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Filme 'Rush' retrata Lauda x Hunt como maior rivalidade da história da F-1

Rivalidade entre o festeiro Hunt e o certinho Lauda está entre as maiores da F-1 na história - Divulgação
Rivalidade entre o festeiro Hunt e o certinho Lauda está entre as maiores da F-1 na história Imagem: Divulgação

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

02/09/2013 06h00

Esqueça a clássica tensão de Senna versus Prost, a eletricidade entre Piquet e Mansell ou mesmo a animosidade mais recente de Alonso contra Hamilton. Dirigido por cineasta famoso de Hollywood, o filme "Rush" entra em cartaz no Brasil no próximo dia 13 de setembro com esforço para retratar como a temporada de 1976 fez de Niki Lauda x James Hunt a rivalidade mais quente da história da Fórmula 1.

O filme do diretor Ron Howard mostra uma concorrência nascida ainda nas categorias de acesso à F-1, descrevendo a linha paralela de carreiras do obcecado austríaco acertador de carros e do agressivo piloto inglês, um "bon vivant" meio inconsequente. Mas o grande palco da trama se dá mesmo na dramática temporada de 1976, quando Hunt (McLaren) vence o campeonato por apenas um ponto, de virada, semanas após o acidente que quase tirou a vida de Lauda (Ferrari) no GP da Alemanha.

Se a rivalidade nos boxes da Williams entre Piquet e Mansell quase resvalava no folclore, o embate Lauda x Hunt oferecia mais em sua linha conceitual. Como "Rush" explora até em exagero, se tratava de um choque violento entre personalidades distintas e entre duas formas bem particulares de viver o automobilismo.

No filme, os personagens de Lauda (em ótima atuação do ator Daniel Brühl) e Hunt (Chris Hemsworth) são unidos unicamente pela obsessão de ser o melhor nas pistas. Mas as semelhanças param por aí, pois o estilo de vida antagônico dos protagonistas colidem em embates nas pistas, provocações nos boxes e bate-bocas nas calorosas reuniões oficiais de pilotos antes das provas. 

Hunt é um fanfarrão que vive cercado de mulheres exuberantes, que parte para cima de qualquer beldade (com sucesso), de enfermeiras a aeromoças. Mesmo nos boxes, o festeiro vive entre cigarros e álcool. No entanto, o filme não ignora seu talento como piloto, ainda que ressalte um traço de inconsequência na obsessão pelo primeiro lugar.

Por sua vez, Lauda é descrito no filme como o filho de uma rica família austríaca, que rejeita o futuro como homem de negócios em nome da aventura no automobilismo. Certinho, metódico e sem a habilidade de Hunt no trato com as pessoas (critica a Ferrari dentro de Maranello, por exemplo), o piloto constrói na F-1 a reputação de um especialista de engenharia. É um competidor capaz de tirar o máximo tecnicamente de cada carro e de deixar seus mecânicos esgotados de tanto trabalhar.

Em 1976, Lauda era o campeão defensor e dispara na liderança após as primeiras etapas. Mas, no meio da temporada, Hunt protagoniza uma impressionante reação e acirra a disputa. Este cenário se abala com o grave acidente do austríaco no GP de Nurburgring, quando ficou quase um minuto dentro do carro em meio a chamas. No hospital, o piloto da Ferrari chegou a receber a extrema-unção de um padre, mas acabou melhorando, em uma recuperação pautada por muita dor. Toda a pesada atmosfera destes anos de mortes na F-1 é bem reproduzida no filme.

Lauda ressurge no circo da F-1 apenas seis semanas depois do acidente, com o rosto parcialmente queimado, desfigurado. Mesmo assim, se recoloca na disputa pelo título. Na corrida final, no Japão, o austríaco contava com três pontos de vantagem sobre Hunt, mas abandonou a prova em razão da forte chuva, por temor de segurança. Por sua vez, o inglês encarou os riscos da pista molhada com arrojo e certa dose de inconsequência. No fim, conseguiu o terceiro lugar que bastava para ganhar seu único campeonato mundial [já Lauda se aposentaria em 1985 como tricampeão].

Responsável pelo vencedor de Oscar "Uma Mente Brilhante" e pelo sucesso de bilheteria "O Código da Vinci", Ron Howard consegue elevar o nível de "Rush" através das ótimas sequências de pista. Assim como fizera com as cenas espaciais em "Apollo 13", o cineasta atingiu um requinte técnico muito próximo da realidade nas disputas em velocidade, com ótimo som e câmeras rentes ao asfalto. No entanto, não deixa de emprestar ao filme uma porção carregada de sentimentalismo, em traço clássico do cinema de entretenimento americano.

Agora os aficionados por Fórmula 1 esperam que a rixa entre Senna e Prost migre do documentário, formato em que já foi retratada, para a ficção. Assim os multicampeões podem reivindicar o trono de maior rivalidade da F-1, no clima de guerra experimentado nos boxes da McLaren do final dos anos 80. Por enquanto, a magia do cinema confere este troféu a Hunt e Lauda.  

FILME MOSTRA DIRETORES DA McLAREN CORNETANDO FITTIPALDI

"Rush" apresenta na tela algumas referências ao Brasil, dentro do universo da Fórmula 1. No grid de largada do Grande Prêmio de Interlagos de 1976, por exemplo, o filme mostra passistas de escola de samba dançando entre os carros, com o batuque a todo vapor.

Mas a menção mais curiosa ao Brasil no filme vem em uma reunião de James Hunt com a cúpula da McLaren, antes da temporada de 1975. Os diretores da equipe ofendem Emerson Fittipaldi, que na época acabara de trocar a escuderia britânica pelo sonho da própria equipe, a Coperscucar. 

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