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Fórmula 1

Tarso Marques diz que peitava Alonso na Minardi: "piloto bom é egoísta"

Allan Simon e José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

24/09/2013 06h00

O brasileiro Tarso Marques correu três temporadas na Fórmula 1. Era piloto da Minardi, escuderia que deixou a categoria em 2005, e tem histórias com o atual "vilão" do automobilismo brasileiro: o espanhol Fernando Alonso, parceiro de Felipe Massa desde 2010. Marques, hoje com 37 anos, lembra que, na sua época, peitava as ordens que davam privilégios a Alonso. Mas entende que o piloto da categoria precisa se adaptar ao esquema empresarial. Ainda mais hoje em dia.

"Hoje tem que levar mala de dinheiro. Não tenho mais aquela vontade de correr na Fórmula 1 por sonho. Ou é ir pra ser competitivo ou não adianta ir", falou ao UOL Esporte.

Marques ganhou destaque então com apenas 19 anos, quando venceu corrida e fez pole na Fórmula 3000 de 1995, a principal categoria de acesso na época à Fórmula 1. Recebeu convite da Minardi. Correu lá em 1996, 1997 e 2001. Neste último ano, foi companheiro de equipe do espanhol, que mais tarde seria bicampeão mundial da F-1, quando já corria pela Renault. Foi o primeiro brasileiro a dividir uma escuderia com Alonso.

O brasileiro conta que teve que ceder posição ao companheiro várias vezes e até peitou em alguns momentos os chefes de equipe. Chegou até a desobedecer ordens, mas acabou cedendo depois. Mas não reclama e diz que isso fazer parte.

"Jogo de equipe tem que fazer. O piloto é uma peça, não é um super-herói. Tive que deixar o Alonso passar em várias corridas. Me falaram que iam me tirar da equipe se eu não deixasse. Ele [Alonso] sempre falava que é legal disputar, mas o dono da equipe dava esporro. Eu falava que não ouvi o rádio [quando davam ordens sobre a posição dos pilotos]".

O brasileiro diz ainda que o espanhol tinha um carro muito melhor por ter turbinado a equipe de patrocinadores, o que dava a ele muitos privilégios na Minardi. Mas nem isso faz com que critique o comportamento do ex-parceiro. Diz entender as regras da Fórmula 1 e ter bom relacionamento com ele até hoje.

 

"Me dou bem com ele até hoje. Tinha diferença de equipamento nos carros .Ele levava patrocínio para a equipe, tudo que tinha no carro era pra ele. Entendo e não era uma coisa escondida. Classifiquei duas ou três vezes na frente dele o ano inteiro. O meu carro tinha 30 kg a mais, 1000 giros a menos no motor. E um freio diferente. Tinha um pacote de aerodinâmica diferente. E o carro reserva era dele. Às vezes que eu fiquei na frente dele foi porque meu carro quebrou, andei no carro dele classifiquei melhor que ele", falou.

"Mas a gente tinha muito respeito um pelo outro. Ele fala que sou um piloto que ele respeita, um dos melhores. Os melhores resultados da Minardi naquele ano foram meus. Ele mesmo diz que foi sacanagem não me darem mais oportunidades. Mas era uma opção minha. Eu estava contratado", continuou.

Os números mostram que o brasileiro não está errado em algumas das lembranças. A melhor posição da Minardi naquela temporada foi a nona colocação, conquistada duas vezes por Marques, enquanto Alonso teve como melhor resultado uma décima posição. Na disputa interna, Marques levou a melhor em sete das 13 corridas que fizeram juntos. Apesar do jogo de equipe citado pelo brasileiro, a Minardi foi a única escuderia que terminou a temporada 2001 sem marcar pontos.

Tarso Marques vê com naturalidade que alguns pilotos não mantenham relação de amizade com companheiros de equipe por estarem brigando por um objetivo em comum. Por isso, defende um espírito "egoísta" como piloto, caso contrário, estará fadado ao fracasso.

"Eu não consigo ver essa amizade que tem entre pilotos. É hipocrisia falar que é amigo. Lá dentro é guerra. É um mundo egoísta e tem que ser assim. O piloto que não é egoísta não se dá bem. Todos os caras têm que ser assim. Ele está certíssimo, se não vai ser segundo piloto. Tem cara que nasceu para ser segundo piloto. Não é o caso dele (Alonso), do Schumacher,  que é centralizador e egoísta. Nunca se pode parar de querer tirar vantagem. Bonzinho não tem vez. É uma concorrência e o primeiro passo é derrubar é o cara ao seu lado, da sua equipe."

Estilização de carros

Tarso Marques tem atualmente uma vida de empresário em um ramo que começou a se aventurar por gosto pessoal e pelo qual viu que o mercado ainda poderia se desenvolver e oferecer melhores serviços: estilização de motos e carros.

Tinha uma moto modelo Harley Davidson e queria customizá-la. Mas depois de pagar para algumas empresas e sofrer com desculpas, atrasos e não entrega com qualidade do que queria, chegou um momento de ele mesmo abrir o negócio motivado por sua paixão no ramo. Assim surgiu a Tarso Marques Concept.

"Comecei porque eu gostava muito de carro antigo e não gosto de carro original. E de Harley. Isso era 92, 93, e não existia no Brasil. Comprei uma Harley fora, destruída. Leve pro Brasil e fui restaurando, modificando. Comecei a fazer em 94 uma Harley e um carro antigo", falou.

"Eu pedia pra customizar, pagava, brigava, mudava de oficina, mas ninguém fazia do jeito que eu queria em qualidade e prazo. Chegou uma hora que eu me irritei e contratei quatro funcionários de outras empresas para construir no meu escritório o meu carro e minha moto. Depois, pra não deixar o pessoal na mão, comecei a fazer carros para amigos. Apareciam encomendas", lembrou.

O negócio virou seu meio de vida a partir de 2004. Mas Tarso tem perfil exigente e perfeccionista e diz que chega até a recusar alguma demanda caso veja que não conseguirá entregar com a qualidade desejada.

"Se for carro que eu não gosto, nem pego. É muito demorado e complexo. Tem valor agregado alto e demora muito tempo. Como fazemos pouca quantidade, pego projetos bacanas e que gosto. Já falei pra cliente´ vai ficar horrível, não faço´. Se for bacana, faço na linha do cliente. Sempre ouço o que o cliente quer."

O entendimento no ramo fez com que fosse nomeado o embaixador da Feira Auto Esporte 2013, uma das maiores automotivas do país. Será realizada entre 21 e 24 de novembro, e terá o stand de sua empresa.
 

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