar no ciclo, se assim puder. Mas dois nomes encarados como as grandes revelações do esqui brasileiro enfrentam dificuldades e encaram com ceticismo o futuro no esporte em alto nível. Maya Harrisson e Jhonatan Longhi, que compartilham a história de terem nascido no Brasil e serem adotados por europeus, não sabem se seguem competindo.

Quem mais sofreu de um ano para cá foi Maya, principalmente devido a uma lesão, que lhe trouxe dificuldades também na parte emocional. A brasileira criada na Suíça foi a Vancouver com apenas 17 anos, buscando apenas experiência, para chegar com maturidade a Sochi e competir por posições de destaque.

“Após os Jogos, durante um campo de treinos, eu rompi os ligamentos e tive de ficar nove semanas com a perna imobilizada. Isso me deixou desmoralizada e acabei ficando com medo de retornar”, explica a garota, hoje prestes a completar 19 anos. Maya estuda em uma escola especial de esqui e não podia representar seu time.

“Perdi muito músculos, enquanto minhas colegas evoluíam. Fiquei muito desmotivada e deprimida. Hoje tenho que recuperar o tempo perdido e por isso penso em parar. Além disso, não tenho a estrutura para progredir e competir por bons resultados em Sochi. Eu teria de encontrar um treinador individual e competir com atletas melhores que eu”, diz ela, que deixou de ganhar premiações devido à ausência em torneios, o que complicou ainda mais a situação. “Se não conseguir isso, vou parar.”

Atualmente, sua preocupação é encontrar uma estrutura que permita sonhar mais alto na modalidade, o que tem tentado junto à Confederação Brasileira de Desportos na Neve. A entidade tem nela uma de suas maiores apostas.

“Maya foi para as Olimpíadas com apenas 17 anos e terá 21 em Sochi. Ela obteve em 2010 o melhor resultado brasileiro em 44 anos e acreditamos que poderá trazer excelentes notícias em 2014”, afirma o presidente da CBDN, Stefano Arnhold.

Quem também não vê com confiança o novo ciclo é Jhonatan Longhi, que pode seguir no esqui, mas deixando de ser atleta. “Eu espero continuar até as próximas Olimpíadas, mas tenho de pagar sozinho para treinar e competir, então é difícil. Eu recebi propostas para trabalhar como técnico, então ainda não sei o que pode acontecer”, disse o brasileiro, criado na Itália desde pequeno.

Além disso, Longhi passou por cirurgia no ombro, o que desacelerou seu início de ciclo olímpico. “Hoje não tenho apoio de federação ou de patrocinadores. Parei de estudar um ano depois das Olimpíadas para poder competir e agora não tenho suporte, estrutura e dinheiro, então é uma situação muito triste”, conta ele.

Os outros brasileiros

Fora estes três, mais dois brasileiros que participaram de Vancouver-2010 têm situação mais tranquila neste início de ciclo até 2014. A veterana Jaqueline Mourão trocou o cross country pelo biatlo.

Jaqueline, primeira atleta brasileira a disputar tanto os Jogos de Verão – no mountainn bike - quanto os de Inverno, foi mãe no fim do ano passado, mas voltou às competições dois meses depois. Ela aproveitou a gravidez para aprender tiro e agora tentará a sorte no biatlo, modalidade na qual já conquistou três ouros desde o retorno à neve.

No caminho contrário, Ribela deixou o biatlo de lado, mas não definitivamente. “Tenho saudades do biatlo, mas nesta temporada resolvi focar 100% no cross country, para elevar meu nível técnico no esqui. O caminho mais curto para os Jogos é nesta modalidade, mas espero poder agregar o biatlo novamente no meu calendário em 2011 ou 2012.”, explicou.

Em 2010, só atletas dos desportos na neve conseguiram vaga olímpica. A expectativa é de que o país volte a classificar trenós do bobsled para os Jogos de 2014, em Sochi, aumentando a delegação, que foi de dez atletas em 2002 e 2006, mas passou a ter apenas cinco nomes em Vancouver.