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Russos derretem sem camisa na praia em Olimpíada de inverno a 20 graus

Bruno Freitas

Do UOL, em Sochi (Rússia)

12/02/2014 12h49

Está aí uma imagem que inspiraria discursos inflamados de ambientalistas preocupados com o aquecimento global. Estou diante desse quadro, um senhor apenas de calças, com o corpo quase todo descoberto, em um balneário conhecido do sul da Rússia. Só que o detalhe que torna este cenário quase surreal é que estamos em Sochi, a sede da Olimpíada de Inverno, em pleno andamento.

Nesta quarta-feira, a costa do Mar Negro, onde fica o Parque Olímpico, experimentou temperaturas na casa dos 20 graus positivos (para padrões russos, é quase um Rio 40 graus). Ou seja, nunca se testemunhou Jogos de Invernos tão quentes como este aqui na Rússia.

"Já estive em cinco Olimpíadas de Inverno, nenhuma foi tão quente como esta", comenta Stefano Arnhold, presidente da Confederação Brasileira de Desportos de Neve e chefe da missão do país, após ver um de seus atletas competir.

De fato, a julgar pelas temperaturas medidas pela meteorologia, Sochi e os Jogos de Inverno parecem incompatíveis neste mês de fevereiro. Oficialmente a temperatura já chegou a 13 graus positivos na costa, onde parte das competições é disputada. Mas a verdade é que quem viu barrigas tostando no sol na tarde desta quarta dificilmente endossaria esses números.

Na praia de pedrinhas que fica na região central de Sochi, crianças brincaram de camisetas e shorts, enquanto que senhores se bronzeiam sem preocupação nesta quarta. Uma menina dormia tranquila, aproveitando a temperatura amena, ao mesmo tempo em que um casal de adolescentes devorava sorvetes. Os casacos mais pesados estão temporariamente nas mãos ou nas mochilas (ou ficaram em casa mesmo).

Mesmo no Parque Olímpico, ali perto, são vários os que arriscaram ficar só de camiseta durante esta quarta-feira, com o sol exposto e jeitão típico de Olimpíada de verão.

Todo este contexto faz parte de uma configuração climática única de Sochi, um conhecido balneário russo desenhado por palmeiras na área costeira. Cidade imensa junto ao Mar Negro, a sede da Olimpíada de Inverno pode apresentar climas bem diferentes ao longo de um mesmo dia, em fato que já havia sido criticado na época da escolha do Comitê Olímpico Internacional.

Neste cenário, o lugar em que o gelo bate ponto mesmo é nas montanhas de Krasnaya Polyana, local das provas ao ar livre. As temperaturas são mais baixas, mas nestes dias com frio bem tolerável mesmo para quem vem dos trópicos. E atualmente existe a indisfarçável preocupação em relação à manutenção dos níveis de neve.   

Nas semanas antes da Olimpíada a organização de Sochi precisou colocar em prática todo planejamento para reforçar o estoque de neve, necessária para construção de pistas de competição. Cristais de gelo foram estocados por meses e outros foram literalmente fabricados graças a engenhocas de alta tecnologia, que usa água como matéria prima.

Se faltar neve, as provas de esqui ficam comprometidas tecnicamente. Mas a organização assegura que os níveis atuais podem dar conta do recado. O jeito é torcer para o sol passar umas férias mais ao sul, na Geórgia, quem sabe.