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Novo volante da F-1 favorece ultrapassagens, mas complica pilotos

Além de controles como marcha e embreagem, volante de 2011 acumula funções - AP Photo/Markus Schreiber
Além de controles como marcha e embreagem, volante de 2011 acumula funções Imagem: AP Photo/Markus Schreiber

Rafael Krieger

Em São Paulo

14/02/2011 07h00

Mesmo depois de duas baterias de testes de pré-temporada na Fórmula 1, a reclamação de que o volante de 2011 é complicado demais é frequente em todas as equipes. Os novos botões do Kers e do controle da asa móvel foram introduzidos para facilitar as ultrapassagens, mas vão complicar ainda mais a vida dos pilotos na hora do momento mais emocionante de uma corrida.

OPINIÃO DE QUEM JÁ CORREU NA F-1

Lucas Di Grasssi: "Na F-1 de antigamente, os engenheiros tinham acesso ao carro, mas agora o piloto tem de fazer tudo"
Ricardo Zonta: "Na época, não eram tantos botões, ainda estava em desenvolvimento. Agora, você pode alterar o comportamento do carro com poucos movimentos na mão"

“O ponto não é a quantidade de botões, mas tirar a atenção do piloto no momento da ultrapassagem para pensar que precisa apertar esse e aquele botão, ao mesmo tempo em que precisa controlar a velocidade e achar o ponto de freio na curva”, explicou Lucas di Grassi, ex-piloto da Virgin. “O acidente nessa situação seria o caso extremo, pode acontecer, mas não vai ser por causa disso”, ponderou.

Ultrapassar já era complicado antes dos novos botões, mas considerando que os comandos vieram para ajudar, o piloto Ricardo Zonta disse que não se importaria com o excesso de funções. O paranaense correu na Fórmula 1 entre 1999 e 2005, época em que o volante estava começando a ficar mais colorido. Em 2011, ele admitiu que a atenção precisará ser redobrada.

“Na minha época não eram tantos botões; agora existem mais detalhes. Na verdade, só mexemos em momentos de ‘tranquilidade’, quando entramos em uma reta, por exemplo. Em uma ultrapassagem, não mexemos em nenhum comando de ajuste. No caso do Kers e da asa móvel, os botões ficarão localizados próximos do polegar dos pilotos, então eles podem efetuar a manobra sem perder o controle do carro, explicou Zonta.

“Agora, se o piloto quiser usar o Kers, a asa, falar no rádio e acertar o diferencial ao mesmo tempo em que ultrapassa, ele terá muitos problemas”, completou o ex-piloto da Toyota, que atualmente corre na StockCar e no Mundial de GT1.

GLOSSÁRIO

KersSistema de aproveitamento de energia cinética (Kinetic energy recovery system). Armazena a energia das freadas em uma bateria, que proporciona aumento de potência para ultrapassar, de acordo com o acionamento do botão.
Asa móvelFormado por duas asas separadas, o aerofólio traseiro pode criar uma fresta para reduzir a resistência do ar à medida que o piloto aciona a separação das asas. O ganho de velocidade pode ser de 10km/h e ajuda em retas e ultrapassagens
Duto frontalTambém conhecido como F-duct, o dispositivo consiste em uma abertura na dianteira do carro que leva o ar para a parte traseira a fim de diminuir a pressão aerodinâmica nas retas. Recurso foi banido pelas equipes para 2011.
Controle de traçãoMecanismo que previne a rotação em falso das rodas pelo controle dos engenheiros da equipe, através de um sistema de mapeamento eletrônico do motor. Proibido na Fórmula 1 desde 2008.

A sobrecarga de funções causou reclamações até dos mais experientes, como Rubens Barrichello e Fernando Alonso. Para Di Grassi, no entanto, as inovações no volante de 2011 não chegam a ser um absurdo comparadas com o que já havia no ano passado: “Considerando o duto frontal, que tinha de tirar a mão para acionar, não chega a ser uma diferença tão grande. Os pilotos vão se adaptar aos botões a mais. Eles vão reclamar, mas vão usar da melhor maneira possível”.

Di Grassi explicou que o número de funções no volante está relacionado ao fim do controle de tração na Fórmula 1: “Todos esses botões existem porque não pode haver controle externo no carro que está na pista. Eles passam essa função via rádio, e o piloto ajusta o que tem que ajustar. Na Fórmula 1 de antigamente, os engenheiros tinham acesso ao carro via telemetria, mas agora é o piloto que tem de fazer”.

Mas, afinal, a reclamação no grid de 2011 é justa? A opinião dos ex-pilotos de Fórmula 1 é dúbia. Para Di Grassi, há sobrecarga, mas “tudo faz parte de um processo que vem se desenvolvendo nos últimos anos”.

Zonta segue a mesma linha: “É justa, partindo da premissa de que uma corrida depende do acelerador, freio, volante e braço do piloto. Mas, por outro lado, não é justa, por ser um esporte de alta tecnologia,. A história do duto frontal, quando os pilotos tiravam a mão do volante para tapar um buraco no cockpit a mais de 200 km/h pode ser uma irresponsabilidade, mas faz parte da função de ser um piloto. Somos preparados para isso”.

O QUE DISSERAM OS PILOTOS SOBRE O NOVO VOLANTE DA FÓRMULA 1

Barrichello: "O problema é que você tira o olho da pista. Como presidente da Associação dos Pilotos, vou continuar falando disso, mas acho que a FIA vai nos deixar praticar um pouco mais"
Hamilton: "Nós sempre estamos no limite. Estamos todos no mesmo barco, com exceção do pessoal que não vai usar o Kers. Para as equipes, o desafio é fazer isso o mais simples possível"
Bruno Senna: "Precisei de algumas voltas para me acostumar ao Kers e ao sistema de asa móvel, era realmente muita coisa para a cabeça. Depois, fica mais simples"
Massa: "Temos tantas coisas para fazer no volante e ainda precisamos pilotar o carro. Podemos fazer isso, mas do ponto de vista do piloto não é algo fantástico"
Alonso: "Não é a coisa mais fácil de fazer na saída das curvas. São novos botões no volante, mas já praticamos um pouco no simulador também. Em algumas voltas ativamos o Kers, e em outros a asa traseira. Aí começamos a fazer tudo ao mesmo tempo e a nos acostumar"

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