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Um ano após Vancouver, Brasil aumenta investimento, mas vê urgência por 2014

Brasil teve cinco atletas em Vancouver; a melhor foi Isabel (c), 19ª no snowboard cross - Divulgação
Brasil teve cinco atletas em Vancouver; a melhor foi Isabel (c), 19ª no snowboard cross Imagem: Divulgação

Maurício Dehò

Em São Paulo

12/02/2011 07h00

Há exatamente um ano, os Jogos Olímpicos de Inverno, em Vancouver, deram a largada para uma das edições com mais êxito da competição, o que se percebeu inclusive no público brasileiro, que pôde assistir ao evento em TV aberta e aprendeu a vibrar com esportes como o curling – conhecida como “bocha no gelo”. Doze meses depois, o que se vê é um misto de animação com o resultado no Canadá, mas cautela e alerta para a preparação para as Olimpíadas de 2014, em Sochi, na Rússia, afinal, uma temporada do novo ciclo já se passou.

Apesar de angariar interesse no Brasil e isso gerar um aumento nos investimentos nas modalidades de inverno, os resultados da delegação brasileira não apresentaram grande melhora. Com isso, o alerta dos atletas é para que a preparação para 2014 não tarde a começar, de modo a permitir que o país chegue em melhores condições em relação a Vancouver.

“É um trabalho que precisa começar agora”, opina Jaqueline Mourão, do cross country e que agora se aventura no biatlo, que combina a modalidade anterior ao tiro esportivo. Isabel Clark, maior nome dos esportes de inverno da atualidade, é da mesma opinião.

PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NOS JOGOS

ATLETAPROVAPOSTO
Isabel Clarksnowboard cross19ª
Jaqueline Mourãoesqui cross-country67ª
Leandro Ribelaesqui cross-country90º
Jhonatan Longhiesqui alpino - slalom gigante56º
Maya Harrissonesqui alpino - slalom e s. gigante48ª e não terminou

“Tem que começar desde já para 2014, 2018 e 2022. O trabalho que está sendo feito é bom. Mas o ideal mesmo seria que aparecessem mais atletas com um nível mínimo para ter mais competitividade e opções entre os brasileiros. O fato de não ter neve no Brasil com certeza é um freio, mas aos poucos vamos criando novos talentos”, avaliou ela, 19ª no snowboard cross em 2010 e 9ª em 2006, melhor participação brasileira na história.

Apesar de em geral os atletas aprovarem os trabalhos das confederações, alguns relatam dificuldades em manter o sonho olímpico nos outros três anos em que as atenções ao esporte de inverno diminuem.

“Hoje não tenho apoio de federação ou de patrocinadores. Parei de estudar um ano depois das Olimpíadas para poder competir e agora não tenho suporte, estrutura e dinheiro, então é uma situação muito triste”, conta Jhonatan Longhi, brasileiro do esqui alpino que foi adotado por europeus ainda criança e cresceu na Itália.

Para quem falhou em conquistar a vaga olímpica nos últimos dias, como Fabiana Santos, do bobsled, as dificuldades são ainda maiores, apesar de a ex-atleta do levantamento de peso manter o sonho de 2014.

“Antes as coisas acabavam acontecendo em cima da hora, e isso dificulta para um país sem tradição”, relata Fabiana, que sofreu com a preparação tardia para Vancouver. Ela iniciou a parceria com Daniela Ribeiro no ano anterior aos Jogos e teve pouco tempo para se entrosar com a companheira, iniciante na modalidade. “Estamos com um projeto melhor, então espero chegar mais tranquilamente a Sochi”.

A paulista conta ainda que hoje apenas os pais a sustentam, sem maiores recursos para treinar e competir – os gastos de viagem para as provas são pagos pela CBDG. “Estou no bobsled desde 2003 e já fiquei afastada por falta de recurso, mas desde a volta em 2009 ainda não tive ajuda financeira”, alega ela.

Os investimentos

O esporte de inverno brasileiro é dirigido por duas confederações, CBDN e CBDG, responsáveis respectivamente pelos desportos na neve e no gelo. Desde os preparos para Vancouver, as entidades passaram a receber maior apoio, levando-se em conta as verbas destinadas a elas de acordo com a Lei Agnelo/Piva, mesmo que o pós-Olimpíadas seja bem menos movimentado, ainda mais em um país sem tradição nas modalidades geladas.

ATLETAS POR JOGOS

  • 10

    ATLETAS

    Teve o Brasil nos Jogos de Inverno de Salt Lake City-02 e Turim-06

  • 5

    REPRESENTANTES

    Teve a delegação brasileira em Vancouver, que diminuiu devido à ausência de atletas do bobsled

    Antes dos Jogos, o repasse era de R$ 500 mil por ano, o que passou a R$ 600 mil na véspera da competição. Agora, com mais um aumento, cada confederação tem um orçamento de R$ 800 mil para trabalhar a sua temporada – ambas recebem o valor mínimo de repasse no esporte brasileiro.

    “O aumento tem sido gradual. Os valores destinados aos desportos de inverno ainda não são suficientes, mas tiveram uma grande melhora nos últimos dois anos, o que nos permite desenvolver um número maior de projetos”, explica Eric Maleson, presidente da Confederação do gelo.

    Segundo ele, os principais da entidade são organizar eventos para detecção de talentos e a implementação de um centro para treinos e competições. A meta em 2014 é classificar o bobsled feminino entre os 15 melhores do mundo e, quatro anos depois, enviar times de curling e patinação no gelo aos Jogos de Inverno.

    Uma das preocupações em revelar jovens para os esportes de inverno é a idade dos atuais atletas, como Isabel Clark (36 anos) e Jaqueline Mourão (35), e o fato de jovens talentos ainda não terem assegurada sua continuidade no esporte, no caso de Jhonatan Longhi e Maya Harrisson. Além disso, o número de brasileiros nos Jogos caiu de dez em 2002 e 2006 para apenas cinco em 2010.

    Na neve, a meta é de obter melhores marcas em 70% das provas que o país disputar. “O maior foco são os atletas e o investimento em equipes multidisciplinares para suportar os treinos e as provas. Estamos em um período excepcional, com um mix fantástico de novos talentos com outros mais experientes”, afirmou Stefano Arnhold, presidente da CBDN. A entidade também tem projetos para CTs, com expectativa de conclusão ainda em 2011.