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Ucranianas ganham ouro emotivo em Sochi: "são lágrimas de todo o país"

Bruno Freitas

Do UOL, em Sochi (Rússia)

21/02/2014 14h15

Em meio a uma grave crise nacional em que mais de 70 pessoas morreram em confrontos de rua, a Ucrânia teve um motivo para celebrar nesta sexta-feira, na Olimpíada de inverno. A equipe feminina de biatlo do país conquistou o ouro no revezamento 4x6 km. Como era esperado, as vencedoras levaram ao pódio toda a carga emotiva dos últimos dias, com as notícias de tensão que viajaram de Kiev até Sochi.

"Estava exausta no fim da prova e chorei no pódio, não pude parar. Tentei me acalmar e me esconder atrás de meus esquis. Mas estas não eram lágrimas apenas minhas. Foram lágrimas derramadas por toda a Ucrânia", afirmou Vita Semerenko logo após a prova no complexo Laura, em Sochi.

"Recebemos muitas mensagens através das mídias sociais nos últimos dias. Fiquei lendo todas elas até esta manhã. Disse para as meninas: temos que ganhar por toda a Ucrânia. Estamos muitos felizes que o povo da Ucrânia esteja conosco. Estamos felizes que pelo menos uma coisa boa tenha acontecido para o nosso país", comentou Olena Pidhrushna, capitã do time, também emocionada.

Esta foi a segunda medalha da Ucrânia nos Jogos de Inverno de Sochi. Antes, Vita Semerenko já havia sido bronze no biatlo individual, prova de 7,5 km.

Antes mesmo da medalha do time de biatlo (prova que combina tiro esportivo e esqui crosss country) a Olimpíada já havia virado fórum de discussão sobre a crise ucraniana. Na última quinta-feira, a atleta do esqui alpino Bogdana Matsotska anunciou que estava desistindo do evento em razão dos acontecimentos em seu país. Seu pai e treinador também deixou a delegação.

Matsotska já havia participado de duas provas nos Jogos de Inverno, mas também competiria no slalom, evento realizado nesta sexta-feira.

"Claramente existe uma questão para o Comitê Olímpico Ucraniano. Eles têm pessoas responsáveis pelos atletas, então eles podem dar um número apropriado. Sei que alguns foram embora. Sei que a maioria ainda está aqui", afirmou Mark Adams, diretor de comunicações do COI, nesta sexta.

Durante a semana, o ex-ídolo do atletismo Sergey Bubka, hoje presidente do Comitê Olímpico Ucraniano, disse que respeita as decisões de cada atleta. No entanto, a entidade evitou uma orientação oficial sobre qual conduta os integrantes da delegação devem apresentar.

Desde a última terça-feira, confrontos em Kiev entre oficiais e manifestantes contra o governo ucraniano deixaram mais de 70 mortos. Nesta sexta, o governo do presidente Viktor Yanukovich anunciou acordo com líderes oposicionistas e representantes da União Europeia na tentativa de por fim à crise.

Os principais pontos do pacto são a convocação de eleições até no máximo dezembro, a volta da Constituição de 2004 (que restringia os poderes do presidente) e uma reforma constitucional que garanta o equilíbrio entre os poderes. Além disso, será criado um governo de coalizão dentro de dez dias, e o Estado não poderá declarar estado de emergência durante o processo.