Di Grassi diz que 'quase todos pagam' na F-1, mas vê Massa como exceção
Lucas di Grassi disputou uma temporada completa pilotando a extinta Virgin, em 2010, além de mais dois anos como piloto de testes da Pirelli. Aos 29 anos, Di Grassi se diz desiludido com a principal categoria do automobilismo. Em entrevista ao UOL Esporte, o atual piloto da Endurance declara que praticamente todos os pilotos só estão empregados na Fórmula 1 porque pagam.
“A Fórmula 1 tem ótimos pilotos, isso é indiscutível, mas seria muito mais competitiva se tivesse menos ‘pagantes’. Dos 20 pilotos atuais, você tem uns 5 que estão lá porque são bons e outros 15 pagantes. Têm muitos pilotos que não poderiam estar, enquanto nomes como Heidfeld, Kobayashi e Kovalainen estão fora da categoria”, disse Di Grassi.
Ele abre exceção a Felipe Massa, recém contratado pela Williams.
“Eu conheço a história do Felipe [Massa]. Tudo o que ele conseguiu foi por seu esforço e dedicação. Ele passou dificuldade para chegar à Fórmula 1, não teve alguém por trás com muito dinheiro”, complementa.
Na época em que perdeu posto na Virgin, Di Grassi deu entrevista à rádio Jovem Pan dizendo que sua vaga foi comprada pelo substituto (Jerome d’Ambrosio). O piloto brasileiro afirma ter feito a escolha certa ao migrar para a Endurance (competição com carros de turismo).
Recentemente, outro piloto brasileiro engrossou o coro contra o sistema atual da Fórmula 1. O baiano Luiz Razia usou as redes sociais para ironizar uma suposta tentativa da Toro Rosso (controlada pelos investidores da Red Bull) de buscar pilotos endinheirados.
UOL Esporte – Como você analisa a Fórmula 1 atual?
Di Grassi - Sempre houve histórias de pilotos que pagaram. O filme Rush apresentou o Lauda pagando para correr nos anos 70. Não é novidade. Mas antes eram algumas equipes de médio e pequeno porte que aceitavam. A McLaren e a Williams, por exemplo, jamais aceitariam até pouco tempo atrás um piloto por ser pagante. Mas hoje a Williams está quebrada. Não sei se o Maldonado estaria na Williams se não tivesse patrocínio. O mesmo acontece com a McLaren com o Perez.
Na Indy é mais pagante que na Fórmula 1. O Rubens Barrichello, apesar de todo histórico na Fórmula 1, precisou levar patrocinadores para correr, senão não o aceitariam. Na Endurance também tem, mas as grandes equipes são compostas por montadoras, que querem os melhores pilotos para buscar títulos
Nota da redação: Os pilotos mexicanos Sergio Perez (McLaren) e Esteban Gutiérrez (Sauber) contam com o apoio do bilionário Carlos Slim, um dos homens mais ricos do mundo, segundo a Forbes. Pastor Maldonado (Williams) é patrocinado pela petrolífera estatal venezuelana PDVSA.
UOL Esporte – E qual seria a explicação para a maior necessidade da F-1 no dinheiro de pilotos?
Di Grassi - O corte de recursos oriundos de empresas de cigarros e bebidas fez com que as montadoras aos poucos reduzissem seu investimento na Fórmula 1. E para sobreviver sem o dinheiro do cigarro e em meio à fuga de montadoras, a categoria deu espaço a “equipes produtos” e pilotos patrocinados.
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Total de 2818 votosUOL Esporte – Como você vê a relação “piloto + patrocínio”?
Di Grassi - Não é demérito um piloto ter um patrocínio. O Maldonado tem o apoio do governo da Venezuela. O Alonso para onde for terá o Santander patrocinando. O conjunto ‘bom piloto e patrocínio’ é fundamental. Mas a metade das equipes está quebrada. E o lado financeiro, infelizmente, é colocado como fator principal.
UOL Esporte – Mas não existem “pagantes” também na Endurance ou Indy, por exemplo?
Di Grassi – Na Indy é mais pagante que na Fórmula 1. O Rubens Barrichello, apesar de todo histórico na Fórmula 1, precisou levar patrocinadores para correr, senão não o aceitariam. Na Endurance também tem, mas as grandes equipes são compostas por montadoras, que querem os melhores pilotos para buscar títulos.
A Fórmula 1 tem ótimos pilotos, isso é indiscutível, mas seria muito mais competitiva se tivesse menos 'pagantes'. Dos 20 pilotos atuais, você tem uns 5 que estão lá porque são bons e outros 15 pagantes. Têm muitos pilotos que não poderiam estar
comenta Di Grassi, que correu na categoria em 2010UOL Esporte – Você se sente incomodado por não estar na Fórmula 1?
Di Grassi – De forma alguma. Eu estou muito feliz na Endurance competindo pela Audi, uma grande equipe e que disputa títulos. Eu faço o que gosto e não pago para correr. Prefiro estar disputando o Mundial de Endurance, que tem enorme prestígio na Europa, do que estar em uma equipe da Fórmula 1 como pagante.
UOL Esporte – As alterações nos motores e tecnologia dos carros para o próximo ano contribuirão para o encarecimento da Fórmula 1?
Di Grassi – Sem dúvida. A tendência é ficar ainda mais cara a Fórmula 1 e, consequentemente, ter mais pagantes a partir da implantação das mudanças previstas nos carros. Haverá maior necessidade de apoio financeiro.
UOL Esporte – E como você projeta a Fórmula 1 para daqui alguns anos?
Di Grassi - A médio prazo, a Fórmula 1 terá menos apelo, porque será ainda menor o espaço para os pilotos de talento. A Globo fez chamadas recentes na TV convocando as pessoas para assistir às corridas. Isso até anos atrás não precisava.
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