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Veteranos nos esportes de neve criticam confederação após acidente de Lais

Paulo Anshowinhas

Do UOL, em São Paulo

30/01/2014 06h00

O grave acidente sofrido pela ginasta Lais Souza enquanto praticava esqui nos Estados Unidos gerou críticas à Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN). Veteranos nas modalidades de inverno apontam o risco na "importação" de atletas de verão para disputar modalidades de na neve. Lais estava tentando uma vaga para disputar as provas de esqui aerials nos Jogos Olímpicos de Inverno, em Sochi, no mês que vem.

“Apostar em atletas de outras modalidades para um esporte de inverno é um risco enorme. Um atleta demora anos para criar confiança, para ter segurança na neve. Querer que a menina seja profissional do esporte em curto tempo é quase impossível”, diz a pentacampeã brasileira de snowboard free style, Juliana Veiga.

Outro profissional da neve, o campeão sul-americano e tricampeão brasileiro de snowboard André Cywinski, critica duramente a ação da CBDN a incentivar atletas de outras modalidades a praticar esportes tão extremos. "Eu migrei do skate para o snowboard há cerca de 20 anos e foram muitos anos de treino até chegar aos saltos em rampas grandes, os chamados big airs. A Jaqueline Mourão migrou do triatlo para o esqui cross country sem nenhum perigo aparente, mas pegar uma atleta da ginástica e que não tem nenhuma experiência com a neve e com os saltos em rampas foi algo grave", disse. "Sou totalmente contra e repudio esse tipo de ação que a CBDN faz."

Já Marco Alborghetti, ex-atleta de esqui, acredita que a base tem que ser feita ainda na infância. Ele é pai de irmãos Nathan, de 14 anos, e Esmeralda, de 15 anos, medalhistas em competições internacionais. “O esqui alpino é um esporte que deve ser praticado desde criança. Não se pode improvisar atletas de esqui alpino porque as bases são plantadas muito cedo e algumas técnicas são aprendidas durantes a formação do esquiador, até os 14 anos. Depois dessa idade não tem mais a possibilidade de alcançar o mesmo desenvolvimento. Leva-se tempo de dedicação e aperfeiçoamento”, afirma.

A CBDN se defende. A entidade afirma que deu todo o treinamento necessário para Lais e que a ginasta estava preparada para praticar o esqui em alto nível.

"A inclusão de atletas de modalidades de “verão” nos esportes de inverno é uma prática comum e bem sucedida em diversos países. Especificamente na modalidade aerials, Estados Unidos, China, Austrália e Ucrânia, que atualmente dominam a categoria, têm programas de transição de ginastas para o esqui. A última medalhista de ouro olímpica, Lydia Lassila, foi ginasta da equipe internacional da Austrália, assim como Ashley Caldwell, de 20 anos, principal esperança americana no esqui aerials", disse Stephano Arnhold, presidente da CBDN.

"A CBDN oferece às atletas de aerials um programa de treinamento idêntico ao realizado pelas grandes equipes da modalidade. O desenvolvimento das manobras é feito em rampas na água para, em seguida, ser levado à neve. O treinamento especifico é feito em trampolim acrobático. Lais e Josi (Santos, também da equipe brasileira de esqui) fizeram intenso e detalhado treinamento seguindo planejamento preparado pelo experiente treinador canadense Ryan Snow", completou.

A TRAJETÓRIA DE LAIS: DA GINÁSTICA PARA O ESQUI

Lais Souza está acordada, mas em estado grave no Hospital da Universidade de Utah, nos EUA. Ela precisa de ajuda de aparelhos respirar e não consegue mexer os braços e as pernas, de acordo com boletim médico divulgado pelo hospital.

O acidente aconteceu na noite de segunda-feira, em Salt Lake City. Lais usava capacete e sofreu um deslocamento na coluna vertebral, precisando passar por uma cirurgia. Ela esquiava com o técnico canadense Ryan Snow. Apesar do atual estado, os médicos que cuidam de Lais não quiseram se precipitar e disseram ser "muito cedo para fazer um prognóstico a longo prazo". Mas alertaram: "Lais terá uma longa recuperação a sua frente".

Lais Souza começou a treinar esqui aerials em 2013, em iniciativa voltada aos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang-2018. Contudo, evoluiu rapidamente e se aproximou da classificação um ciclo antes.