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Caçula dos Jogos de Inverno fez 21 cirurgias e 'conheceu' neve há 3 meses

Cristian Ribera, um dos representantes brasileiros nos Jogos Paraolímpicos de Inverno de PyeongChang - Marcio Rodrigues/MPIX/CPB
Cristian Ribera, um dos representantes brasileiros nos Jogos Paraolímpicos de Inverno de PyeongChang Imagem: Marcio Rodrigues/MPIX/CPB

Thiago Rocha

Do UOL, em São Paulo

09/03/2018 04h00

A vida de um atleta é construída por desafios, mas para Cristian Ribeira os obstáculos surgiram antes de a paixão pelo esporte despertar. Ele nasceu com artrogripose, uma doença congênita das articulações das extremidades. Com seis meses de vida, ele passou pela primeira cirurgia nas pernas. Hoje, aos 15 anos, o mais jovem entre os 650 participantes dos Jogos Paraolímpicos de Inverno, com início nesta sexta-feira (9), em PyeongChang, na Coreia do Sul, acumula 21 intervenções cirúrgicas.

"A última foi com 11 [anos]. Elas me ajudaram a corrigir as pernas, que eram muito atrofiadas. Fui fazendo as cirurgias para corrigir essa situação e poder ter uma rotina melhor, uma vida melhor", contou o atleta do esqui cross-country, em entrevista ao UOL Esporte, já em território asiático. Ele é um dos três brasileiros classificados para o evento e disputará quatro provas - a primeira será neste sábado (10), às 22h (de Brasília), com percurso de 15 quilômetros.

Para buscar uma vida com a menor limitação possível à base de cirurgia, a família Ribeira deixou Cerejeiras, distrito de Rondônia com pouco mais de 18 mil habitantes, rumo a São Paulo, e instalou-se em Jundiaí, a cerca de 60 quilômetros da capital. "O maior impacto quando vim para cá foi o de não conhecer a cidade, não saber se o meu filho teria tratamento, não saber se a gente conseguiria vencer em São Paulo. Foi muito difícil, mas a gente conseguiu", lembrou Solange Ribera, mãe de Cristian.

O esporte virou atividade complementar ao tratamento. Cristian começou na natação, tentou capoeira e tênis, mas tomou gosto por atletismo e skate. O esqui entrou na vida dele há três anos, quando uma parceria entre o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e o Agitos  Foundation, braço educacional do Comitê Paralímpico Internacional (IPC) para fomentar a prática esportiva no país, identificou potencial quando ele experimentou o sitting ski (esqui sentado).

Na "versão verão", o esqui com rodas, Ribera passou a treinar no asfalto para assimilar técnicas da modalidade. O primeiro contato em competições com a neve, o habitat do esqui, ocorreu apenas três meses atrás, em dezembro de 2017, quando Cristian já tinha 15 anos, idade mínima para participar de torneios oficiais.

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Imagem: Marcio Rodrigues/MPIX/CPB

"A técnica no asfalto e na neve é a mesma, mas a maior diferença está nas curvas. Na neve, qualquer movimento que faça com o quadril você vai para o lado, com o roller ski [esqui com rodas], não. Ele é projetado para andar em linha reta, então tem de fazer força para empiná-lo e depois dar direção. A gente passa por um processo de adaptação muito importante. Não tenho artimanha, é mais a loucura mesmo, a emoção, a adrenalina, que eu procuro mais ainda para chegar preparado e enfrentar novos desafios", explicou.

Na base da "adrenalina e loucura", Cristian Ribeira participou de sua primeira competição na neve, em dezembro de 2017, e um mês depois obteve índice para os Jogos Paraolímpicos de PyeongChang, em Vuokatti, na Finlândia, registrando a maior pontuação de um brasileiro na história do esqui cross country (48,19). 

A pontuação é modesta no nível mundial, mas suficiente para o jovem Cristian usar a estreia em Paraolimpíadas como estímulo para manter uma carreira promissora.

"A gente [Brasil] já esteve mais distante de alcançar resultados expressivos. Para um menino que veio de Rondônia, estar aqui já era quase impossível. Nada é impossível, então vamos correr atrás do prejuízo para um dia conseguir uma medalha que seria importante para o Brasil. A prática leva à perfeição. Ter calma e força de vontade. O meu sonho é alcançar esse objetivo, ser um medalhista paraolímpico", sonha.

Além de Ribeira, o Brasil será representado nos Jogos de PyeongChang pela esquiadora Aline Rocha, também estreante no evento, e pelo snowboarder André Cintra, que participou da edição de Sochi, na Rússia, em 2014.